🛟 Capítulo 41 🛟 Momentos

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Giovanna:

Já perdi as contas de quantas vezes nessa vida já chorei perto do Renato. Acho que ele já se acostumou a ver meu rosto inchado, meu nariz vermelho escorrer e meus olhos empoçados de lágrimas.

Não sei explicar o que aconteceu comigo esta noite. A pregação do Cléber entrou no meu coração de uma forma que parece ter estremecido tudo aqui dentro.

Ele tem razão, ou melhor, o Espírito Santo que fala através dele, tem razão.

Cansei de ficar "confortável". De ser envolvida por essa dor que parece engolir tudo de bom que eu já tive. Os momentos com Deus, com a minha família, amigos e igreja... Tudo! Todos eles foram levados pela avalanche chamada luto. E como um cadeado sendo destrancado, a minha dor sumiu através dessa pregação.

Sei porque sinto isso aqui dentro. Me sinto livre dessa prisão.

Meu irmão não foi esquecido por mim. Nem por Deus. E eu posso honrá-lo enquanto estou aqui, assim como meus pais fazem no trabalho deles.

Definitivamente a Giovanna não vai mais viver nesse ciclo, não mesmo! Não sei o que Deus vai fazer ou que atitudes eu vou tomar, mas eu tenho certeza que, hoje, tudo isso chega ao fim.

Fiquei tão impactada quando a Palavra veio de encontro à mim, que eu descontei no Renato. Eu não queria ter reagido daquele jeito, mas vê-lo aqui, cansado, evidentemente se esforçando, lutando contra a própria saúde acionou gatilhos na minha mente que me fizeram mal no momento.

Agora nós dois estamos aqui, sob a luz da lua, observando o rio. Ele quis dar um "passeio" e fez bem, esse é um dos lugares mais bonitos que temos. O rio faz um leve barulhinho como se as suas águas cochichassem entre si. O contraste entre o brilho do céu e a margem é lindo e dá uma visão perfeita. Ficaria horas só observando essa imagem digna de um quadro.

- Como você está se sentindo? - perguntei, me tirando do transe da paisagem. Sentamos lado a lado com as costas apoiadas no tronco de uma grande árvore que eu não sei dizer o nome.

- Por dentro ou por fora? - Renato responde deixando uma rápida risada.

- Por enquanto quero saber sobre sua saúde.

- Eu estou consideravelmente bem. - ele olhou em volta tirando seus olhos verdes da minha visão.

- O fato de você não usar o simples "estou bem" me preocupa, sabia?

Renato respira fundo e passa as mãos pelo cabelo castanho baixo. Ele sempre faz isso quando algo o incomoda.

- Sinto umas dores aqui e ali, mas vai passar, linda. Eu só preciso... - o homem apoia as mãos no chão, gira o corpo e lentamente vai se deitando na grama fofa e verdinha. - Deitar. Viu, não sinto mais nada.

Virei a cabeça para o lado e segurei os lábios num biquinho para não sorrir. É incrível como ele nunca dá o braço a torcer. Batuquei na minha própria perna pensando no que dizer, enquanto Renato suspirou de satisfação ao permanecer deitado. Era difícil não ficar admirando esse homem lindo, deitado e iluminado pela luz natural e não sentir vontade de fazer o mesmo ao lado dele.

Balanço a cabeça dispersando esses pensamentos. As vezes a mente da gente dá uma viajada na maionese né?

- Tenho a leve impressão de que você estava olhando para mim? - Renato diz com apenas o olho direito aberto, como se o outro estivesse sob o brilho do sol. Ficou engraçado.

- Só impressão mesmo. - desvio rapidamente os olhos olhando para o lado.

Renato deixou uma risada fofa e preguiçosa escapar, que brincou com os batimentos do meu coração.

O Poder de um Resgate 🛟 - Romance cristãoOnde histórias criam vida. Descubra agora