• RG
- noite passada -
Acordei com um barulho alto vindo do andar de baixo. Levantei da cama e vi que meus irmãos ainda dormiam tranquilos. Caminhei para fora do quarto e desci as escadas devagar, evitando fazer barulho. Parei no último degrau ao ouvir um grito da minha mãe. Olhei rapidamente para o local e vi meu pai segurando seus cabelos com força enquanto brigava por algo. Corri em direção a ela.
- PAPAI, SOLTA A MAMÃE! - gritei.
Senti minha bochecha arder e meu corpo ser empurrado para trás. A mão pesada do homem havia atingido meu rosto em um tapa forte e dolorido. Minha mãe foi jogada para o lado, e ele veio em minha direção. Encolhi o corpo, sentindo-o tremer com a aproximação dele. Meu braço foi agarrado por suas grandes mãos, e mais um tapa estalou em meu rosto
Elton: - QUEM DIABOS VOCÊ ACHA QUE É PARA ME DIZER O QUE FAZER, SEU PIRRALHO DE MERDA? - ele apertou meu braço com tanta força que me fez gemer de dor.
Minha mãe correu para nos separar, tentando impedir a agressão, mas assim que ela se aproximou, o monstro a empurrou com violência, fazendo-a colidir com uma estante que continha pratos, copos e taças de vidro. Com o impacto, o armário se abriu, e tudo que estava ali caiu sobre minha mãe.
- MÃE! - gritei, sentindo as lágrimas rolarem pelas minhas bochechas. Me debati nos braços do meu pai, tentando me soltar, enquanto olhava minha mãe caída no chão, com o corpo coberto de sangue. Ao mover o olhar pelo cômodo, vi Dani e Gui na escada; Dani abraçava Gui com força, tentando impedir que o mais novo visse toda aquela situação. Seu rosto estava molhado de lágrimas, e seus olhos arregalados mostravam medo.
Senti meu corpo ser jogado contra a mesa de centro, e gemi de dor ao sentir minha cabeça latejar com o impacto...
- sonho off -
Acordei assustado, sentindo meu coração disparado, martelando contra a minha caixa torácica. Minha respiração estava ofegante e meu corpo tremia. Mais uma vez, eu havia sonhado com aquele monstro. Levantei da cama, sentindo minha cabeça latejar. Apoiei-me na cômoda ao lado da cama e, ao me levantar, acabei derrubando o abajur. O som estridente do vidro quebrando ecoou pelo quarto. Caminhei lentamente até o local e senti um caco perfurar minha pele, fazendo um ardor subir pelo meu corpo. Encostei-me na parede e deslizei até o chão, permitindo-me chorar enquanto sentia uma dor profunda no peito.
Dani: Re, você está bem? - ouvi a voz da menina baixinho.
- Sim - foi a única coisa que consegui responder.
- Que barulho foi esses Renato?
Ouvi a maçaneta girar, mas, graças a Deus, eu havia trancado a porta antes de dormir. Uma segunda voz se fez ouvir do lado de fora, e logo tudo voltou a ficar em silêncio. Lágrimas ainda escorriam pelas minhas bochechas, e uma dor imensa preenchia meu peito, enquanto soluços baixos escapavam da minha boca.
• Na manhã seguinte •
Acordei com a cabeça explodindo. Levantei da cama e vi a bagunça de cacos de vidro espalhada pelo chão. Assim que coloquei o pé no chão, senti uma dor e percebi que um caco havia ficado preso ali. Peguei uma pinça na gaveta da cômoda e comecei a remover o caco com cuidado. Quando consegui tirá-lo, calcei meus chinelos e me levantei, precisava arrumar a bagunça antes que alguém visse. Após um longo tempo, terminei de limpar o quarto. O dia já clareava, e a luz começava a iluminar o cômodo. Tomei um banho relaxante, fiz minha higiene bucal e me vesti para ir à escola. Sentei-me em frente ao computador por alguns minutos para terminar um trabalho. Lá embaixo, já estava tudo agitado, provavelmente minha mãe e o Luiz já estavam tomando café. Desliguei o computador e desci, dei um "bom dia" simples para os dois e me sentei à mesa. Estava sem vontade de comer, mas sabia que dona Irene iria implicar se eu não comesse antes de sair.
- Já na escola -
Leonardo ia entrando na escola à minha frente. Esperei a multidão passar para então sair do carro. Ao entrar, senti os olhares de todos se voltarem para mim, acompanhados dos costumeiros sussurros. Uma voz fina chamou meu nome e, ao se aproximar, revirei os olhos e respirei fundo.
Amanda: Oi, rezinho! Como você está? Por que está com essa cara logo de manhã? Mas, mesmo emburrado, continua lindo.
— Me solta! — Ela estava agarrada em meu braço enquanto falava.
Amanda: Poxa, Rê, você é tão chato! — Amanda bateu os pés, fazendo bico com seus lábios rosados.
Rê: Se você ficar longe de mim, eu garanto que não vou ser chato! — Dei um beijo rápido nos lábios dela. — Já te falei mil vezes que a gente não namora; combinamos só ser foda fixa.
Amanda: Como assim não namoramos? E por que você me beija do nada na frente de todo mundo? Você ao menos pensa em me pedir em namoro um dia?
Rê: A gente não namora, e eu te beijo porque você é gostosa e eu estou sempre com tesão. Não é à toa que já transamos várias vezes na escola. E, respondendo à sua última pergunta, não, não tenho a menor intenção de te pedir em namoro. — Os olhos de Amanda se encheram de lágrimas, e sua mão veio em direção ao meu rosto, mas fui mais rápido e segurei seu pulso.
Amanda: Você é um idiota, um escroto! Espero que ninguém nunca te ame e que sua vida seja solitária, seu pedaço de merda inútil.
Rê: Obrigado pelas belas palavras, gatinha! Espero que nunca mais chegue perto de mim e pare com esse chilique sem sentido no meio do pátio. — Olhei ao redor e vi todos nos observando, cochichando uns com os outros sobre a cena. — Tenha um bom dia! — Sai andando em direção à minha sala, deixando Amanda plantada no meio do pátio.
As primeiras aulas passaram, mas, embora eu nunca tenha sido um aluno muito aplicado, dessa vez não conseguia prestar atenção nem querendo. Minha cabeça latejava, e flashes do sonho da noite passada invadiam minha mente. Quando o sinal do intervalo tocou, juntei minhas coisas e saí da sala para encontrar meus amigos, que estudavam em outras turmas. Ao passar por um corredor mais afastado, vi um grupo de meninos rindo e fazendo um círculo em volta de alguém. Eu ia seguir em frente, mas reconheci uma voz e me virei rapidamente.
— O que vocês querem de mim? — A voz embargada era inconfundível. Me aproximei e vi que era o Léo, que estava sendo segurado por um dos garotos, com o rosto dele encostado no pescoço do Léo. Uma raiva me dominou, e parti para cima deles.
— Soltem ele! — Os garotos se viraram para mim com os olhos arregalados. — Vocês são surdos? Eu mandei soltar ele!
??: Por que você tá se preocupando com essa puta, Renato? Por acaso ele é seu... — Não deixei o garoto terminar e dei um soco nele.
— Puta é você, que já se envolveu com a escola inteira! Agora soltem o Leonardo, caralho! — Me aproximei do cara que segurava o Léo, e ele finalmente o soltou. Léo correu para trás de mim. — Agora sumam daqui!
Eles saíram correndo do corredor, e um soluço ecoou pelo local. Virei para trás e vi o Léo chorando, desesperado. Sem saber o que fazer, apenas o abracei desajeitadamente.
— Você quer ir para casa?— Vi o menino assentir várias vezes com a cabeça. Tirei meu casaco e coloquei sobre a cabeça dele, abracei-o de lado e seguimos em direção à saída. Inevitavelmente, passamos por várias pessoas fofoqueiras, mas eu não ligava para isso no momento; só queria levar o Léo para casa o mais rápido possível.
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𝗢𝗶𝗶, 𝗴𝗮𝘁𝗶𝗻𝗵𝗮𝘀 𝗲 𝗴𝗮𝘁𝗶𝗻𝗵𝗼! 𝗗𝗲𝗺𝗼𝗿𝗲𝗶, 𝗺𝗮𝘀 𝘃𝗼𝗹𝘁𝗲𝗶, 𝗾𝘂𝗲𝗺 𝗴𝗼𝘀𝘁𝗼𝘂??
𝗗𝗲 𝗿𝗲𝗰𝗼𝗺𝗽𝗲𝗻𝘀𝗮 𝘁𝗿𝗼𝘂𝘅𝗲 𝘂𝗺 𝗲𝗽 𝗺𝗮𝗶𝗼𝗿 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝘃𝗼𝗰ê𝘀.
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Meu meio irmão - Leonato
Hayran KurguRenato Garcia sempre foi uma criança alegre que espalhava felicidade por onde passava. Porém, há quatro anos, ele se tornou uma pessoa fria e reservada. O motivo? Seus pais passaram a brigar muito, e as discussões e agressões por parte do pai mexera...