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16 de Outubro de 2016 - 18h16

Hospital, Redwood - Califórnia


Seus olhos se abriram lentamente e ele piscou algumas vezes, tentando trazer o mundo ao foco, mas tudo ao redor se mantinha enevoado, desfocado, como se ele observasse a realidade através de um véu espesso. Ewan sentia seus olhos pesados e o simples ato de olhar em volta exigia um esforço que seu corpo relutava em oferecer.

O ar ao redor era frio, carregado de um cheiro estéril e artificial que o fazia franzir levemente o nariz, despertando nele uma lembrança vaga e incômoda. O zumbido baixo e constante de máquinas preencheu seus ouvidos, e, pouco a pouco, as luzes fortes acima começaram a delinear o ambiente ao seu redor. Quando sua visão se ajustou, Ewan percebeu que estava em um quarto de hospital.

Ele tentava puxar uma lembrança, qualquer fragmento que explicasse o que havia acontecido e como ele havia chegado ali, mas sua mente vagava em círculos e tudo o que encontrava era um vazio assustador. Cada esforço mental era como um eco que se dissipava, deixando-o mais confuso e agitado. Ewan tentou se mover, mas um puxão suave o segurou no lugar, e, ao olhar, ele viu que tubos e fios o conectava a diversos aparelhos e bolsas de soro penduradas ao lado da cama. Ele percebeu que havia uma dor constante e distante, abafada por uma sensação de dormência em seu corpo que ele associou aos remédios intravenosos.

Cada vez mais angustiado por não se lembrar de nada, Ewan tentou gritar por alguém, mas sua voz saiu rouca, quase um sussurro, sem força. Foi então que uma sombra apareceu em seu campo de visão. A porta abriu-se lentamente, e uma enfermeira entrou, trajando o uniforme branco impecável e com um semblante calmo e experiente. Ao vê-lo acordado e visivelmente perturbado, ela apressou-se até a beira da cama, colocando a mão de leve em seu ombro numa tentativa de tranquilizá-lo.


— Calma, querido. Está tudo bem agora. — Ela disse, com uma voz baixa e cuidadosa.

— O que... O que aconteceu? — A voz de Ewan saiu trêmula enquanto ele olhava para ela com confusão evidente em seu rosto.


A enfermeira segurou a prancheta ao lado da cama, lançando-lhe um olhar compassivo.


— Eu não.. Não me lembro.. — Ele deixou escapar, em um fio de voz. Ewan sente que sua garganta está seca e fraca, como se tivesse passado uma eternidade sem usá-la.


Mas o pior era o estado de sua mente. Parecia em branco, um vazio denso. As memórias surgiam como flashes dispersos, mas nenhuma fazia sentido completo. Ele tentou se lembrar de como tinha chegado ali, mas só encontrou fragmentos: uma estrada deserta, a sensação de alguém o perseguindo, uma respiração ofegante. De repente, flashes de dor lancinante, um som abafado de grito, o cheiro metálico de sangue. E depois... nada. Era como olhar para uma pintura borrada, tentando identificar figuras em meio ao caos das cores.


— Não se preocupe, querido. — A enfermeira percebeu sua expressão confusa e o tocou de leve no ombro, tentando confortá-lo. — Está tudo bem agora. Você está seguro.

Mas a palavra "seguro" não parecia ter sentido. Ele olhou ao redor da sala, ainda sem entender por que cada lembrança parecia uma peça desconexa de um quebra-cabeça. Cada tentativa de lembrar lhe trazia uma angústia crescente, um vazio que parecia maior quanto mais tentava alcançar suas memórias.

Ewan fechou os olhos, tentando buscar algo que fizesse sentido, uma lembrança que não fugisse como areia entre os dedos. Mas tudo o que conseguia eram vislumbres, fragmentos de terror que se recusavam a encaixar. Imagens escuras surgiam e desapareciam como um filme danificado: uma sombra, um brilho cortante de metal, seu próprio grito abafado. Nada era sólido. Tudo parecia se dissolver no momento em que tentava entender.


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⏰ Última atualização: Nov 11 ⏰

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