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29 de Setembro de 2016 - 07:47

Casa da família Carey - Redwood, California.

O aroma torturante de brownies recém-assados flutuou para o quarto de Emily enquanto ela examinava o rosto no espelho do banheiro. Seus olhos estavam inchados e uma espinhazinha brilhava rosada acima da sobrancelha esquerda. Emily vasculhou a bolsa de cosméticos procurando pelo corretivo, passou de leve sobre a espinhazinha e abaixo dos olhos, em suas olheiras profundas, em seguida selou a maquiagem com pó compacto e passou um pouco de brilho claro nos lábios.

Emily voltou ao quarto, o chão de madeira estava tomado por vinte fotos em preto-e-branco, livros de diversos autores clássicos e uma cópia do blu-ray de "O Babadook". Ela ignorou a bagunça e deixou o local.

Emily estava terminando de descer as escadas em direção a sala quando ouviu as vozes no andar de baixo.

— Estamos oficialmente lidando com outro possível assassinato, então? — A voz preocupada de Erica chamou sua atenção. Ela desceu cuidadosamente os últimos degraus e se escondeu atrás da porta que separava a sala da cozinha. Emily espiou pela pequena fresta e viu sua mãe servir um café ao homem que estava apoiado na bancada da cozinha, repassando uma documentação para ela.

— Fiquei acordado a noite toda estudando a necrópsia, xerife. As marcas de ligadura, as vértebras deslocadas, a laringe esmagada, não se vê esse tipo de trauma ao se enforcar em um parapeito de dois metros e meio. — Respondeu o homem que Emily identificou como o médico legista do necrotério da cidade.

— Está me dizendo que alguém arrumou o corpo de Katherine Hill para fazer parecer com um suicídio? Por que fariam isso? — Erica indagou.

— Gostaria de saber, xerife. Mas infelizmente não tenho essa resposta. — Lamentou ele.

— Merda. O enterro foi há dois dias, a família Hill ainda nem teve tempo de começar a processar o luto, vai ser muito difícil abrir a investigação de assassinato. — Bufou Erica, passando as mãos trêmulas pelos fios de cabelo avermelhado. — Obrigada por vir aqui esclarecer isso, Nick.

Emily esperou ouvir a porta dos fundos ser aberta para finalmente atravessar a porta.


— Bom dia, mãe. — Emily se aproximou e deixou um beijo na bochecha de Erica, a xerife rapidamente fechou a pasta deixada pelo colega e afagou os cabelos da filha com a mão livre.

— Bom dia, querida. — Erica abriu um sorriso caloroso, então apontou para a bandeja sobre o fogão. — Fiz alguns brownies, pode colocar em um pote e levar alguns para o colégio se quiser.

— Obrigada. — Emily agradeceu, pegando um dos deliciosos brownies e dando uma grande mordida. — As meninas amam seus brownies... Não tanto quanto eu, mas elas amam também. — Brincou, limpando o canto da boca com o polegar.

— Eu sei, por isso fiz pensando em você e nas meninas. — A xerife colocou a pasta debaixo do braço e ajustou o uniforme da polícia. — Preciso ir, ficarei na delegacia até mais tarde de novo. — Ela se aproximou e depositou um beijo na testa da filha.

— Mãe.. Tá tudo bem? — Emily perguntou, receosa.

— Sim, querida. Por que não estaria?

— Por nada.


Emily suspirou e acenou para a mãe, enquanto a mesma deixava a cozinha. Embora já soubesse que sua mãe manteria em segredo a informação que havia acabado de receber, ela não poderia deixar de perguntar e dar a chance de Erica contar a ela a verdade em primeira mão. Emily achava decepcionante e frustrante ser filha da xerife, embora seus amigos achassem a coisa mais irada do mundo, sua mãe passava pouco tempo com ela, pois estava sempre ocupada com o trabalho, e mesmo quando estava presente, sua mente permanecia na delegacia, sempre alheia aos acontecimentos à sua volta e aos assuntos que Emily tentava inserir em suas conversas e momentos a sós, fora isso, Erica constantemente mantinha Emily no escuro, sem saber detalhes ou informações mais simples de seus casos, seus amigos sempre a pressionavam para saber sobre todos os tipos de crimes que aconteciam na cidade, mas ela nunca tinha respostas, pois sua mãe fazia o máximo para manter todas as informações guardado a sete chaves.

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