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06 de Outubro de 2016 - 12:24

Delegacia - Redwood, Califórnia.

Milly estava diante do espelho no vestiário da delegacia. Sua aparência era lamentável e deprimente. O cabelo estava bagunçado, o rosto estava vermelho e inchado de tanto chorar e a maquiagem estava borrada. As roupas ensanguentadas faziam parecer que ela havia saído de um filme de terror. E o pior de tudo, ela não conseguia nem olhar
para a própria cara. Estava com raiva até de si mesma. A culpa a estava corroendo.



— Querida, tudo bem aí dentro? — A voz de Jenna ressoou do lado de fora do vestiário. Jenna insistiu para entrar com ela e ajudá-la, mas Milly decidiu que era capaz de se limpar sozinha, ela precisava de um tempo sozinha. — Filha.. Você precisa de ajuda? Tá tudo bem?

— S-sim, tudo bem. — A voz dela saiu embargada e entrecortada, e só então ela se deu conta de que havia voltado a chorar e que provavelmente o barulho de seu choro havia chegado do lado de fora e preocupado Jenna. — Estou bem.



Milly se afastou do espelho e foi em direção a primeira cabine com o chuveiro. Sua toalha já tinha sido pendurada ali por Jenna, e o sabonete e a esponja estavam em uma saboneteira. Ela tirou a camiseta e a enfiou em uma sacola, mas teve dificuldades para tirar a calça, quando finalmente se viu livre da peça, se surpreendeu ao perceber que o sangue havia atravessado o tecido e que suas pernas estavam tão manchadas quanto seus braços. Engolindo em seco, ela se livrou da calcinha e do sutiã e pôde finalmente entrar na cabine e ligar o chuveiro.

Milly ficou chorando embaixo da ducha morna por alguns minutos, aproveitando-se do som da água e do chuveiro para soltar seus soluços sem ser interrompida. Ela se recompôs um pouco ao se lembrar de que não poderia ficar tanto tempo ali, então pegou a esponja e o sabonete e passou a esfregar pelo corpo para se livrar do sangue.

O cheiro úmido e metálico em sua pele embrulhava seu estômago e mesmo que esfregasse a esponja até sentir a pele arder, parecia não se livrar disso. Milly sentiu o pânico aumentando em seu peito conforme via a água vermelha descer pelo ralo e ainda assim o cheiro permanecer, não apenas o cheiro como uma boa parte do sangue parecia impregnado em sua pele.

Tomada pelo desespero, Milly alcançou a saboneteira e com um grito, atirou contra o grande espelho que se quebrou em estilhaços. Ela caiu de joelhos no piso frio em seguida e tombou o corpo contra a parede da cabine.



— Amelia! — Jenna escancarou a porta do vestiário e adentrou às pressas assim que ouviu o som do espelho sendo quebrado. — Filha.. — Ela sentiu o coração se apertar ao encontrar a garota naquela situação. Encolhida debaixo do chuveiro e chorando descompassadamente. — Tudo bem, tudo bem, querida. — Sem se importar em se molhar, Jenna se abaixou ao lado de Milly e afagou-lhe as costas.

— Eu não pude fazer nada, nada! — Milly gritou. Lágrimas escorriam pelo rosto e se misturavam com a água do chuveiro.

— Ah, querida..

— Ele estava nos meus braços, tremendo, sangrando e com dificuldade pra respirar, ele estava sofrendo por minha causa e eu não pude fazer nada por ele, não pude tirar a dor dele, não pude fazer nada além de mentir dizendo que ele ia ficar bem! — Ela estava soluçando, tentando conter o choro. — Eu não pude salvá-lo, ele morreu e a culpa é toda minha!

—  Você tentou salvá-lo, querida, você tentou. Acredite em mim, eu sei como é essa sensação. — Disse Jenna. — Também passei por isso e infelizmente assim como você também não consegui salvar todos que amava. Mas você não tem culpa disso, o psicopata que está fazendo tudo isso é o único culpado e acredite, ele vai pagar por isso.

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