07 de Outubro de 2016 - 00h25
Casa da família Alcock - Redwood, Califórnia
Milly não conseguia dormir, então abriu a primeira gaveta da penteadeira e remexeu lá dentro até encontrar o que procurava. Era uma foto dela com Ewan. Eles pareciam tão felizes. E estavam. Eles eram felizes. Ele estava segurando uma cerveja e olhava para ela, ela estava abraçada na cintura dele e ria tanto que era possível ver suas amídalas na foto. Estavam sentados numa rocha gigante à beira de um lago. Ela achava que tinha sido America que tirara a foto. America, sua amiga, que agora também estava morta.
Ela tocou o rosto sorridente de Ewan na fotografia. Ainda podia ouvir sua voz alta e clara. Ainda o ouvia daquele seu jeito, ao mesmo tempo, romântico e tímido:
— Milly.. — Ele chamou, esticando-se para descer da rocha e inclinando-se para pegar uma pedra com a mão livre. Ele deu alguns passos em direção ao lago e lançou a pedra na superfície. Ela pulou uma, duas, três vezes antes de afundar. — Você já pensou em deixar tudo para trás?
Milly puxou as pernas que estavam esticadas e abraçou os joelhos. Ela olhou para ele e se pegou pensando na briga de seus pais na noite anterior. Na voz de sua mãe erguendo-se pela sala e através da escada, as palavras incompreensíveis, mas o tom venenoso. Pensou no pai saindo de casa, perto da meia-noite, a porta fechando sem fazer barulho atrás dele.
— Você quer dizer, tipo, fugir?
Ewan ficou em silêncio durante um bom tempo. Pegou outra pedra e a jogou na superfície do lago. Ela quicou duas vezes e afundou.
— Sim. — Disse ele. — Ou, sabe, tipo, acelerar o carro até o abismo e não olhar para trás. Sei lá, tenho pensado muito nisso ultimamente.
Milly ficou olhando o sol se pôr e pensou naquilo.
— É. Acho que todo mundo pensa nisso às vezes..
Ewan se virou para ela e seus lábios se curvaram em um sorriso curto e triste. Ele tomou o resto da sua cerveja e jogou a garrafa no saquinho de lixo que estava no chão.
Ele se inclinou sobre ela e roçou seus narizes, fazendo ela rir e então a agarrou pela cintura. Ele a ergueu até que seus pés saíram do chão e Milly não pôde evitar o grito que saiu como uma gargalhada. Ele a beijou e ela sentiu seu corpo tão eletrificado junto ao dele que os dedos dos pés formigaram. Foi o segundo beijo deles e parecia que ela tinha ficado esperando por toda a eternidade ele fazer isso de novo.
— Ah não.. Que droga. — Ela resmungou no meio do beijo.
— O que foi? — Ewan franziu o cenho, preocupado que algo estivesse errado.
— Acho que estou afim por você. — Ela admitiu com as bochechas coradas e então ele abriu o sorriso mais lindo que ela já viu.
— Que bom. Porque eu estou muito, muito afim de você. — Disse ele, dando ênfase no “muito”.
Ela podia jurar que quando tocou seu rosto na fotografia, o ouviu repetir aquilo de novo. Ela quase podia sentir ele no quarto com ela.
Milly segurou a foto contra o peito e jogou o corpo de volta na cama. Deitada, ela afundou a cabeça no travesseiro e se permitiu chorar novamente, dessa vez com a consciência tranquila de que seus pais e seu avô já estavam em um sono profundo e não iriam acordar com os sons de seus soluços.
Ela estava chorando por Ewan, por America, por Katherine e por todos que perderam a vida recentemente. Ela sentia que tinha chegado ao limite. Agora ela entendia Ewan e a razão por ele ter tentado colocar um fim na própria vida. Toda aquela dor era insuportável e pesada demais para carregar, Milly se pegou pensando que talvez o suicídio fosse uma saída para aquele sentimento terrível que a dominava.
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𝐒𝐂𝐑𝐄𝐀𝐌
FanfictionQuando os adolescentes de uma pacata cidade na Califórnia se tornam alvos de um assassino mascarado, uma série de assassinatos que ocorreram no passado reacendem na memória dos moradores de Redwood e eles percebem que há um novo serial killer imitan...