003.

272 35 251
                                    

25 de Setembro de 2016 - 23h25.

Casa da família Alcock - Redwood, Califórnia.

Sentada na sacada de seu quarto, com um violão, um caderninho e um lápis, a garota loira sentia o vento e a brisa suave fazer cócegas em sua pele. As cortinas que pendiam a porta da sacada sacudiram de forma sutil, entrando e saindo do quarto dela.

Amelia May Alcock - ou apenas Milly, como era conhecida pelos mais próximos - colocou o lápis atrás de sua orelha e deixou o violão de lado, incomodada por não conseguir compor uma única melodia. Música era sua maior paixão desde que ela se entendia por gente, começou a cantar e aprendeu a tocar violão e piano quando ainda criança e costumava se apresentar em coros de igreja que sua família frequentava. Ela sentia que só conseguia se expressar de forma verdadeira e honesta através da música, então estar em um bloqueio criativo que não a permitia escrever nem uma estrofe era uma grande tortura.


— Você já deveria estar dormindo, mocinha. — Milly virou a cabeça em direção a voz que ecoava da porta de seu quarto. Jenna, sua mãe estava apoiada no batente da porta com uma colher suja de molho de tomate em uma mão e um celular na outra, ela olhava para o celular e o molho na colher estava quase pingando no chão.

— Mãe.. — Milly franziu o cenho. — Está quase sujando o chão.

— Oh! — Jenna exclamou, guardando rapidamente o celular no bolso e colocando a mão agora livre embaixo da colher para conter o molho que caía. — Estou fazendo lasanha. — Anunciou.

— Às onze da noite? — Questionou Milly.

— Recebi uma mensagem da editora. — Começou Jenna. — Preciso acompanhá-los no processo de edição e revisão amanhã, provavelmente passarei a manhã e a tarde toda lá, por isso já estou deixando o jantar de amanhã pronto.

— Ah.. Entendi. Tudo bem. — Respondeu Milly ao entrar no quarto com seu violão e seu caderninho, ela os deixou perto da escrivaninha e em seguida voltou a porta da sacada para fechá-la.

— Agora, vá já para a cama, você precisa acordar cedo amanhã. — Jenna se aproximou, tomando cuidado para não manchar o pijama de Milly com a colher suja. — Durma bem. Eu te amo, raio de sol. — Ela depositou um beijo casto no topo da cabeça da filha.

— Eu te amo, mãe. — Milly respondeu, sorrindo com ternura enquanto sua mãe deixava o quarto.


Após sua higiene básica, Milly deixou o banheiro e se jogou direto em sua cama. As luzes já estavam apagadas e a única iluminação que entrava no quarto era através da pequena fresta da porta da sacada.

Ela se cobriu com o edredom e abraçou o travesseiro, e de repente se sentiu sozinha. A falta dele lhe atingiu em cheio novamente. Ele costumava entrar em seu quarto pela janela e se enfiar debaixo de seu edredom, era reconfortante o seu corpo apertado contra o dela, o cheiro dele era uma mistura de colônia masculina e cigarro, ela adorava. Ele sempre deixava seu quarto pela manhã, antes de Jenna acordar e entrar para despertá-la. Eles só se encontravam de novo no colégio, mas tinham de ficar separados a manhã toda, suas amigas não aprovavam o relacionamento, ninguém aprovava. Para todos, ele era o garoto problemático e ela era a garota certinha, mas ele nunca foi problemático com ela, apesar do caos que enfrentava, ele era gentil e realmente parecia se importar com as coisas que ela dizia, nenhum garoto da idade dela costumava se importar, mas ele era diferente.

Milly fechou os olhos com força e apertou mais o travesseiro, focando apenas em sua respiração. Inspirando e expirando. Ela precisava relaxar e dormir.


26 de Setembro de 2016 - 06h59.

Casa da família Mitchell - Redwood, Califórnia.

𝐒𝐂𝐑𝐄𝐀𝐌Onde histórias criam vida. Descubra agora