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Daya,

Sinto que não tenho muito tempo. Escrevo essa carta pouco depois ano novo, tenho tido blackouts de vez em quando, houve momentos em que não conheci reconhecer minha própria irmã. Me esforcei bastante nas suas férias de final de ano para que não deixasse transparecer. Sei que meu tempo está acabando.

Me sinto feliz por ao menos conseguir ver você crescer, está se tornando uma bruxa fantástica, minha estrelinha. Tenho muito orgulho de ser seu pai, sabia? Sei que vai fazer coisas incríveis como Magizoologista.

Lembro de uma vez, de quando você era pequena, estávamos nós dois no Beco Diagonal, e você viu um Pufoso lilás e ficou apaixonada. Mas Orion sempre foi um gato ciumento, então eu sabia que não poderíamos ter outro bichinho em casa, principalmente quando ele quase arrancou as penas de Diya algumas vezes.

Eu te amo, filha. Você será incrível.

Papai.

A carta era menor, mas o peso era crescente. Ele sabia que não iria me ver formar, eu sabia que ele não iria aguentar muito tempo, mas sempre achei que ao menos me veria formar de Hogwarts.

A neve se acumulava lá embaixo, a visão da janela do corredor do terceiro andar era bonita. Orion, aquele gato emocionalmente instável e preguiçoso estava enrolado em meu colo. Eu lutava cada vez mais contra a vontade de chorar. Estava cansada de ser uma bebê chorona, de ser fraca, mas era uma sensação que surgia no fundo da minha mente, no fundo do meu estômago.

Uma bola de neve acertou a janela ao meu lado e eu olhei para baixo, esperando ver crianças brincando ali fora, já que o tempo estava maravilhoso para isso. Mas não, era Draco, com os braços abertos no terno negro, me chamando. Eu apenas dei uma risada e permaneci ali, então ele jogou outra e mais uma. Fiz um gesto para ele esperar.

-Seguinte, você vai voltar pro quarto, tá bem? - carreguei Orion até a altura dos meus olhos. Ele me olhou preguiçosamente. - Sem atacar os outros animais, ou você vai dormir no corredor.

Orion piscou lentamente e eu o coloquei no chão, conferi até que ele virasse no corredor e eu me apressei para o outro lado, correndo, até sentir o choque da neve gelada na minha pele.

-Demorou. - ele falou.

-Estava pensando se valia a pena.

-Anda, o trem vai sair daqui a pouco, precisamos correr.

-Para Hogsmeade?

-É. Achou que eu ia ficar aqui? Na neve? Atoa? Principalmente por você, Lufa-Lufa? - ele ergueu a sobrancelha.

Cruzei os braços, fazendo careta. Eu queria enfiar minha mão na cara dele, fazer ele engolir toda aquela arrogância.

-Eu pago.

-Ok, me convenceu.

Nos apressamos pela neve, ele à minha frente, olhando para trás para certificar-se de que eu o seguia. Exatamente um segundo depois que pisamos no trem, as portas se fecharam atrás de nós e eu o segui até uma cabine, tomando fôlego.

-O que deu em você? - perguntei, franzindo o cenho.

-Parece, Daya, que eu gosto de passar o tempo com você.

-Já falei para não me chamar assim, Malfoy.

Ele revirou os olhos e eu fixei o olhar na janela, observando a neve cair.

-É tão bonito.

-É. - ele falou, atraindo minha atenção. Seus olhos estavam fixos em mim. Senti minhas bochechas arderem um pouco.

-Você precisa rever suas amizades, Malfoy.

-Por que diz isso?

-Eles não são boas pessoas.

-O que a faz pensar que eu sou diferente deles?

-Consigo sentir essas coisas. - balancei os ombros. - Você... só tem medo. E eu entendo. Também teria caso tivesse o pai que você tem.

-E você? - ele perguntou uns instantes depois.

-O que tem eu?

-É minha amiga?

Eu não tinha parado para pensar daquela forma.

-Sou o que você quiser que eu seja. Apenas uma pessoa com quem gosta de passar o tempo, alguém que te atura, ou sua amiga.

Ele me dirigiu um leve sorriso, e eu o retribuí. Um silêncio se instalou entre nós, mas não tinha a necessidade de palavras naquele momento. Foi só quando estávamos nos aproximando do Três Vassouras que ele começou a falar novamente.

-O que você faria se tivesse que fazer algo que não tem certeza se quer fazer?

-Acho que... depende muito do motivo. - respondi. - Se for para ajudar alguém com quem me importo, não acho que pouparia muitos esforços. Se eu pudesse fazer qualquer coisa pra ter meu pai de volta, são e salvo, eu faria.

-Mesmo que tivesse que matar alguém?

-Acho que sim.

Ele ficou calado de novo, até chegarmos ao Três Vassouras e ele abrir a porta.

Vi Harry, Ron e Hermione sentados em uma mesa perto da escada e eu sentia uma pontada no coração. Eu sei que não éramos amigos a esse ponto, pelo menos eu acho que não. Mas... e se, na verdade, eles estivessem cansados de mim? E se eu apenas estivesse sendo um fardo do qual eles não conseguiam se livrar, quisessem, mas não soubessem como?

Assim que o Trio de Outro me viram, vi três expressões completamente diferentes. Angústia, preocupação, raiva. Era por eu estar acompanhada de Draco Malfoy ou por estar ali, onde eles estavam se escondendo de mim? Harry acenou para mim.

-Tem uma mesa ali. - ele gesticulou para próximo ao trio.

-Tem outra ali no fundo. - apontei e Draco me puxou para lá.

-Tá tudo bem? - ele perguntou, franzindo o cenho.

-Já se sentiu como um fardo? Algo que as pessoas querem se desfazer, mas não conseguem?

-Talvez você precise de amigos melhores também.

-Não acho que tenha tempo o suficiente pra ir atrás de pessoas novas.

-Então, acho que somos só nós dois.

Foi errado, mas eu sorri com aquilo. Estranhamente, eu me sentia confortável perto de Malfoy, protegida talvez. Aprendi a gostar da companhia dele, e era estranho quando não estava com ele.

-Por que não faz nosso pedido? Preciso ir ao banheiro.

-Cerveja amanteigada? - perguntei.

-Claro. - ele disse enquanto se levantava.

***

-Eu li mais uma carta. - falei. Estávamos quase na metade das cervejas, e tinham outros alunos ali agora também.

-Eu adivinhei. - Draco respondeu.

-E eu tô com medo de ler a última. Meu pai teve um tumor no cérebro que fez com que ele fosse perdendo a coordenação motora, tivesse problemas de visão e comunicação ocasionalmente. E eu não estava lá, eu não estive com ele quando foi para o hospital, quando recebeu o diagnóstico. - solucei baixo. - Quando ele morreu, eu estava do lado dele, senti quando sua mão parou de apertar a minha, vi quando deu seu último suspiro e ouvi a máquina parar de medir seus batimentos cardíacos.

-Eu sinto muito, Daya. Você não devia ter passado por isso sozinha.

Senti a mão de Draco sobre a minha. Era quente, o anel da família era frio, mas era macia. O contraste da sua na minha era gritante.

-Você definitivamente não é o que eu pensava que seria, Draco.

-Você também não, Adhara. 

Obsessed × D.MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora