Eu não tinha aula naquela tarde, mas o resto do pessoal sim. O ruim do sexto ano era termos que nos separar em alguns momentos porque não queríamos as mesmas coisas, portanto, tínhamos matérias diferentes.
Eu consegui surrupiar alguns doces da cozinha e os coloquei na minha bolsa, indo para a colina. Ali era calmo, conseguia ver praticamente toda a escola dali, incluindo o monstro do lago que aparecia de vez em quando.
Havia uma brisa leve balançando meu cabelo, o sol estava encoberto por nuvens, mas estava um calorzinho gostoso. Fechei meus olhos, inclinando minha cabeça para trás até estar apoiada na árvore, me permitindo sentir tudo aquilo e um pouco mais. Alcancei o bolso interno do meu casaco e tirei o montinho de folhas. As cartas do meu pai. Ainda não havia conseguido ler todas, estava fixada na primeira. Dei uma mordida em uma tortinha de abóbora e comecei a lê-la de novo.
Daya,
Já comecei a escrever essa carta várias vezes, e ainda assim, nenhuma delas parece a maneira certa de começar. Minha mão já está começando a ter câimbra. Então, vou tentar pelo começo.
Antes de você nascer, eu e sua mãe tínhamos grandes planos para você, mas não tínhamos um nome. Assim que a vimos pela primeira vez, sabíamos qual seria: Adhara. Adhara é o nome da primeira estrela mais brilhante na constelação de Cão Maior, antes de Sirius tomar seu lugar. Quando você nasceu, você foi isso, nosso ponto mais brilhante.
Talvez seja por isso que desde pequena você sempre foi apaixonada por Astronomia, sempre querendo conhecer mais de você mesma.
Quando sua mãe morreu, você tinha 5 anos, e eu achei que estaria perdido. Não conseguiria cuidar sozinho de você e da sua mente brilhante. Mas nos viramos bem, não é? Claro, eu não podia chorar perto de você, senão começava também. Sempre foi bastante emotiva, minha Daya.
Quando recebi sua primeira carta de Hogwarts, você me escreveu que tinha entrado na Lufa-Lufa, a mesma casa que eu. Achei que talvez fosse para a Grifinória, como a sua mãe, já que sua coragem sempre foi presente, mas a sua bondade e lealdade sempre se sobrepuseram. Eu sabia que sua mãe estaria orgulhosa do mesmo jeito que eu.
Eu odeio saber que você vai estar sozinha, sem mim, sem sua mãe. Talvez sua tia ache algum tempo para cuidar de você, vocês se dão bem, não é? Sei que vai se virar sozinha, sempre foi bastante independente. Quero que você seja feliz, Daya, não importa como, preciso que seja feliz para eu ir em paz. Talvez por isso tenha preferido escrever isso a falar.
Você sempre vai ser minha pequena Daya.
Cuide bem daquele gato branco seu.
Papai.
Senti um aperto mais leve no coração ao ler aquilo, pela primeira vez não tive vontade de chorar. Aquelas palavras eram tudo o que eu precisava ler para saber que meu pai estava bem de uma forma ou de outra. Mas ainda tinham mais 2 cartas, e talvez eu tenha medo da última.
Senti o cheiro milissegundos antes de ter o papel arrancado de minha mão.
-O que temos aqui, Lufa-Lufa? - a voz de Draco ressoou.
-Draco, não. - eu me levantei atrás dele.
-Daya, - ele começou a andar para longe de mim. - já comecei a escrever essa carta várias vezes…. Ah, que fofo.
-Malfoy, por favor, não faz isso. Por favor. - implorei enquanto ele continuava a ler.
-Seu nome é Adhara! - Malfoy falou aquilo como se fosse uma espécie de vitória particular.
-Cadê minha varinha? - murmurei, tateando os bolsos. Avistei-a na grama, onde eu estava sentada.
-Quando sua mãe… - seu tom de voz diminuiu.
-Accio! - o papel flutuou das mãos de Draco para as minhas. Eu dobrei a carta rapidamente e a guardei de novo.
Draco estava imóvel, encarando as próprias mãos. Eu não conseguia ler sua expressão, eram muitas emoções ao mesmo tempo. Então ele lentamente virou o rosto em minha direção, os olhos azuis nos meus. Ele engoliu seco.
-Eu sinto muito. - ele falou em uma voz grave.
-Por que você sempre precisa se meter onde não é da sua conta, Malfoy? - soltei um soluço. - Por que, pelo menos uma vez na sua vida, você não pensa antes de ser idiota e pegar as coisas dos outros? Por que precisa atormentar a minha vida desse jeito, cacete? O que eu fiz para merecer você?
Eu joguei as perguntas, uma atrás da outra, sem esperar que ele realmente fosse responder.
-Eu sinto muito, Adhara. - pela primeira vez, ele usou meu nome. E aquilo me deu um choque: ele sabia quem eu era agora.
Eu respirei fundo, me controlando.
-Tá tudo bem. - resmunguei e voltei para o meu lugar.
-Sinto muito pela sua mãe. - Malfoy se sentou à minha frente, mas a uma distância segura.
-Varíola de Dragão. - falei e ele ficou calado, sem saber como reagir. - Acho que não tem problema se você terminar de ler.
-Não. - ele balançou a cabeça.
-Anda, Malfoy, já começou, agora termina. E eu preciso compartilhar isso com alguém.
Entreguei a carta para ele e ele começou a ler com relutância, agora se sentindo um intruso na minha vida. O que não deixava de ser completamente verdade.
Ao final da carta, vi ele limpar rapidamente os olhos.
-O que seu pai tem?
-Um tumor alojado no cérebro. Não tem magia possível para curá-lo, nem tratamento trouxa nenhum.
-Como ele tá?
-Ele morreu. - algumas lágrimas teimosas escorreram pelo meu rosto. Eu não aguento mais chorar. - Uma semana antes das aulas começarem. Eu estava com ele. - solucei. - É a primeira vez que falo isso em voz alta. Só Fred e George sabem.
-Por que não contou aos seus amigos? - Malfoy tinha a voz baixa, quase em um sussurro.
-Porque eu sei que eles vão tentar compensar por não estarem comigo quando aconteceu, pelo menos Elle. E eu não preciso ser um fardo para eles, não com tudo o que vem acontecendo com Harry.
-Por que me contou?
-Porque eu precisava falar com alguém que não fosse me tratar como uma coitadinha, como uma órfã. Não me faça me arrepender de ter te contado isso, Malfoy.
Quando olhei em seus olhos, eu vi justamente o que eu não queria ver: Malfoy sentindo alguma coisa. Mas ele não falou nada.
-Para de chorar, Callix. - ele assumiu seu tom zombeteiro e roubou um dos doces que eu trouxe. Mentalmente, agradeci por ele me tirar uma risada. E eu não sentia mais vontade de chorar.
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Obsessed × D.Malfoy
FanfictionComo Lufana, lealdade era minha sina, minha benção e minha maldição, meu defeito mortal. A Morte não discrimina pecadores e santos, por isso eu perdi algumas das pessoas mais importantes da minha vida, e eu sobrevivi do mesmo jeito. O Amor não discr...