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Draco estava parado do lado de fora da minha casa.

-Draco. - repeti, surpresa. Não esperava que ele realmente fosse aparecer ali, principalmente no Natal. - Draco!

-Vai me deixar aqui fora?

Dei um passo para o lado para que ele entrasse e fechei a porta novamente. Senti o cheiro de seu perfume e um arrepio correu por todo o meu corpo. Deixei a porta levemente aberta.

Alcancei a varinha escondida na minha blusa de frio.

-Bela casa. - ele estava de costas para mim, com as mãos escondidas na jaqueta cinza.

-O que você tá fazendo aqui? - perguntei, mantendo uma distância.

-Só... passando. - ele balançou os ombros. - Estava aqui perto, pensei em te ver.

-Quem é você? - perguntei, apontando a varinha. Ele parou e me olhou.

-Como assim, quem sou eu? - ele franziu o cenho. Eu conseguia ver a tensão começando a se formar. - Sou eu, seu Draquinho.

-Você não é o meu Draco. - falei entredentes.

Ele sorriu maliciosamente.

-Garota esperta. - ele falou e sacou a varinha.

Expelliarmus. O brilho saiu da minha varinha e o atingiu no peito. Não poderia machucá-lo de forma definitiva até que ele começasse a falar.

Ele se levantou num pulo.

-Estupefaça!

Estendi a varinha à frente do corpo e o feitiço ricocheteou.

Flipendo. Como ele não sabia o que sairia da minha varinha, ele não esperava ser jogado no outro lado do corredor, na cozinha. Ele estava zonzo, tinha sido um golpe intenso. Aproveitei que ele estava fora de si e olhei bem no fundo de seus olhos, logo fui transportada para sua mente. Uma memória, de mais cedo, naquele dia.

À minha frente estava Lucius Malfoy, pai de Draco. Ele tinha uma expressão de desprezo esculpida em seu rosto pálido. Mas não pude deixar de perceber o cansaço que o abatia, sombreando embaixo de seus olhos e até reduzindo as bochechas. Quase podia ver sua estrutura óssea perfeitamente. Eu sabia que Malfoy era um Comensal da Morte, logo, aquele cara com certeza era um também.

-Draco é inocente demais. Precisamos continuar nossa linhagem com orgulho. Imagina só, ter alguém da Lufa-Lufa numa linhagem tão rica de Sonserina quanto a nossa. - ele franziu os lábios.

-O que eu posso fazer pelo senhor hoje? - o homem à minha esquerda perguntou.

Eu era uma espectadora em terceira pessoa. O homem à frente de Lucius tinha um rosto moreno, barbado. Nunca o tinha visto na minha vida, e não se parecia com ninguém que eu conhecia.

-Ah, Mungyo, que bom que entende minha situação. - vi um sorriso sombrio passando pelo rosto dos dois. - Draco precisa saber o quanto essas pessoas são vulneráveis, inocentes. Não servem para nós. E, se a senhorita Parkinson estiver certa, ela desviará Draco de sua função. Não posso deixar isso acontecer, precisamos atender ao senhor das Trevas.

-Concordo plenamente. - o outro afirmou.

-Preciso que mate a garota. Assim, Draco não terá nada em seu caminho, e ele e a senhorita Parkinson podem continuar nossa linhagem, pura e perfeita, como tudo deve ser. Confio em sua discrição, Nevisse.

-Com certeza, senhor. - ele fez um gesto afirmativo.

-Aquela bruxa idiota e frágil, nem vai saber o que a atingiu.

Ele é um Comensal. E estava ali para me matar. Voltei para o mundo real, para o meu corpo. Conseguia sentir o ódio correndo por todas as minhas veias, diluído ao meu sangue.

O homem, Nevisse, já estava se recompondo, ainda como Draco. Aquele era o problema, eu não conseguia atacar, mesmo que aquele não fosse Draco, se parecia demais com ele.

-Avada... - aquilo era o suficiente.

-Confringo! - gritei, buscando vontade e raiva do mais fundo da minha mente e do meu coração. Uma rajada laranja saiu da minha varinha e o atingiu no peito com força. Ele explodiu antes mesmo de ser jogado na parede.

Meu estômago se revirou ao ver aquele tanto de sangue espalhado na cozinha. Sangue, tripas, pele, partes que eu não conseguia nem identificar. Tinha sangue no meu rosto. Caramba, meu pai me mataria se visse aquilo. Eu não tive tempo de vomitar quando a porta da sala foi aberta com um barulho.

Me virei rapidamente, apontando a varinha naquela direção, com as mãos tremendo e os olhos cheios de lágrimas. A única coisa que me impedia de chorar era a adrenalina espalhada para o meu corpo.

-Uou! - Draco tinha as mãos erguidas, a varinha em uma delas, e um olhar assustado no rosto.

-Quem é você? - eu perguntei, rouca.

-Daya, calma, sou eu, Draco.

-Como eu sei que é você? - minha voz estava começando a vacilar. Minha mão estava ficando pesada.

-Nós temos um Pacto. - ele falou. Uma dor se espalhou no meu pulso, talvez fosse isso, o Pacto, me impedindo de atacá-lo.

-Draco... - o nome dele saiu num sussurro enquanto eu abaixava a guarda.

-Isso é sangue? - Draco guardou a varinha e veio em minha direção, segurando meu rosto. - Adhara, o que aconteceu?

-Ele ia me matar! - solucei. - Ele ia me matar, Draco! Eu tinha que fazer alguma coisa! Ele ia me matar, estava lançando um Avada em mim!

-Quem, Adhara? - eu nunca vi a expressão que estava no rosto de Draco agora. Era ódio puro, raiva. - Quem ia te matar?

Eu dei um passo para o lado, revelando o banho de sangue, pele e órgãos que agora era a cozinha.

-Eu o matei. Usei uma Explosiva, Confringo.

Eu vi o nojo passando pelo rosto dele, mas não tão intenso quanto a raiva.

-Eu sinto muito, Draco... - eu solucei, começando a chorar. - Eu sinto muito!

-Ele ia te matar. - sua atenção voltou para mim, conseguia sentir o sangue se agarrando à sua mão. Ele lutou com os polegares para afastar as minhas lágrimas. - Você fez a coisa certa. Era você ou ele. Você fez a escolha certa, Daya.

Nossos olhares estavam presos um ao outro, e eu só conseguia balançar a cabeça ao ouvir as palavras dele. Um nó pesado se formava em minha garganta, descendo até o meu estômago.

-Quem era ele, Daya?

-Acho que o nome dele era Mungyo Nevisse, ele chegou aqui disfarçado de você, provavelmente polissuco. - respirei fundo, tentando me lembrar de todos os detalhes.

-Como sabia que não era eu?

-Ele estava usando uma jaqueta cinza, e o cheiro estava errado. Não era o seu perfume. - balancei a cabeça. - Por favor, Draco, nunca use cinza na sua vida.

-Prometo. - ele deu uma risada baixa, mas ainda tinha uma tensão enorme nos seus ombros. - Vá se limpar, tá bem? Eu limpo aqui. Tira esse sangue do seu rosto.

Balancei a cabeça em afirmação e ele deu um beijo na minha testa, em uma área que eu torcia para não estar com sangue. 

Obsessed × D.MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora