Nos dois dias que decorreram aquilo, o pessoal ficou fazendo perguntas e mais perguntas sobre o que tinha acontecido, o que tinha na carta que Diya me entregou, e eu falei que não era nada demais, que eu estava bem. As mentiras simplesmente fluíram da minha boca toda vez que alguém me perguntava aquilo, mas já estavam me corroendo. O que meu pai diria se me visse comportando assim? Nada, ele me acolheria, me ajudaria. Mas ele não estava ali.
A colinha tinha virado meu esconderijo. Percebi que quase ninguém ia lá em cima, vez ou outra vi Draco lá, mas ele sempre passava por mim e não falava nada, como se eu não existisse, até mesmo nas aulas.
Na quinta-feira à noite, o céu estava brilhando, não havia nem uma nuvem à vista, o céu limpo era perfeito para aquela aula.
O professor tinha disposto alguns telescópios pelo chão. Astronomia no sexto ano não era mais obrigatório, servia apenas para aquelas pessoas que sabiam o que queriam fazer quando saíssem de Hogwarts, e eu sabia. Ler as estrelas talvez pudesse ser fundamental para mim. Por isso, aquela aula não estava muito cheia, mesmo tendo integrantes das quatro casas ali.
Tínhamos a noite para observar as estrelas, fazer algumas anotações baseadas no que vimos nas aulas e em uma lista de perguntas que ele nos passou. Tive um telescópio somente para mim.
-Sirius, seu maldito, roubando meu lugar. - murmurei fazendo careta ao observar a Cão Maior, a estrela mais brilhante tomando conta da minha visão.
-O que o assassino Sirius Black tem a ver com isso? - uma voz veio do meu lado e eu dei um pulo assustado.
A cabeça de Malfoy estava muito perto da minha, como se tentasse ver o que eu via.
-De onde você saiu?
-Até onde sei, da minha mãe. - ele respondeu.
Estava escuro, com pouca iluminação, mas eu conseguia ver o quanto Draco Malfoy estava acabado, mais do que eu imaginava para um mês e meio de aulas.
-Não. O que você tá fazendo aqui? Você não tem Astronomia.
-Snape incluiu. - ele fez uma careta de desprezo. - Não sei pra que preciso aprender a me guiar pelas estrelas.
-O que você vai fazer quando se formar?
-Não sei. - ele balançou os ombros. - Talvez por isso esteja aqui, mas não quero fazer isso, definitivamente.
Eu o observei, analisei, melhor dizendo. Havia algo em Draco que despertava a Lufa-Lufa em mim, que me fazia querer perguntar o que estava acontecendo com ele, porque ele estava sendo gentil comigo depois da forma como o tratei. E isso fez com que eu me perguntasse o porquê eu o tinha tratado daquele jeito se ele estava apenas tentando ser legal.
-Quer olhar? - perguntei, apontando para o telescópio.
Ele balançou os ombros e olhou pelo telescópio.
-Que estrela brilhante.
-Para alguém cuja família usa apenas nomes de estrelas, você sabe muito pouco sobre elas. - murmurei e ele me olhou feio. - Aquela é a constelação de Cão Maior, e a estrela brilhante, Sirius.
-Sirius Black. - ele murmurou como se aquilo fizesse algum sentido. - Como sabe isso sobre a minha família?
-Sirius comentou com Harry uma vez. - balancei os ombros e vi a expressão dele à menção de Potter. - Bellatrix, Sirius, Andrômeda, Órion, Régulo, Draco...
Que ironia o meu gato levar o mesmo nome do homem ridículo que criou Sirius e Régulo de uma maneira tão odiosa.
Draco me observou, analisando meu rosto mais uma vez. Abri a boca para fazer uma pergunta, mas o Professor se pronunciou.
-Pessoal, hoje ficamos por aqui. Não posso segurá-los mais para não perderem as aulas da manhã. Boa noite.
Draco deu um passo para o lado e fez um gesto para que eu seguisse em frente.***
Na sexta-feira, acordei com um grito assustado de Elle. As outras meninas também pularam da cama e olharam assustada para ela. Tinha alguma coisa cobrindo o rosto da minha melhor amiga e eu corri para ela, pegando a criatura.
-Tira! Tira! Tira!
-Hermes! - xinguei. A coruja enorme virou a cabeça sobre o pescoço e piou. Coloquei a coruja de Percy Weasley sobre a minha cama e ela eriçou as penas. - Não pode pousar na cara de outras pessoas! A não ser que seja o Percy.
Ela piou em resposta. Eu já sabia que Fred e George, em algum momento, mandariam mais alguma coisa, e já tinha uma carta escrita para eles, contando como tinham sido meus dias, como se fosse um diário. Óbvio que, naqueles papéis, estavam contidas as minhas experiências com Draco Malfoy, menos a da noite anterior.
Eu fui até a minha gaveta de cabeceira e peguei os papéis, dobrando-os e colocando num envelope. Enquanto fazia isso, dei algumas sementes para aquela coruja tão grossa quanto o dono. Precisei ser cuidadosa enquanto desamarrava o embrulho dos gêmeos e colocava meu envelope no lugar para que ele não me bicasse, e poucos minutos depois a ave saiu voando pela janela aberta.
-Que coruja infernal. - Elle fez uma careta. As meninas desceram para os banheiros para tomarem banho.
-É do Percy. - respondi, como se explicasse tudo.
-O que eles mandaram? - ela perguntou ansiosa.
-Acho que... prefiro abrir sozinha, se não se importar. - falei, olhando pra ela.
-Claro. - ela sorriu e uma expressão de preocupação tomou conta de seu rosto. - Addie, tá tudo bem? Você tá estranha esses dias, ficando muito sozinha...
-Tá tudo bem, El. Não precisa se preocupar, juro. - sorri.
Ela me olhou, como se avaliasse meu tom de voz. Eu estava sendo muito analisada nos últimos tempos: ela, Gina, Draco, Ron. Só queria que parassem de fazer aquela pergunta, eu sempre vou responder que tá tudo bem pra não ter que me explicar, porque não quero ser um fardo pra ninguém.
-Vamos tomar banho, farol de Corujas.
-Palhaçada isso, tá? Certeza que George disse pra essa coruja fazer isso. - ela reclamou enquanto pegávamos as coisas para tomar banho.
***
Minha primeira aula do dia era com a Sonserina, óbvio, uma das matérias que eu mais odiava, Poções. Eu tinha tirado uma nota ruim nos exames do ano passado, então precisaria refazer a matéria. Me sentei em uma das mesas no meio da sala e aos poucos o cômodo foi enchendo. Elle, aquela garota sortuda, estava em uma aula de Herbologia, pelo mesmo motivo pelo qual eu estava naquela sala.
-Olá. - Draco Malfoy se deslizou para o assento ao meu lado, como eu esperava que fizesse. Pansy Parkinson fez uma cara de cu em minha direção. - Sabe, Lufa-Lufa, em algum momento vai ter que me dizer algo além do seu sobrenome.
-Mas eu já te disse o meu nome. - respondi.
-Eu me lembraria se tivesse dito.
-Claro, porque você adora encher meu saco e gostaria de fazer isso com mais conhecimento sobre mim.
-Na verdade, é isso mesmo. - ele sorriu perversamente.
-Por Merlin... - resmunguei.
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Obsessed × D.Malfoy
FanfictionComo Lufana, lealdade era minha sina, minha benção e minha maldição, meu defeito mortal. A Morte não discrimina pecadores e santos, por isso eu perdi algumas das pessoas mais importantes da minha vida, e eu sobrevivi do mesmo jeito. O Amor não discr...