Encarei a plataforma do lado de fora da janela, um peso se assomando no meu coração a cada segundo que as portas do Expresso Hogwarts fechavam. Meu pai não estava ali, não tinha ninguém no meio daquela multidão que acenava para mim, que chorava de felicidade ou medo por mim. Hogwarts não é mais tão segura agora, não com Voldemort voltando a cada ano para matar Harry Potter.
Lágrimas se formavam em meus olhos enquanto eu pensava que talvez, só talvez, eu não devesse continuar naquele ano. Talvez pudesse esperar até o ano que vem para continuar, tirar um ano sabático. Mas pensar isso só me fazia sentir pior.
Foi quando eu os avistei.
Duas cabeças ruivas passando por entre a multidão rapidamente, abrindo espaço por entre as pessoas, e então vieram na minha direção, agitados e com os olhos brilhando.
-Fred, George! - eu abri a janela, me levantando do banco. Até mesmo Orion que dormia ao meu lado se aproximou da janela, com o rabo branco balançando em alegria.
-Não achou que a gente fosse esquecer de você, não é? - George perguntou.
-Rony está do outro lado daquele vagão, por isso demoramos. - Fred disse com um sorriso.
-Sentimos muito pelo que aconteceu. Queríamos ter feito alguma coisa, mas...
-Sabíamos que você não gostaria que nossa família inteira ficasse sabendo.
-Obrigada. É muito bom ver vocês. - uma lágrima solitária desceu rápido pela minha bochecha e Fred, por estar mais perto, se apressou para limpar. Ele era levemente mais baixo que George, e poucas pessoas percebiam isso.
O apito do trem ressoou pela estação e as famílias aceleraram suas despedidas.
-Isso é pra você. - Fred tirou um embrulho do casaco dele, uma caixa.
-Abra quando estiver em Hogwarts. - George completou. - Venha nos visitar na loja sempre que puder!
Senti as rodas começarem a se movimentar. Os gêmeos se esforçavam para acompanhar.
-Mande cartas! - Fred gritou.
-E nós mandamos doces! - George gritou.
Só tive tempo de acenar para eles enquanto eles iam ficando para trás, junto com a plataforma. No final das contas, eu não estava tão sozinha assim.
***
Estávamos há mais ou menos quarenta minutos em movimentação, Orion dormindo encolhido no meu colo, a cidade ia aos poucos se tornando campos verdes pontilhados por algumas casas de interior, quando a porta da cabine se abriu com um assovio, atraindo minha atenção.
-Posso me sentar aqui?
-Claro. - respondi de forma automática, mesmo sabendo que queria ficar sozinha o máximo possível.
Ele fechou a porta atrás de si e se sentou perto da porta, mantendo uma distância entre nós. Ele estava completamente acabado, com olheiras destacando contra a pele pálida, o cabelo que sempre estava arrumado, naquele momento estava uma bagunça e as mãos estavam agitadas no colo. Ele inclinou a cabeça para trás, respirando fundo.
A alma Lufana dentro de mim estava ansiosa para perguntar se estava tudo bem, mas aquele pinguinho que fez o Chapéu Seletor demorar para me designar à minha Casa dizia para eu me manter afastada, que falar com ele era o sinônimo de dor de cabeça, de ser infernizada. Porque aquele era Draco Malfoy, e era isso que ele fazia com qualquer um que demonstrasse um pingo de preocupação com ele.
-Vai ficar me encarando? - ele perguntou, abrindo levemente as pálpebras, e vi seus olhos voltados para mim.
Senti minhas bochechas ardendo um pouco e me virei para a janela. O silêncio se instalou na cabine de novo.
-Qual o seu nome? - ele perguntou, alguns minutos depois, atraindo a minha atenção. Demorei alguns segundos, pensando se ele estava brincando com a minha cara, se bem que não me surpreenderia nem se ele não soubesse qual a minha casa. - O que foi, o Texugo comeu sua língua agora?
-Ah, então sabe qual é a minha casa? - ergui a sobrancelha, curiosa.
-Você não é da Sonserina, me lembraria se a tivesse visto. Se fosse da Grifinória, estaria com mais gente aqui, e se fosse da Corvinal, teria feito cara de nojo. - ele pontuou. Não estava de tudo errado, a Lufa-Lufa realmente tenta se manter bastante neutra naquela confusão de Orgulho das Casas. - Então, qual o seu nome?
-Não é estranho que a pessoa que se diga "o rei de Hogwarts" não saiba o nome da garota que está no mesmo ano que ele, com quem tem algumas várias aulas juntos? - franzi o cenho.
Draco me encarou e eu esperava por alguma maldita ameaça enquanto eu tentava não falar o meu nome, só pra ver até onde aquele joguinho iria. Não tinha mais nada para fazer mesmo. E então ele moveu levemente as sobrancelhas e uma sombra de sorriso passou pelo seu rosto, demonstrando interesse e curiosidade.
-Você vai mesmo dificultar isso, não é? Só estou querendo saber o seu nome, Lufa-Lufa.
O jeito como ele pronunciou o nome da minha casa fez um arrepio correr pela minha coluna. Orion se movimentou levemente em meu colo, como se sentisse minha agitação e olhou ao redor. Aquele gato era extremamente protetor, e quando percebeu que não havia um perigo, ele voltou a dormir.
-Está carente, Malfoy? - ergui uma sobrancelha, inclinando um pouco a cabeça para o lado, com um sorriso mínimo.
Ele me encarou de novo, como se analisasse. Eu queria que ele parasse de fazer aquilo, me analisar a cada movimento. Seus olhos traçavam um caminho pelo meu rosto, pelo meu corpo e o gato no meu colo. Me senti exposta demais.
-Como é quando seus amigos são de outra casa ou não estão mais na escola? - ele retrucou e raiva corria em meu sangue. - Posso não saber seu nome, mas sei com quem anda, e não vai ser muito difícil te descobrir, Lufa-Lufa.
-Não tem uma vida própria para cuidar, Sonserina?
-Isso pode esperar. - ele sorriu.
Aquele sorriso ficou gravado em minha mente naquele momento, e se tornaria constante não só em meus sonhos, mas ao meu lado.
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Obsessed × D.Malfoy
FanfictionComo Lufana, lealdade era minha sina, minha benção e minha maldição, meu defeito mortal. A Morte não discrimina pecadores e santos, por isso eu perdi algumas das pessoas mais importantes da minha vida, e eu sobrevivi do mesmo jeito. O Amor não discr...