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Era a manhã do dia 25, quase tudo que tinha no armário do meu pai estava encaixotado para doação. Com Fred me ajudando, não foi tão difícil quanto eu achei que seria. Achei que teríamos que empacotar a casa inteira, mas minha tia tinha adiantado o processo em mais da metade. Eu concordava que ela precisava descansar um pouco, e eu precisava fazer aquilo para processar completamente a perda do meu pai.

A campainha ressoou pela casa pouco depois que eu e Fred acordamos. Ele tinha colocado um colchão no chão do meu quarto, de forma que ficávamos conversando até tarde, até eu me acostumar a não dar boa noite para o meu pai - coisa que eu fiz na nossa primeira noite ali.

-Eu atendo. - Fred disse num bocejo, se arrastando para a entrada enquanto eu fui para a cozinha fazer café.

Como será que Draco estava?

-Feliz Natal!

-Georgie! - cumprimentei feliz o outro gêmeo com um abraço que me tirou do chão.

-E ele trouxe pãezinhos da mamãe! - Fred disse feliz, mostrando a caixa e já com um pedaço na boca.

***

Eu havia me esquecido de como era bom estar na presença daqueles dois. Ler a carta deles não era a mesma coisa de ver seus rostos, poder abraçá-los e ouvir suas vozes. Eu entendia porque grama foi algo citado por Hermione e eu não podia negar que realmente era um cheiro muito presente neles.

Mesmo que a tarefa fosse chata, ter os dois ajudando era melhor do que ter um. Fred me fazia rir, mas os dois juntos tinham pegadinhas que me faziam rir de doer a barriga. Eu estava feliz, estava rindo, estava bem, não pensava no meu pai, e quase não queria que o Natal acabasse.

Mas também não conseguia tirar Draco Malfoy da minha cabeça. Constantemente me via brincando com o pingente da pulseira que representava mais do que qualquer coisa naquele momento: era uma conexão que não podia ser quebrada. Óbvio, teve momentos em que me perguntei se eu tinha feito a escolha certa ao fazer aquele Pacto, mas eu faria a mesma coisa de novo. Draco era uma das poucas pessoas que não me julgava ou achava estranho eu ter variações de humor que não são tão presentes em alguém da Lufa-Lufa, eu me sentia bem, sem ter que ficar me controlando.

-Terra chamando Addie! - a voz de George me chamou.

Ele carregava Orion enquanto Fred, que era poucos centímetros mais alto, tirava as coisas da prateleira de cima.

-Eu tô aqui. - cantarolei.

-Então... você e o Malfoy, hein?

-Vocês não querem falar sobre isso.

-Não.

-Mas sabemos que você quer.

Eu encarei os gêmeos.

-O que acham de sairmos pra almoçar? - perguntei num suspiro.

-Mostre o caminho. - George colocou Orion sobre o balcão da cozinha.

Londres estava cinzenta como sempre, mas não parecia que ia chover, e sim nevar, logo.

-Ah, eu amo o Natal. - respirei fundo, saltitando pelo caminho.

-Você vai cair assim. - Fred repreendeu.

-Por isso eu tenho vocês, pra evitar que eu me machuque. - olhei sorrindo para os dois, que se encararam entediados. Eu tinha dois cães de guarda. - Estou no humor para comida mexicana! Venham, andem logo.

-Mandona.

-Parece um coelhinho saltitante.

O restaurante ficava logo na esquina, e nós sentimos em uma mesa mais longe das janelas. Se Draco soubesse que eu tinha saído de casa, ele me mataria.

Nos sentamos e fizemos os pedidos. Eu já tinha levado os meninos em vários restaurantes trouxas que eu gostava, e ironicamente, eles tinham achado alguns estranhos, como cachorro-quente, mas tinham gostado de sushi. Enquanto comíamos, eu contei aos dois como tudo tinha começado: que estávamos no Expresso, e que depois disso ele começou a me irritar sem parar, e em algum dia chegamos ali.

-Eu sei o que vocês vão falar. Todos já falaram a mesma coisa: eu não devia estar com ele, deveria manter distância, pois ele poderia ser um Comensal, e tudo mais. Mas! Peguem essas opiniões e enfiem bem findo nas suas bundas. Eu sei o que eu tô fazendo, e sei me proteger!

-Você tem certeza disso, Addie? Absoluta? Cem por cento? - George perguntou.

-Sim, Georgie, eu tenho certeza. - respirei fundo.

-Você tá feliz? - foi a pergunta de Fred.

-Sim. - respondi com um sorriso depois de pensar alguns segundos. - Bem feliz, na verdade.

-Pra mim, é o suficiente. - ele ponderou. - E para você, George? O que acha? Nossa menininha está feliz.

-Se ele, um dia, encostar em você contra a sua vontade, a gente caça ele. - George garantiu.

Naquele momento, eu me arrependi amargamente de estar deixando fatos importantes longe daquela conversa. Era estranho para mim estar tão emocionalmente distante daqueles dois.

***

A noite caía devagar, mas estávamos nós três reunidos no corredor de entrada da casa, num abraço apertado.

-Mandem um abraço para a mãe de vocês. Agradeçam pelos pãezinhos. - sorri, parada no degrau de entrada.

-Você tem certeza que não quer ir com a gente?

-Mamãe com certeza não vai se importar. Vai ter comida pra um batalhão em casa.

-Eu vou ficar bem. - afirmei. - Obrigada pela ajuda, rapazes.

-Se precisar, é só avisar. - Fred me deu um beijo na bochecha e George me deu um último abraço.

Nos despedimos uma última vez e eu fechei a porta. Me apoiei contra a madeira. Não tinha ficado sozinha naquela casa ainda, e não tinha me dado conta do quão fria ela era. E se a alma do meu pai ainda estivesse ali?

Alguém bateu à porta.

-O que você esqueceu, Fred? - perguntei ao abrir a porta. Não era Fred. - Draco? 

Obsessed × D.MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora