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Demorei um mês para me sentir confortável com minha grade de horários, até realmente gravar tudo, e não me era surpresa Draco Malfoy estar em quase 60% delas, já que parecia que nos últimos tempos o universo estava contra mim em todos os momentos possível. E tínhamos um professor de Poções novo, Horácio Slughorn, já que Snape finalmente conseguiu seu emprego dos sonhos como professor de DCAT.

No final das contas, demorei quase três dias para conseguir abrir o presente dos gêmeos. Era uma caixa com um monte de coisas: um porta-retrato com uma foto de nós três, alguns dos meus doces favoritos, algumas pegadinhas de emergência e uma pulseira que eu não tirava nem para tomar banho, com alguns berloques: um F, um G, um A, um texugo e um gatinho. Aquilo deveria ter custado uma fortuna, até mesmo no mundo magi.

Naquele mês, Draco parecia minha sombra, me chamando pelo meu sobrenome, Callix, a única coisa que tinha descoberto sobre mim até aquele momento, e de Lufa-Lufa.

-Por que diabos o Malfoy tá te seguindo? - Harry um dia perguntou, enquanto estávamos no jardim, eu, ele, Mione, Elle e Ron.

-Ele está seguindo ela desde o primeiro dia de aula. - Elle resmungou, enfiando um morango na boca.

-Dividimos a cabine no trem. - respondi. Minha cabeça estava apoiada no colo de Hermione, praticamente servindo de apoio para o livro dela. - E aí ele decidiu fazer a minha vida um inferno. Não sabe meu nome, só me chama de Callix, graças ao Flitwick, e é isso.

-Se precisar, a gente pode dar um jeito nele. - Ron disse, todo protetor.

-Não, tudo bem, ele só tem sido irritante, nada mais. Pelo menos tirou ele da sua cola, Harry.

-Tem algo de estranho com ele. - Hermione comentou, sem tirar os olhos das páginas. - Ele está estranho.

-Não que ele tenha sido normal em algum momento. - Elle murmurou.

-Não, Mione tem razão. Tem alguma coisa estranha. - Harry voltou o olhar para Draco, acompanhado de seus súditos na Sonserina, no corredor interno, zombando de qualquer um que passasse ali. Seus olhos estavam fixados em mim.

E então chegou o dia do correio.

Estávamos tomando café num sábado, eu estava sentada na mesa com Harry, Ron, Hermione e Gina enquanto Elle tinha aula de Estudos Antigos. Draco estava à mesa da Sonserina com Blásio, de vez em quando lançando alguns olhares curiosos e de desprezo em nossa direção. Gina o fitava com raiva.

-Que garoto chato. - resmungou.

-Faça como eu, apenas ignore. - bocejei enquanto enchia minha terceira xícara de café.

-Correio! - Ron falou feliz.

Pude ver a tristeza em Harry. Uma das poucas pessoas que mandava coisas para ele havia morrido no ano passado, seu padrinho Sirius Black. Mas Rony sempre dividia o Jornal com ele.

-Diya! - chamei minha coruja. Ela odiava corujas assim, inquietas, voando para todos os lados, então sobrevoava mais nos cantos. Quando a coruja minúscula me avistou, veio em minha direção. Ela na verdade não era minha, e sim da minha tia, que agora era minha responsável legal. Ela se escondeu no meu colo depois de roubar uma fatia de queijo.

Peguei o envelope preso à sua patinha e a coruja saiu voando assim que terminou de comer, parando um segundo para me dar uma bicada de leve na bochecha.

Era um envelope até um pouco grosso, mas não tão pesado. A primeira coisa que identifiquei foi a letra da minha tia. Gina, que estava ao meu lado, zombava de Rony por alguma coisa.

Abri o envelope e tirei o conteúdo. Primeiro, um único papel escrito: "Addie, encontrei isso nas coisas do seu pai. Parece que ele as escreveu antes de piorar. P.S.: não deixe Diya comer queijo, ela tem dor de barriga." Tarde demais.

Então peguei os papeis. Era um bolinho, talvez 3 ou 4 cartas do meu pai. Senti meu coração apertar e quis chorar. Peguei a primeira e passei o olho rapidamente, mas foi difícil parecer normal. As lágrimas que eu segurava começaram a cair antes mesmo de eu terminar o primeiro parágrafo da primeira carta.

-Addie! - alguém gritou enquanto eu saía apressada do Salão em direção à colina que dava visão para o Campo de Quadribol de um lado e à casa de Hagrid do outro.

Eu subi a colina até a árvore que ficava no topo, me sentando embaixo da sombra criada, e deixei que as lágrimas corressem livres enquanto lia e relia aquela carta, sem coragem de chegar nas próximas. Perdi a conta de quantas vezes li o parágrafo sobre minha mãe escolhendo meu nome, lendo as palavras que sei que foram dolorosas para o meu pai escrever, não apenas pela incapacidade de se mover completamente, mas por reviver o tempo que teve com o amor da sua vida.

Receber aquelas cartas tinha sido um soco no estômago, achei que já estivesse lidando bem com o luto que me assombrava, mas ler aquilo tinha me provado exatamente o contrário. Eu apenas o tinha escondido tão fundo na mente enquanto me concentrava na escola.

Guardei as cartas no casaco, tirando o tempo que fosse necessário para eu me acalmar, para parar de chorar. Respirei fundo algumas vezes por minuto e em uma dessas, ouvi algo se quebrando, um galho.

Me levantei rapidamente, estendendo a varinha mais rápido do que achei que conseguiria e ele me olhou assustado.

-Precisava me seguir até aqui? - perguntei com raiva. - Já não basta me seguir todos esses dias? Viver tão colado em mim que meus amigos estão ficando preocupados?

-Preocupados ao ponto de se perguntarem porque você saiu chorando do café da manhã? - Draco perguntou com as mãos à mostra, mostrando que não queria me atacar.

-Que porra você quer comigo, Malfoy? Me irritando todos os dias, me perseguindo, sempre me encarando. Que cacete eu fiz pra ser amaldiçoada desse jeito? - por mais que tenha guardado a varinha, o tom de raiva ainda continuava em minha voz, e eu não estava nem um pouco preocupada se isso o assustaria ou o deixaria ainda mais interessado em mim, mas já não aguentava segurar aquelas perguntas.

Vi Draco morder o lado interno da bochecha e abaixar as mãos, se aproximar relutante de mim.

-Por que você está chorando?

-Não é da sua conta, Malfoy. Não tem outra pessoa para atormentar?

Ele me encarou, surpreso.

-Você deveria estar na Sonserina, não é? - ele falou tão baixo que achei ter ouvido errado, mas não. Então eu me calei. - Antes que pergunte: eu só achei isso porque você tem alguns comportamentos que ninguém da Lufa-Lufa tem. É mais estressada.

-Você não sabe porra nenhuma da minha vida.

-Viu? Mais uma vez. - Draco parou a três passos de mim. - Vai me contar por que estava chorando?

-Vá se ferrar. - murmurei, me afastando.

***

Eu passei praticamente o dia inteiro escondida na Floresta Proibida, cuidando dos animais com Hagrid enquanto ele me contava alguns fatos curiosos sobre cada um.

-Por que Testrálios são tão magros? - perguntei quando ele me ofereceu um sanduíche na hora do almoço.

Consigo ver os Testrálios desde pequena, e apenas a Luna compartilhava isso comigo na época, mas ela entrou apenas um ano depois, e só descobriu eles por acaso. Quando falei que tinham animais puxando a carruagem, o Flitwick me olhou com os olhos pesados, e eu só fui entender isso quando mais velha, ao entender porque ninguém mais os via.

-Não sei dizer. Talvez porque não tenha gente o suficiente que consiga vê-los. Bom, Harry passou a ver também, depois de Cedrico. - ele disse, sujando a barba e o bigode com migalhas. - Qual o problema, menina?

-Muita coisa na cabeça. - murmurei.

Não falamos mais nada, o gigante apenas entendeu que eu não queria mais tocar no assunto.

-'Cê viu os filhotes de Tronquilhos?

Voltei pro quarto já era noite, e continuei pensando que não encontraria meu lugar ali. 

Obsessed × D.MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora