Capítulo 18 - Entre dois mundos

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POV CAMILA

Allyson finalmente pisca, e o movimento, ainda que mínimo, faz meu coração saltar no peito. Ela inspira fundo, como se estivesse reunindo suas palavras com cuidado, e por um momento, temo que o silêncio tenha sido apenas o prelúdio para uma repreensão. Sinto minhas mãos formigarem de ansiedade enquanto observo seus lábios se entreabrirem lentamente.

- Camila... - a voz dela sai suave, quase um sussurro, e de repente, todo o meu medo se concentra em seu próximo gesto. - Eu não estou aqui para te julgar.

Essas palavras deveriam ser um alívio, mas não são. Elas me deixam suspensa, como se ainda houvesse algo a ser dito, algo que eu não queria ouvir.

- Se você não ama mais o Eric, e se Lauren te faz sentir viva, você tem que ser honesta com si mesma... - Ela faz uma pausa, os olhos me analisando com um cuidado doloroso. - Mas, Camila, não estou dizendo que vai ser fácil. Nem para você, nem para o Eric.

O nome dele soa estranho ali, entre nós, como uma presença fantasmagórica que não desaparece, mesmo quando tento seguir em frente. Meu peito aperta mais uma vez, e a culpa me atinge com força. Eric não merece isso. E eu? Eu mereço?

- Eu sei... Eu sei que não vai ser fácil - sussurro, minha voz quase falhando. - Mas o que eu faço, Ally? Eu me sinto tão dividida... como se estivesse sendo puxada para dois lados, e não sei qual deles é o certo.

Allyson me olha profundamente, seus olhos refletindo um misto de compreensão e dor.

- Camila, às vezes, o certo não é o que parece mais fácil ou mais justo. É o que faz sentido para você, mesmo que isso signifique quebrar expectativas ou partir corações.

As palavras dela ficam ecoando na minha mente. Elas soam verdadeiras, mas assustadoras. Mexem com o que eu mais temia enfrentar. Porque, no fundo, sei que isso não é só sobre Eric ou Lauren. É sobre mim e sobre quem eu me tornei ao longo dos anos.

- Você vai ter que decidir logo - Allyson continua, e dessa vez, há uma urgência suave em sua voz. - Não dá para ficar assim por muito tempo. Vai machucar ainda mais se você continuar presa entre dois mundos.

Sinto uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto, mas não a limpo. Deixo que ela caia, como se reconhecê-la fosse meu primeiro ato de honestidade. Porque, no fundo, eu já sei a verdade. O difícil é aceitá-la.

POV LAUREN

Acordo no dia seguinte com a boca seca, o gosto amargo da noite ainda presente. Sinto a aspereza das roupas do dia anterior grudadas em meu corpo, o tecido desconfortável e amassado. Meus cabelos estão desgrenhados, o rosto marcado pela cama e pelo peso do sono conturbado. Me arrasto até o banheiro do corredor, cada passo mais lento que o anterior. O vapor do banho quente me envolve, quase como se tentasse apagar os vestígios do dia anterior, mas a água não é suficiente para lavar a sensação de desconforto. Me enrolo na primeira toalha que encontro, sentindo o tecido áspero contra a pele, mas não me importo.

De volta ao quarto, visto a primeira roupa confortável que encontro. O silêncio na casa é quase absoluto, cortado apenas pelo som ocasional de algum carro passando ao longe. Sei que meu pai já saiu para o trabalho, como de costume, mas não vejo sinal de minha mãe. Dou de ombros, quase aliviada. A última coisa que quero agora é encarar o olhar deles depois da discussão de ontem.

Desço as escadas e encontro a cozinha organizada, as panquecas ainda quentes sobre a mesa, ao lado de um bilhete rabiscado por minha mãe. "Fui ao centro da cidade. Volto mais tarde", dizia a mensagem, e eu solto um suspiro de alívio. A ideia de estar sozinha, ao menos por um tempo, parece mais reconfortante do que qualquer conversa poderia ser.

All I Wanted - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora