Maria Frazier
O clima dentro da minha casa está cada dia mais caótico. Desde o dia em que eu e Mariana acabamos nos desentendendo, minha mãe evita ao máximo falar comigo e também com ela. Todos os dias ela nos esperava para tomar café, agora ela toma café no quarto, na estufa ou acorda mais cedo. Eu não sei mais o que tenho que fazer para ela enxergar que a culpada não sou eu, reagi de acordo com o que a minha própria irmã merecia, teria feito mil vezes.
— Mãe, eu já disse para você, eu sou assim. Que merda! Porque você não aceita e para de encher. — Meredith Esbravejou com raiva.
Seus gritos ecoaram pelo corredor, havia acabado de chegar do trabalho, segurando os meus sapatos em uma mão e a minha bolsa na outra, completamente exausta. É maravilhoso tirar uma semana de férias, o exaustivo é quando você volta para a realidade.
— Eu não quero que você seja assim. — Disse minha mãe alterando o seu tom de voz.
— Acha que eu ligo para o que você quer? Eu não sou a Maria que sempre fez de tudo para agradar a senhora. Ela vive em baixo da sua saia, aceitando os seus gostos e nunca os dela.
— Maria nunca fez isso.
Meredith gargalha. Eu conheço a sua risada.
— Me poupe mãe, a senhora pode mentir para si mesma, mas eu sei e eu vejo que tudo o que a Maria faz é para te agradar. Se não fosse por você ela não teria voltado para casa.
— Pelo menos ela não é igual a você.
O silêncio era a única coisa que eu escutava vindo do quarto. Caminho em direção a porta do quarto de Meredith e ao me aproximar me esbarro com ela, irritada como se estivesse puta da vida com Deus e o mundo, mas os seus olhos estavam lacrimejados como se algo tivesse destruindo o seu coração.
— Parabéns por você ser tão perfeita irmã. — Disse ela passando por mim, esbarrando o seu ombro contra o meu.
Entro pela porta e vejo minha mão escondendo o seu rosto entre as suas mãos chorando de soluçar.
— Mãe...— Chamo.
Minha mãe ergue a cabeça, seus olhos já estavam vermelhos.
— Porque ela é assim? — Mamãe me questionou deixando suas lágrimas escorrerem pelo seu rosto. — Eu sempre fiz de tudo por vocês, sempre. E ela me retribui assim? Sendo...assim? Eu gostaria que uma vez, uma única vez ela fosse normal.
— Meredith é normal mamãe. — Sento-me ao seu lado.
— Por favor, não venha defender a sua irmã, se for fazer isso pode ir embora. — Pediu irritada.
— Eu vou defender ela sim.
— O que?
Suspiro. Será a primeira vez que eu vou defender alguém com unhas e dentes. O problema nessa questão não é o jeito de Meredith se expressar ou se vestir, a questão é a sua sexualidade e o preconceito não dá sociedade, mas sim da minha própria mãe e talvez do meu pai.
— A senhora está assim não é porque a Meredith é uma menina rebelde, mas sim porque ela é lésbica.
— Pode parar. — Minha mãe se levanta irritada.
— É a verdade. — Me levanto também.
— A sua irmã não é...lésbica. — Disse ela com os olhos cheios de raiva.
— A senhora quem não está querendo ver. Mesmo tapando o sol com a peneira, os raios vão ultrapassar os pequenos buracos.
— Ela não é assim! Para de dizer isso.
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Deliciosa Vingança
Romance[...] Eu passei a minha vida inteira sendo a filha perfeita que os meus pais sempre sonharam, um papel do qual as minhas duas irmãs não quiseram cumprir. Depois de tudo o que eu presenciei hoje, percebi que dentro da minha própria casa também existe...