O Peso da Verdade

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                              Capítulo 22

Os dias passaram como se uma névoa houvesse se instalado sobre a mansão Park, impregnando os corredores e cada canto da casa com um silêncio carregado de melancolia e memórias indesejadas.As revelações recentes tinham deixado marcas em minha alma. As lembranças se misturavam com os questionamentos, enquanto cada amanhecer parecia ser um novo teste de resistência.
Jungkook, como sempre, estava lá, mas com uma presença ainda mais intensa e silenciosa. Ele não forçava conversa nem exigia que eu dividisse o que estava sentindo; sabia que eu precisava de tempo para processar. Seu apoio constante era como um pilar invisível, algo que me dava força quando eu achava que não restava mais nada dentro de mim. Ele conhecia a profundidade da dor, sabia que eu estava enfrentando uma luta não só contra as memórias, mas contra as mentiras que haviam moldado toda a minha existência.
Foi em uma manhã nublada, com a névoa espessa ainda se espalhando pelo jardim, que Jungkook se aproximou de mim, carregando um olhar sério, quase solene. Ele parecia refletir sobre algo importante, um assunto que ponderava antes de compartilhar. Percebi a tensão em sua postura, o que só aumentou minha curiosidade e inquietação.
— Jimin, — ele começou, com a voz baixa, como se o peso das palavras precisasse ser cuidadosamente medido.
— Eu encontrei algo… algo que achei que você deveria ver.
O tom em sua voz era inconfundível, e uma sensação de apreensão tomou conta de mim. Eu o segui em silêncio, permitindo que o mistério nos guiasse enquanto ele me levava para fora da mansão, através dos jardins. Passamos por áreas que eu raramente explorava, onde a vegetação crescia mais selvagem, e a névoa parecia quase mágica, conferindo ao lugar uma atmosfera mística.
Caminhamos por alguns minutos, deixando para trás o movimento e o peso da mansão, até chegarmos a um cemitério antigo, escondido entre árvores retorcidas e folhas caídas. As lápides, desgastadas pelo tempo, estavam em sua maioria cobertas de musgo e trepadeiras, tornando o lugar ainda mais solene e misterioso. Aquele era um espaço esquecido, mas as lápides permaneciam ali, marcadas por histórias que o tempo não conseguira apagar.
Jungkook parou diante de uma lápide específica, uma pedra de mármore branco já desgastada, com musgo crescendo em algumas partes. Ao ler o nome entalhado no mármore, meu coração parou por um segundo. O nome que eu via esculpido à minha frente era "Park Ji Hyun", o nome de meu pai ômega.
Por um instante, senti como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Meu appa.Cresci com uma ausência forçada, um vazio que nunca foi preenchido. E ali estava ele, enterrado num canto esquecido da história. Eu me abaixei, tocando o mármore frio, e senti o peso de uma verdade há muito ocultada.
— Como você… — minha voz falhou, enquanto meu olhar permanecia fixo na lápide.
— Como você encontrou isso?
Jungkook aproximou-se, colocando uma mão reconfortante sobre meu ombro. Ele falou baixo, como se respeitasse o silêncio sagrado daquele momento.
— Eu pensei que, talvez, conhecer essa parte de sua história pudesse ajudá-lo a encontrar algum tipo de paz. Então fiz algumas pesquisas e acabei encontrando este lugar.
Uma onda de emoções tomou conta de mim: raiva, tristeza, alívio e uma estranha sensação de pertencimento. Durante toda minha vida, a presença de meu pai fora mantida à sombra, enterrada junto com mentiras e manipulações que tinham moldado quem eu era. Mas agora, diante de sua lápide, sentia que finalmente tinha algo de verdadeiro a que me apegar.
Lentamente, me ajoelhei diante da lápide, permitindo que minha mão deslizasse pela pedra fria e rugosa.
Jungkook, sempre atento, permaneceu ao meu lado, sem me apressar, respeitando meu momento. Ele não precisava dizer nada; sua presença era suficiente. Eu sabia que ele entendia a profundidade do que eu estava sentindo. Sua mão firme em meu ombro era como uma âncora, algo que me mantinha estável em meio a um turbilhão de emoções.
— Eu sinto muito que você não tenha tido a chance de conhecê-lo melhor, Jimin. — ele disse, a voz baixa e carregada de sinceridade.
— Eu sei que o passado é um lugar doloroso para você, mas talvez conhecer a história dele te ajude a entender melhor quem você é.
Assenti, deixando suas palavras ecoarem dentro de mim. Ele estava certo. Saber quem foi meu appa, mesmo que isso viesse tarde demais, era algo essencial. Eu precisava preencher aquele vazio, dar a ele um lugar em minha vida, reconhecer sua presença, mesmo que fosse na ausência.
— Obrigado, Jungkook, — sussurrei, minha voz embargada. — Obrigado por me trazer até aqui.
Jungkook então se ajoelhou ao meu lado, e permanecemos em silêncio, cada um imerso em pensamentos. O vento balançava as folhas ao redor, e o som das árvores parecia nos envolver, como se o próprio ambiente reconhecesse a importância daquele momento. Era um silêncio respeitoso, um silêncio que falava mais do que qualquer palavra poderia.
Enquanto eu olhava para a lápide de meu appa, fiz uma promessa silenciosa. Eu não deixaria que sua memória fosse enterrada em mentiras, não mais. Ele era parte de mim, parte de minha história, e mesmo que isso trouxesse mais perguntas do que respostas, eu estava decidido a honrar quem ele foi, e a entender o que isso significava para mim.
Depois de alguns minutos, Jungkook tocou meu ombro novamente, um gesto simples, mas cheio de significado. Ele estava ali, oferecendo o apoio que eu nem sabia que precisava, oferecendo uma força inabalável que me ajudava a enfrentar o peso do passado.
— Isso é apenas o começo, Jimin — ele disse, a voz baixa e grave.
— Eu sei que o caminho que você tem pela frente não é fácil, mas eu estou aqui, ao seu lado, seja o que for que venha.
Olhei para Jungkook, sentindo uma gratidão que era difícil de expressar. Ele estava disposto a estar ao meu lado, a enfrentar o peso da minha história, mesmo que isso trouxesse dor e desafios. Sua presença não era apenas um conforto; era uma promessa de que eu não enfrentaria o que viesse pela frente sozinho.
Naquele cemitério antigo, entre as árvores que testemunharam tantos anos de silêncio, senti uma paz começar a brotar em meu peito. Pela primeira vez, a verdade não me parecia uma ameaça, mas uma chance de reconstruir, de recomeçar. Eu não sabia tudo sobre meu pai, mas agora tinha uma conexão, um ponto de partida para entender quem ele foi e, talvez, quem eu era.
Quando nos levantamos e começamos a voltar para a mansão, percebi que algo havia mudado dentro de mim. Eu não estava mais perdido em um passado de mentiras; eu estava pronto para encarar a verdade, com todas as suas imperfeições e sombras. E com Jungkook ao meu lado, senti que poderia enfrentar o que viesse. Eu tinha uma história para entender, um legado para honrar e, acima de tudo, um novo caminho para trilhar.
Naquela manhã nublada, eu soube que nunca mais voltaria a ser o mesmo.

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