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᜔ׁ ˖🍩 You! ᴘᴏɪɴᴛ ᴏғ ᴠɪᴇᴡ ꤫ׄ
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Eu nem sei por que aceitei essa ideia idiota. Podia ter ignorado, deixado alguém resolver, mas, não. Aqui estou eu, sentado do lado da cama dela, encarando aquela expressão apagada que, mesmo assim, consegue me irritar.
Ela tá toda machucada, a perna engessada e com o braço enfaixado. O acidente foi feio, e por algum motivo que nem Deus explica, me chamaram. Como se fosse minha obrigação resolver qualquer coisa que envolvesse essa mulher.
── Você é muito irresponsável, sabia? ── soltei, enquanto ajeitava o travesseiro dela, que tinha escorregado um pouco.
Ela abriu os olhos devagar, me olhando como se a dor fosse culpa minha. Mas era típico dela, né? Sempre arrumando um jeito de me provocar, até quando tá toda fodida.
── Não começa, Kay, pelo amor de Deus. ── a voz dela saiu baixa, mas ainda com aquele tom irritante que eu já conhecia bem.
── Não começa? Tá de brincadeira comigo? Quem sai dirigindo feito doida numa chuva daquelas? Tá vendo no que deu, né? ── cruzei os braços, tentando segurar o tom, mas era impossível.
Ela bufou, virando o rosto pro lado.
── Não tô com paciência pra ouvir sermão agora.
── Não é questão de sermão, s/n, é questão de bom senso, coisa que você nunca teve. Aí quem tem que lidar sou eu.
Silêncio. E eu devia ter ficado calado também, mas a sensação de ver ela tão vulnerável ali, dependendo de mim, era estranha. S/n sempre foi a pessoa que andava de nariz em pé, que gostava de me irritar em cada oportunidade que tinha. E agora? Agora era ela quem precisava de mim.
Respirei fundo, tentando não deixar meu tom mais duro do que já estava. Peguei a bandeja com a sopa que tinham deixado pra ela e coloquei em cima da mesinha.
── Come isso logo. Tá fraca e precisa se alimentar.
Ela olhou pra sopa e depois pra mim, com aquela sobrancelha arqueada que me tirava do sério.
── Não tô com fome.
── Não interessa. Vai comer.
── Por que você tá aqui mesmo, hein? Tá fazendo algum tipo de caridade?
Parei o que tava fazendo e encarei ela.
── Tô aqui porque sou menos irresponsável que você. Se dependesse dos outros, ia ficar jogada.
Ela ficou quieta, mas vi o olhar dela baixar, como se, pela primeira vez, estivesse aceitando o que eu dizia. Peguei a colher e me sentei na cadeira ao lado dela.
── Quer que eu dê na boca também? Porque se precisar, eu dou.
Ela riu de leve, aquele riso que parecia mais debochado do que aceitando minha ajuda.
── Você é insuportável, sabia?
── Olha quem fala. ── forcei uma risada, mas o clima já tava diferente.
A cada colherada que ela aceitava, eu sentia a tensão diminuindo, mas uma parte de mim ainda tava indignada com tudo aquilo. Por que eu tava tão preocupado com ela? Era só s/n. Aquela mesma que já tinha me irritado mais vezes do que eu conseguia contar.
── Kay... ── ela começou, a voz mais baixa dessa vez.
── O que foi? ── perguntei, sem muita paciência, mas curioso com aquele tom diferente.
── Obrigada. Por, sei lá, estar aqui.
Fiquei em silêncio por um instante, surpreso. Não esperava isso dela. Sempre tão orgulhosa, tão cheia de si. Balancei a cabeça, como se fosse nada demais.
── Não precisa agradecer. Só tenta não me dar mais trabalho, beleza?
Ela sorriu de lado, um sorriso sincero, o primeiro que eu tinha visto dela em anos. Por um segundo, senti algo estranho no peito, como se toda aquela rixa entre a gente tivesse perdido um pouco da força.
Me levantei pra ajeitar os travesseiros dela, e quando me inclinei pra mais perto, ela segurou meu braço.
── Kay... ── me chamou mais uma vez, quase como se não tivesse certeza do que ia dizer.
── O que foi agora? ── perguntei, olhando direto nos olhos dela.
── Você até que não é tão ruim quanto eu pensei.
Ri de leve, tentando disfarçar o nervosismo que começou a bater.
── E você é mais teimosa do que eu imaginava.
Antes que eu pudesse me afastar, ela puxou meu braço de leve, e, quando percebi, nossos rostos estavam perto demais. Por um segundo, pensei em recuar, mas a expressão dela era tão diferente do que eu tava acostumado.
Sem pensar muito, encostei meus lábios nos dela, devagar, como se estivesse testando o terreno. Ela não recuou. Pelo contrário, retribuiu com a mesma intensidade.
Quando me afastei, olhei pra ela, que tinha um pequeno sorriso no rosto.
── Só pra deixar claro, isso não muda o fato de que você é insuportável, tá? ── eu disse, tentando recuperar o controle da situação.
Ela deu uma risadinha e balançou a cabeça.
── Você fala demais, puta que pariu.
E, pela primeira vez, eu deixei pra lá. Talvez, cuidar dela não fosse tão ruim assim.
