O sol desapareceu, dando espaço para uma noite fria e nebulosa. Boa Vida, Gato, Professor e eu já estávamos apostos aguardando a troca de turno que ocorre às nove em ponto, como Lavínia havia escrito.
Sinalizo para que Boa Vida e Gato vigiem a entrada atrás de alguns carros, enquanto Professor segue para a rua de trás ao meu lado. Pulamos os arbustos e corremos até a porta de vidro da área de serviço. Professor tenta abrir, mas está tracanda. Me afasto olhando para cima e vendo uma janela aberta.
⏤ Eu vou subir.
⏤ Está doido Bala é alto demais. ⏤ diz baixo.
⏤ Já viu eu ter medo de alguma, mano? Eu vou subir. Fica de olho para ver se ninguém aparece. Qualquer coisa não me espere, vá embora.
⏤ Eu vou te esperar. ⏤ assinto.
Por sorte, havia uma escada da casa de piscina. Pego-a com a ajuda de Professor e a coloco na pilastra. Mexo no meu shorts arrumando a arma na cintura.
⏤ Onde você arrumou isso? ⏤ perguntou.
⏤ Peguei emprestada com uma amigo.
⏤ na verdade, eu roubei depois que saí correndo da casa de Baiano, voltei lá no fim da tarde invadi sua casa, pois sabia que ele tinha saído e peguei. Não foi difícil, já que ele não se dá o trabalho de esconder nada.⏤ Você não vai usar isso aqui, vai?
⏤ Se for necessário, sim.
⏤ Você está louco?! ⏤ ele aumenta um pouco a voz.
⏤ Fale baixo, quer que nos ouçam?
⏤ Você vai acabar machucando alguém.
⏤ Eu sei usar uma arma Professor, não sou burro, agora me deixe fazer o que tenho que fazer.
⏤ Eu vou subir com você.
⏤ Não, você vai ficar aqui vigiando, como eu mandei. ⏤ ele hesita.
⏤ Ok, mas toma cuidado.
Me viro e começo a subir a escada. Estou na sacada da casa, me reencosto na parede, andando devagar até a janela aberta. Coloco a cabeça para dentro olhando e volto à minha posição. Há duas pessoas dormindo na cama, provavelmente os pais dela.
Tomo coragem e respiro fundo. Me abaixo e engatinho para dentro. Estou no pé da cama quando congelo com o movimento da cama. Espero cinco minutos e volto a engatinhar para fora do quarto, onde a porta já estava aberta.
Me levanto e vou a procura do quarto de Lavínia. Abro com cuidado a primeira porta onde uma garotinha está dormindo com o dedo na boca, essa deve ser a irmãzinha dela. Fecho a porta e abro outra, mais uma pessoa dormindo. Porra quantas pessoas vivem nessa casa? Eu encosto a porta olhando para mais duas que ainda não olhei e descarto a da direita porque vejo ser um escritório e caminho até a outra que sobrou.
Me aproximo da cama e a olho, depois de dias sem vê-la. Movo a cabeça e a pego no colo. Ela desperta quando estou quase chegando na porta, abrindo os olhos lentamente. Ela solta um gritinho, tapo a boca dela. Seus olhos estão arregalados surpresa. Ela segura minha mão e retira da sua boca.
⏤ Bala?
⏤ Oi, princesa.
⏤ O que você está fazendo aqui?
⏤ Eu vim te buscar.
⏤ Você veio o qu... ⏤ ela abaixa a voz ao perceber que está gritando demais. ⏤ Os seguranças, meus pais... c-como você conseguiu entrar?
⏤ Eu te explico tudo depois, agora temos que sair daqui.
⏤ Você não vai a lugar algum com a minha filha. ⏤ o pai dela aparece na porta, acendendo a luz.
⏤ Pai? ⏤ solto ela no chão, mas ele não olha para a filha e avança para cima de mim agarrando a gola da minha camiseta.
⏤ Seu moleque como você ousa aparecer aqui depois de tudo?
⏤ Pai para com isso. ⏤ Lavínia grita. ⏤ Solta ele.
⏤ Eu não achei que fosse te encontrar tão rápido. Como é que você entrou aqui, hum? ⏤ não respondo sua pergunta. ⏤ Fala! ⏤ exige.
⏤ Pai. ⏤ Lavínia segura o seu braço, mas ele a joga contra a parede. Tentei ir até ela, mas seu pai bloqueia minha saída me acertando um soco no rosto.
⏤ Não se aproxime dela. ⏤ ele volta a me agarrar, sinto o sangue escorrer pelo meu nariz. Sorrio enquanto passo a mão pela minha cintura e retiro a arma de lá, encostando na sua barriga. Ele olha para baixo e, depois para mim, afrouxando as mãos. Afasto elas de mim e ergo arma, ainda apontando para ele.
⏤ Que gritos são esses aqui? ⏤ uma mulher surge no quarto com o irmão e a irmãzinha da Lavínia. Ela esconde a pequena atrás dela para que ela não veja a cena. Giro tentando estar perto de Lavínia, o irmão dela tenta passar mas o pai dele, que está com as mãos erguidas, o impede.
⏤ Não, fica ae.
⏤ Bala? ⏤ Professor aparece na porta eufórico, todos olham para ele. ⏤ Merda. ⏤ ele olha para Lavínia.
⏤ Leve ela. ⏤ mando.
⏤ O que? Você não vai levar minha filha. ⏤ o pai de Lavínia tenta ir para perto dela, mas eu engatilho a arma e aponto para a filha mais nova dele.
⏤ Se você se aproximar, eu atiro nela. ⏤ ele para, olho para Professor novamente. ⏤ Leve ela AGORA. ⏤ Professor agarra os pulsos de Lavínia e puxa. Estou logo atrás deles andando de costas para que ninguém tente nenhuma gracinha. Entramos no quarto dos pais dela, fecho a porta e guardo a arma na cintura. Lavínia já estava descendo as escadas e Professor estava atrás, eu faço o mesmo. No quintal, seguro as mãos dela e corremos pulando os arbustos. Professor vai até Boa Vida e Gato e grita. Os dois correm em nossa direção. Lavínia puxa a mão dela massageando seu pulso.
⏤ Temos que ir agora. ⏤ tento segurar a mão de Lavínia novamente mas ela não deixa. Professor, Gato e Boa Vida já estão correndo, Lavínia sai na frente me deixando para trás.
Fico ali parado, tentando entender o que acabou de acontecer, que só ouço Professor gritar:
⏤ Anda logo, Bala. ⏤ exaspero e começo a correr.
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Desculpa a demora para atualizar. Eu ia lançar esse capítulo no sábado, mas fiquei procastinando.
Quem aí que estuda e já passou de ano?
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Fearless
RandomRica e com uma família presente, Lavínia teria tudo o que quer se não fosse por sua vontade louca pela liberdade que seus pais lhe privam de ter. Em um dia quando viaja para Salvador para passar a temporada de verão com parentes diatantes, a garota...