Capítulo Dezenove: Bêbado

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Chegamos ao trapiche em segurança. Lavínia está na minha frente e eu tento acompanhá-la. Agarro seu braço, mas ela se solta.

⏤ Qual é o problema? ⏤ pergunto.

⏤ Qual é o problema? ⏤ ela ri sarcástica. ⏤ Qual é o seu problema? O que te fez pensar que poderia apontar uma arma para minha família?

⏤ Então, era isso. ⏤ ela continua rindo incrédula.

⏤ Então era isso? Você está brincadeira com a minha cara?

⏤ Olha, eu não ia atirar neles de verdade, tá legal? Eu só queria assustar. ⏤ ela não fala nada. ⏤ Você pode dizer alguma coisa.

⏤ Você apontou uma arma para minha irmã.

⏤ Eu sei.

⏤ A arma poderia ter disparado.

⏤ Ela não ia.

⏤ MAS PODIA! ⏤ ela grita, chorando. ⏤ Minha irmãzinha poderia estar morta. ⏤ engulo em seco, me aproximando.

⏤ Me desculpa, ok? ⏤ ela balança a cabeça e me dá um soco, atingindo o mesmo local em que seu pai havia me batido. Tropeço colocando a mão no nariz.

⏤ Idiota. ⏤ ela esbarra no meu ombro e sai para fora do trapiche.

⏤ Cara. ⏤ Professor se aproximou com cautela junto de Boa Vida e Gato, olhei para ele irritado.

⏤ Agora não é uma boa hora, Professor.

⏤ Eu sei, mas você deveria ir atrás dela, não é uma boa ideia deixá-la sozinha. ⏤ afasto a mão do rosto.

⏤ Por que não vai você? ⏤ passo por ele.

Estou irritado, não estou mais do que isso, eu quero descontar a minha raiva em algo para esquecer a burrada que eu fiz e da encrenca que me meti.

Desço a rua de paralelepípedo até o bar onde me encontro com Caixote, que vivia por lá. Me sentei na mesa em que ele estava e comecei a beber.

Enquanto ele falava sobre um trabalho que poderia ser para o meu bico, eu bebi mais quatro shots e estava pronto para ir pro quinto, mas Caixote tomou o copo da minha mão e eu olhei para ele.

⏤ Vai com calma aí, cara. Você bebeu demais, não acha?

⏤ Eu sei quando parar não preciso que me falem. Agora passa pra cá. ⏤ me refiro a bebida.

⏤ Você já está bêbado. ⏤ sorrio, afasto a cadeira e me levanto, derrubo a mesa atraindo a atenção dos clientes. Caixote me olha ainda com o como de shot na  mão. ⏤ O que houve com você?

⏤ Ei, moleque, o que você pensa que está fazendo? ⏤ me viro de costas quando um cara me cutuca. ⏤ Você está destruindo meu bar.

⏤ Seu bar? Essa porcaria nem deveria ser considerado um.

⏤ Tá legal vaza daqui, fora do meu estabelecimento. ⏤ ele aponta para a saída.

⏤ Com todo o prazer. ⏤ comecei a caminhar, mas parei dei meia volta e soquei a cara do homem. Chuto mais algumas cadeira e passo encarando Caixote. Bato a porta do bar e desço a rua cambaleando pelos muros. ⏤ Belas pernas. ⏤ digo quando uma mulher passa por mim, o homem que estava com ela me olha. ⏤ Se deu bem em cara. ⏤ o homem me agarra me joga no chão, me chutando. Caixote aparece e segura o homem. Eu ainda estou no chão rindo da situação. O homem ajeita a blusa e pega a mão da garota novamente e vai embora. Caixote me levanta.

⏤ Não sei o que rolou, mas você está péssimo cara. ⏤ fala. Viro o rosto e vomito. Caixote bate nas minhas costas, dando apoio moral.

Ele me leva ao trapiche e me deita no colchão. Estou tonto, mas posso ver ele conversando com Gato. Começo a delirar chamando pelo nome da Lavínia. Eles me olham.

⏤ Onde ela está? ⏤ pergunto.

⏤ Professor foi atrás dela. ⏤ Gato responde.

⏤ Traga ela até mim.

⏤ Mas...

⏤ É melhor você ir. ⏤ Caixote aconselha, Gato balança a cabeça e sai correndo.

Dez minutos depois, Lavínia aparece junto dele e de Professor. Ela corre até mim e se ajoelha.

⏤ Bala? ⏤ Professor tenta se aproximar, mas Gato o impede. Professor entende no mesmo segundo. ⏤ A gente volta depois. ⏤ e eles saiem.

⏤ Lavínia... ⏤ começo.

⏤ Não fala nada. O deu em você de beber assim, hum?

⏤ Eu só queria... me desculpa Lavínia, você tem todo o direito de ficar brava com o que fiz, não deveria ter apontando uma arma para sua irmã e nem para o idiota do seu pai. ⏤ ela ri.

⏤ Me desculpa pelo soco, eu vou cuidar disso. ⏤ ela se levanta, mas eu agarro o pulso dela.

⏤ Você pode fazer isso depois.

⏤ Mas o seu rosto...

⏤ Eu não vou morrer por causa de um soco, princesa. ⏤ me ajeito no colchão.
⏤ Deita comigo.

⏤ Eu...

⏤ Não seja durona, eu não mordo.

⏤ Tá legal, mas sem gracinhas, ouviu? ⏤ ela aponta o dedo.

⏤ Entendido. ⏤ ela se deita ao meu lado e se vira, ficando cara a cara comigo.

⏤ Eu te perdoo. ⏤ ela diz e eu sorrio.

⏤ Obrigado. ⏤ ela se remexe e fecha os olhos. Fico dois minutos olhando para ela dormindo, admirando sua beleza e, então, apago logo em seguida também.

Não gostei deste.

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