Capítulo 20

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David Wymack, às vezes, detestava ser treinador.

Ele podia ter feito qualquer outra coisa com sua vida. Seguir os passos do pai como mecânico não teria sido glamoroso, mas teria sido simples. A sensação tangível de consertar algo quebrado - o som do motor funcionando de novo - parecia algo recompensador. Ou talvez pudesse ter aberto uma padaria. Ele gostava da ideia de algo constante, algo em que a única preocupação fosse a temperatura do forno ou o sabor da massa.

Mas, em vez disso, ele escolheu ser treinador. Escolheu pegar jovens quebrados, com histórias que fariam até o mais endurecido dos homens recuar, e tentar transformá-los em algo funcional. Algo que pudesse enfrentar o mundo e sobreviver.

Era a ideia mais idiota que ele já teve.

Agora, enquanto respondia perguntas da polícia sobre um possível incêndio criminoso, Wymack sentia o peso de cada escolha que o levou até aquele momento. A presença da polícia nunca era um bom sinal, e com as Raposas envolvidas, ele sabia que as coisas podiam piorar.

Enquanto esperava pacientemente - ou pelo menos tentava - que os policiais terminassem de coletar depoimentos, Wymack manteve o olhar em seu time. A maioria deles estava reunida em silêncio, mas o ambiente ao redor deles era carregado de tensão. Eram jovens acostumados a serem culpados antes mesmo de uma investigação começar. E embora isso muitas vezes fosse justo, outras vezes... bem, outras vezes era apenas o mundo reafirmando como eles estavam quebrados.

E entre todos eles, estava Andrew.

Andrew Minyard, encostado no ônibus, com os braços cruzados e o olhar entediado, como se o incidente no estúdio fosse um inconveniente menor, e não algo que podia trazer consequências graves. Wymack sabia que Andrew era perigoso. Não só pelas ações óbvias - a violência latente que pairava como uma sombra -, mas pela inteligência fria e afiada que ele usava para manipular situações.

Se Andrew estava envolvido, ele tinha certeza de que ninguém encontraria provas.

Wymack suspirou, esfregando a têmpora enquanto analisava o garoto à distância. Ele não queria supor, mas também não era um homem ingênuo. Sabia que Andrew carregava segredos como armas, esperando o momento certo para usá-las. Ele também sabia que a confiança de Andrew - o pouco que existia - era uma linha tênue. Uma linha que Wymack precisava cruzar com cuidado.

....

Finalmente, eles foram liberados. O policial explicou que o incêndio havia sido causado por um curto-circuito na fiação de uma das câmeras do estúdio.

A história fazia sentido - até demais. Era uma explicação limpa, sem arestas. Simples e direta, como se o próprio universo tivesse decidido livrar todos de maiores complicações.

Wymack assentiu, agradeceu ao policial e manteve o rosto inexpressivo. Mas, por dentro, sua mente estava longe de convencida. Ele já tinha ouvido explicações convenientes como aquela antes. "Curto-circuito". "Falha técnica". Sempre havia uma razão plausível quando você queria evitar cavar mais fundo.

No caminho de volta ao ônibus, ele deixou a dúvida crescer. Ele não queria acusar um dos seus jogadores injustamente. Mas Wymack conhecia cada um deles. E sabia que nunca foi tão simples assim.

Tomando uma decisão, ele olhou para Andrew, o chamando antes que tivesse chance de entrar no ônibus.

"Número 03, uma palavrinha."

Andrew, que estava encostado no ônibus com os braços cruzados, ergueu uma sobrancelha com tédio absoluto. Sem pressa, ele se afastou do grupo, deixando para trás os olhares inquietos de see "Bando" - como Wymack os chamava mentalmente. Eles nunca pareciam à vontade quando Andrew se afastava.

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⏰ Última atualização: 6 days ago ⏰

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