Cap27-Tragédia

77 12 1
                                    

Tento me esquecer disso temporariamente e volto a andar, mas meus músculos fraquejam, eu estou cansada, estou destruída, conto mentalmente os passos, ditando um ritmo,um dois, um dois, mas talvez eu devesse prestar mais atenção aos sons da floresta, pois aí eu teria ouvido a criatura se aproximando, e não teria sido pega de surpresa quando ela pulou em cima de mim, e o pior é que me deixo vencer, não luto, não berro, apenas respiro e olho fundo nos olhos da besta, ela é como se fosse uma cobra gigante,seus olhos são um fogo intenso, eu me assusto, e sem que eu perceba saem lágrimas de meus olhos, eu os fecho,um temor passa por meu corpo, o que é isso?não consigo raciocinar, toda a minha vida passa pela minha mente, não, só a parte ruim,eu estou em desespero, há vozes em minha mente me sussurrando obscenidades, e eu sei que tenho que abrir os olhos, eu sei que tenho que esquecer e sair andando, mas eu estou com medo,medo de ver os olhos dela de novo...então ela sibila em meu ouvido:
-Que tal um jogo de pega pega?
E eu sei que ela foi embora, mas eu também sei que estou desesperada, que ela fez isso comigo, e eu sei também que tenho que correr, tenho que sair dessa floresta,ou ela vai me matar.
Eu tenho que salvar a todos.
Me levanto e corro,mas algo me empedi, eu me impeço.
Lembro do tempo feliz que passei na terra, talvez depois de tudo isso eu queira voltar...talvez uma visitinha...mas não, como encararia as pessoas? aqui eu sou a salvadora, não, aqui eu sou só mais uma, eu sou sempre só mais uma. Não. Grito a mim mesma, e volto a correr, que a caçada começe.
Corro com todas as minhas forças querendo chegar ao castelo o mais rápido possível, sinto os ventos atrás de mim e sei que ela está chegando, cansada parece que o mundo está mais devagar, tudo está em câmera lenta,olho para frente e vejo que a ponte está perto, se eu atravessa-la chego ao castelo, corro com cuidado; vejo que as madeiras que compõem a ponte estão soltas,estou com medo mas continuo;pelos meus amigos.
Uma tábua solta e meu pé passa por ela e eu desabo, olho para baixo; um rio vermelho passa a baixo de mim, apoio com as duas mãos e me levanto, corro sentindo que estou sendo perseguida, estou perto do castelo, provavelmente mais 10 passos e eu chego lá.
1, coração batendo rápido, 2, pernas trêmulas,3, dores horríveis,4, cansaço eminente,5,cabeça latejante,6, braços pesados,7,coluna doendo,8,estômago revirando,9, tontura,10, medo, finalmente...
Observo a pesada porta de madeira que está a minha frente; seja lá o que for que está lá dentro não é algo amigável e não abriria se eu batesse.
Empurro a porta com força e ela se abre, olho para dentro tudo está escuro,não tenho escolha, se eu ficar aqui fora:morro, se eu entrar:morro.
Entro e ando silenciosa,ouço a porta bater atrás de mim, as luzes se acendem e meu coração salta.
Lágrimas escorrem por minha face,vejo a paisagem mais horrível que já vi, meu coração se enche de tristeza, os olhos deles estão frios e sem vida, observando algo além do teto, outros além do chão.
Lanças estão grudadas no chão com a ponta pra cima, em cada uma delas há um de meus companheiros,um dos meus amigos,pessoas que não deveriam estar aqui,eu cheguei tarde de mais...olho ao redor, estão quase todos aqui menos...Alan,Stevan e Pedro.
Eu nunca tive a chance de conhecer nenhuma dessas pessoas profundamente mas sei que eram ótimos,lembro-me do momento mais marcante que passamos todos juntos: a guerra de comida, lembro dos sorrisos de cada um, o olhar vivo deles e meus ombros pesam,eram Boas pessoas....queria que tivéssemos mais tempo. ..só um pouco mais de tempo,queria me desculpar com cada um,talvez se eu tivesse chegado mais cedo estariam vivos, todos vivos...O que um dia eram vários agora são apenas 4, de todos que vieram na missão só sobrou eu, Alan, Stevan, Pedro, e eu nem sei realmente se estão vivos, eu só não os vejo aqui...Por que? Por que eu sou tão inútil? Eu não servi nem para salvar meus amigos,agora por minha culpa o chão está vermelho com o sangue de pessoas boas.
Afogando em lágrimas respiro fundo e continuo a andar,há uma porta na minha frente, a abro esperando o pior, então eu vi,gritei.
Alan, Pedro e Stevan sangravam amarrados na parede em minha frente com marcas de chicotes e os braços abertos,sem reação ajoelhei no chão e comecei a gritar,lembrando de cada momento que passamos juntos, lembrando do provável "eu te amo" de Stevan, e agora que o vejo nessa situação percebo que o amo...Se eu tivesse percebido isso antes,talvez eu pudesse ter dado valor, mas eu me recusava a aceitar o fato de ama-lo...Por que?
  -Eles ainda estão vivos criança,e continuaram vivos...Se você me derrotar, já os outros...Não tiveram tanta sorte;eu estava louco por sangue, então não me segurei.-Ouço Uma Voz masculina em um tom de deboche, rindo do meu sofrimento.
Meus olhos se enchem de fúria,me levanto e grito, mas agora com mais raiva que tristeza,sinto uma forte magia fluindo de meu corpo,meu cabelo ficando mais escuro, meus olhos brilhando...na verdade todo meu corpo está brilhando,não é como quando Jade me controlava, é diferente...mais feroz,eu não sei exatamente o que está acontecendo,mas estou...poderosa.

Teto de Vidro-Série dos três Reinos-Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora