Volto para meu quarto atordoada, com dor de cabeça e mãos tremendo. Apoio-me na escrivaninha, me sento enquanto encaro meu reflexo e tiro a tiara. Molly se aproxima e começa a lamber meus dedos do pé, eu a pego no colo e faço carinho em sua cabeça.
Alguém bate na porta que está entre aberta.
- Pode entrar – digo desanimada.
- As pessoas estão sentindo sua falta – diz Felix – disse a ela que você teve um imprevisto e precisava de um momento sozinha.
- Obrigada.
- Aconteceu alguma coisa? Vi seu namorado no corredor ele parecia nervoso.
- Miles não é meu namorado! – respondo.
- Entendi – ele diz levantando as mãos como se estivesse prestes a ser atacado.
- Me perdoa – peço olhando para ele – Não queria gritar com você, o Miles...
- Está tudo bem. Não se preocupe com isso.
Felix puxa uma cadeira e se senta perto de mim.
- Ganhou um cachorrinho – comenta ele.
- É. O nome dela é Molly, foi um presente dele.
- Por que não me conta o que houve entre vocês? – sugere Felix.
- Resumidamente; o meu melhor amigo está apaixonado por mim, mas eu não estou, e ele resolveu me contar isso hoje, provavelmente ficou com ciúmes de todos os príncipes que vieram.
- Nem sei o que dizer.
Deixo Molly no chão.
- Eu já sabia o que ele sentia, e queria que ele confiasse em mim, porque assim a mancha sumiria.
- Mancha? – ele questiona franzindo as sobrancelhas.
Me endireito na cadeira.
- Desde que comecei a escrever para o Guardião, eu vejo manchas nas pessoas, como se fosse as dores ou os traumas delas, e quando elas contam a origem da ferida a mancha some.
- Ah.
- Se eu me concentrar até consigo descobrir o que é.
Ficamos em silencio.
- Estranho eu sei – digo.
- Se serve de consolo – ele começa – eu consigo ver cores.
- Foi piada? – pergunto – Porque eu não entendi.
- Não, não é piada – responde ele – eu realmente consigo ver, como se fosse a aura delas ou sei lá. Como acha que eu achei você?
- Pensei que tivesse visto a luz do quarto.
- Que nada – ele diz – eu vi uma áurea azul reluzindo pelo vão da porta.
- Então a minha é azul? – pergunto curiosa.
- Depende da emoção que a pessoa sente – ele responde – você estava triste e agora está calma, são dois tons diferentes de azul.
- Não dá para acreditar – comento.
- Ah claro! – ele exclama sarcasticamente – Feridas tudo bem, mas áurea é loucura.
Eu rio.
- Por que será isso acontece com a gente? – Quer dizer os meus tios acreditam, o Miles também, mas eles não veem essas coisas.
Felix dá de ombros.
- Não é como se tivesse um manual para isso – comenta ele.
Manual? E se na verdade nós temos?
- Eu tive uma ideia – anuncio.
Procuro nas gavetas pelo livro de conto de fadas que ganhei de aniversário do papai.
Coloco o livro em cima da mesa e começo a folheá-lo.
- É o livro que seu pai te deu? – ele pergunta se aproximando.
Confirmo com a cabeça.
- A minha mãe me contava histórias sobre o Guardião – conto – Se existe explicação para o que acontece conosco está aqui.
Felix me ajuda a procurar por qualquer coisa, lemos apressadamente cada página bem escrita e com lindos desenhos feitos a mão. Tudo parece ter sido feito com muito cuidado, eu queria ter lido com calma antes de usa-lo como pesquisa. Nós dois continuamos debruçados na mesa lendo com vontade, prestando atenção em cada detalhe até que de repente Felix segura tenso uma das páginas.
- O que foi? – questiono preocupada.
- Leia essa parte – ele diz apontando para a página a esquerda.
Eu me aproximo da folha e leio.
O Guardião pode entrar habilidade explicitas para pessoas que não esperam isso, essa habilidade é chamada de dons e podem ser tirados com a mesma facilidade que foram entregues...
- Achamos a explicação – digo.
- Tem mais coisa? – pergunta ele puxando o livro.
- Acho que não – respondo – Por que você vê cores e eu feridas? Não é justo.
Ele ri.
- Está chateadinha? – ele zomba.
- Claro! – exclamo – feridas são muito feias, é de dar pesadelos.
- Você tem pesadelos com elas?
- Não – respondo – mas eu poderia.
Ele ri alto e eu o acompanho.
- Olha – ele começa ainda sorrindo – Eu não quero ser estraga prazeres, mas nós realmente temos que voltar para a festa.
Meu sorriso se fecha.
- Devemos ir então – digo me levantando e andando até a porta.
- Ei – Felix diz caminhando em minha direção – Nós vamos voltar, sorrir e nos divertir.
- Mesmo com uma guerra? – pergunto seria.
O sorriso dele se desfaz.
- Eu sei o que está acontecendo – conto – e sei que todos nesse palácio esconderam isso de mim.
- Não entendo porque o rei nos pede para esconder as coisas de você – comenta ele – você descobre de qualquer jeito.
Não consigo evitar o sorriso.
Felix passa pela porta e estende o braço.
- Vamos? – ele questiona simpático.
Eu agarro seu ante braço e nós caminhamos pelo corredor em direção ao grande salão, ainda com varias pessoas dançando, conversando e comendo.
Passo os olhos pelo lugar com várias pessoas bem vestidas, então paro meu olhar em uma garota com roupa de gala lilás, ela está com o cabelo amarrado em um coque, mesmo assim é possível ver as mechas roxas.
Solto-me de Felix e corro até Jessie a abraçando com força.
- É tão bom ver você! – digo feliz
- Desculpa pela demora – ela diz – Eu devo ter perdido toda a diversão.
- Não se preocupa – a tranquilizo – Vou te contar tudo, e acredite tem muita coisa.
- Eu também tenho coisas para contar.
- Como o que? – pergunto.
- Você percebeu que o Ben não está comigo – diz entristecida.
- O que houve? – seguro suas mãos preocupadas.
- Nós terminamos – conta ela – As coisas não estavam dando certo, estávamos brigando muito.
- Não julgue um bombom pela embalagem – digo.
Ela solta uma risada.
- Mas e você? – ela pergunta – Quais as novidades?
- Acho melhor se sentar – digo sorrindo de nervoso.
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O conto de Dimirard.
FantasyAime é a primogênita de Dimirard , apesar de ter tudo sua vida se resume a se preparar para o grande dia da sua coroação quando será formalmente conhecida. Mas antes que isso aconteça Aime decide aproveitar seus últimos meses como uma garota normal...