Capítulo 24: Manchas e cores

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Volto para meu quarto atordoada, com dor de cabeça e mãos tremendo. Apoio-me na escrivaninha, me sento enquanto encaro meu reflexo e tiro a tiara. Molly se aproxima e começa a lamber meus dedos do pé, eu a pego no colo e faço carinho em sua cabeça.

Alguém bate na porta que está entre aberta.

- Pode entrar – digo desanimada.

- As pessoas estão sentindo sua falta – diz Felix – disse a ela que você teve um imprevisto e precisava de um momento sozinha.

- Obrigada.

- Aconteceu alguma coisa? Vi seu namorado no corredor ele parecia nervoso.

- Miles não é meu namorado! – respondo.

- Entendi – ele diz levantando as mãos como se estivesse prestes a ser atacado.

- Me perdoa – peço olhando para ele – Não queria gritar com você, o Miles...

- Está tudo bem. Não se preocupe com isso.

Felix puxa uma cadeira e se senta perto de mim.

- Ganhou um cachorrinho – comenta ele.

- É. O nome dela é Molly, foi um presente dele.

- Por que não me conta o que houve entre vocês? – sugere Felix.

- Resumidamente; o meu melhor amigo está apaixonado por mim, mas eu não estou, e ele resolveu me contar isso hoje, provavelmente ficou com ciúmes de todos os príncipes que vieram.

- Nem sei o que dizer.

Deixo Molly no chão.

- Eu já sabia o que ele sentia, e queria que ele confiasse em mim, porque assim a mancha sumiria.

- Mancha? – ele questiona franzindo as sobrancelhas.

Me endireito na cadeira.

- Desde que comecei a escrever para o Guardião, eu vejo manchas nas pessoas, como se fosse as dores ou os traumas delas, e quando elas contam a origem da ferida a mancha some.

- Ah.

- Se eu me concentrar até consigo descobrir o que é.

Ficamos em silencio.

- Estranho eu sei – digo.

- Se serve de consolo – ele começa – eu consigo ver cores.

- Foi piada? – pergunto – Porque eu não entendi.

- Não, não é piada – responde ele – eu realmente consigo ver, como se fosse a aura delas ou sei lá. Como acha que eu achei você?

- Pensei que tivesse visto a luz do quarto.

- Que nada – ele diz – eu vi uma áurea azul reluzindo pelo vão da porta.

- Então a minha é azul? – pergunto curiosa.

- Depende da emoção que a pessoa sente – ele responde – você estava triste e agora está calma, são dois tons diferentes de azul.

- Não dá para acreditar – comento.

- Ah claro! – ele exclama sarcasticamente – Feridas tudo bem, mas áurea é loucura.

Eu rio.

- Por que será isso acontece com a gente? – Quer dizer os meus tios acreditam, o Miles também, mas eles não veem essas coisas.

Felix dá de ombros.

- Não é como se tivesse um manual para isso – comenta ele.

Manual? E se na verdade nós temos?

- Eu tive uma ideia – anuncio.

Procuro nas gavetas pelo livro de conto de fadas que ganhei de aniversário do papai.

Coloco o livro em cima da mesa e começo a folheá-lo.

- É o livro que seu pai te deu? – ele pergunta se aproximando.

Confirmo com a cabeça.

- A minha mãe me contava histórias sobre o Guardião – conto – Se existe explicação para o que acontece conosco está aqui.

Felix me ajuda a procurar por qualquer coisa, lemos apressadamente cada página bem escrita e com lindos desenhos feitos a mão. Tudo parece ter sido feito com muito cuidado, eu queria ter lido com calma antes de usa-lo como pesquisa. Nós dois continuamos debruçados na mesa lendo com vontade, prestando atenção em cada detalhe até que de repente Felix segura tenso uma das páginas.

- O que foi? – questiono preocupada.

- Leia essa parte – ele diz apontando para a página a esquerda.

Eu me aproximo da folha e leio.

O Guardião pode entrar habilidade explicitas para pessoas que não esperam isso, essa habilidade é chamada de dons e podem ser tirados com a mesma facilidade que foram entregues...

- Achamos a explicação – digo.

- Tem mais coisa? – pergunta ele puxando o livro.

- Acho que não – respondo – Por que você vê cores e eu feridas? Não é justo.

Ele ri.

- Está chateadinha? – ele zomba.

- Claro! – exclamo – feridas são muito feias, é de dar pesadelos.

- Você tem pesadelos com elas?

- Não – respondo – mas eu poderia.

Ele ri alto e eu o acompanho.

- Olha – ele começa ainda sorrindo – Eu não quero ser estraga prazeres, mas nós realmente temos que voltar para a festa.

Meu sorriso se fecha.

- Devemos ir então – digo me levantando e andando até a porta.

- Ei – Felix diz caminhando em minha direção – Nós vamos voltar, sorrir e nos divertir.

- Mesmo com uma guerra? – pergunto seria.

O sorriso dele se desfaz.

- Eu sei o que está acontecendo – conto – e sei que todos nesse palácio esconderam isso de mim.

- Não entendo porque o rei nos pede para esconder as coisas de você – comenta ele – você descobre de qualquer jeito.

Não consigo evitar o sorriso.

Felix passa pela porta e estende o braço.

- Vamos? – ele questiona simpático.

Eu agarro seu ante braço e nós caminhamos pelo corredor em direção ao grande salão, ainda com varias pessoas dançando, conversando e comendo.

Passo os olhos pelo lugar com várias pessoas bem vestidas, então paro meu olhar em uma garota com roupa de gala lilás, ela está com o cabelo amarrado em um coque, mesmo assim é possível ver as mechas roxas.

Solto-me de Felix e corro até Jessie a abraçando com força.

- É tão bom ver você! – digo feliz

- Desculpa pela demora – ela diz – Eu devo ter perdido toda a diversão.

- Não se preocupa – a tranquilizo – Vou te contar tudo, e acredite tem muita coisa.

- Eu também tenho coisas para contar.

- Como o que? – pergunto.

- Você percebeu que o Ben não está comigo – diz entristecida.

- O que houve? – seguro suas mãos preocupadas.

- Nós terminamos – conta ela – As coisas não estavam dando certo, estávamos brigando muito.

- Não julgue um bombom pela embalagem – digo.

Ela solta uma risada.

- Mas e você? – ela pergunta – Quais as novidades?

- Acho melhor se sentar – digo sorrindo de nervoso.

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O conto de Dimirard.Where stories live. Discover now