CAPÍTULO TREZE

111 4 1
                                    


OS TRAPILHOS

Han não sabia dizer o que deu nele para que decidisse levar a garota. Ela era inconveniente e


pouco cooperativa. Apenas o atrasava, sem mencionar o fato de tentar apunhalá-lo com a faca


chique. Sem dúvida, ele cruzaria Ponte Austral e estaria na segurança de Feira dos Trapilhos


antes, sem ela. Com um pouco de sorte, Jemson e os outros não se libertariam do estúdio até de


manhã, portanto ele não precisava realmente de uma refém. E agora ele tinha o problema do


que fazer com ela.


Pelo menos, ela não estava mais lutando com ele, mas trotou, obediente, ao lado do rapaz


enquanto ele a conduzia mais fundo em Feira dos Trapilhos e viravam em ruas e becos para que


ela nunca encontrasse o caminho de volta por conta própria. Ele encontrava o caminho pelo


mapa em sua mente. Ao se afastarem da rua principal, tudo ficou escuro, por isso, não teria feito


diferença para a garota ficar sem a venda. Ainda assim, ele podia ver pelo modo como ela


inclinava a cabeça e contava baixinho a cada curva que ela estava tentando acompanhar o trajeto.


Ela procurava por outra chance de escapar.


Havia algo na garota que o intrigava. Ela se vestia como uma serva dos nobres, com roupas


extragrandes, trazia uma bolsa pesada e tinha os modos de uma duquesa. Tão segura de si. Digna,


até.


De onde isso vem?, perguntou-se ele. A ideia de que você merece mais do que a sua cota do


mundo?


A Guarda da Rainha não tortura as pessoas, proclamara ela, como se fosse algum tipo de


especialista. Você terá um julgamento justo.


Desculpe, garota, pensou ele. Eu sou o especialista nisso, e não estou comprando o que você


está vendendo.


Ele ponderou sobre o que sabia sobre ela. Ela se fechara com Jemson e um comerciante do clã


que poderia ser Averill Pés Ligeiros Demonai, patriarca do Campo Demonai. Fazia três anos


desde que ele o vira: as visitas de Han a Pinhos Marisa foram esporádicas nos últimos três anos


nas ruas, e lorde Demonai raramente visitava Pinhos Marisa. Mas o rosto dele não era esquecível.


Aquele garoto alto, moreno e sério - o que o reconhecera - era o cabo Byrne, que estivera


com os casacos azuis que o haviam agarrado do lado de fora de O Barril e a Coroa. Além disso,


havia os outros casacos azuis que vieram correndo quando Byrne os chamou. O que todos eles


estavam fazendo ali, sem uniforme? Jemson não tinha o hábito de passar tempo com a Guarda.


Claro, poderia ser apenas sua costumeira má sorte. Ao menos, isso era consistente.
Será que o cabo Byrne era o namorado da garota? Ele apostaria que sim, pelo modo como o


outro agira. Han pensou em outra coisa: talvez eles tivessem ido ali para se casar, com os amigos


como testemunhas. Os oradores faziam casamentos o tempo todo.

O Rei DemônioOnde histórias criam vida. Descubra agora