CAPÍTULO OITO

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LIÇÕES A SEREM APRENDIDAS

- Mari, anda rápido ou a gente vai se atrasar! - chamou Han. Ele podia ouvir o ressoar dos


sinos do templo pela cidade, marcando a meia hora. - E passe um pente pelo cabelo, está bem?


Parece um ninho de ratos.


- Mas eu não quero ir à escola - resmungou Mari, amarrando os sapatos. - Não podemos


ir ver o Lucius? Ele está me ensinando a pescar.


- Está chovendo. Além disso, mamãe não gosta que você visite o Lucius - falou Han. -


Ela acha que ele é má influência.


- Mamãe não gosta que você visite o Lucius - retrucou Mari e fez um esforço para


desembaraçar os nós de seu cabelo. - E você vai mesmo assim.


- Quando você tiver a minha idade, pode aborrecer a mamãe por conta própria - falou ele


e pensou que Mari era inteligente demais para o próprio bem. Além disso, tinha uma boca que


ainda lhe traria problemas. Ele sabia bem como era.


Han pegou o pente da mão de Mari e usou-o junto com os dedos para ajeitar o cabelo dela.


- Mamãe não vai saber, mesmo - insistiu Mari, se encolhendo quando ele puxou os cabelos


dela. - Ela só volta do Castelo bem tarde.


- Apenas cale a boca, Mari - falou, sem delicadeza. - Se você não pode ler, escrever, nem


fazer conta, você vai ser enganada durante toda a vida. E como vai aprender alguma coisa?


- Mamãe não consegue ler nem escrever e trabalha para a rainha - argumentou Mari.


- Por isso mesmo, ela quer que você vá para a escola - disse Han.


Fazia duas semanas desde que Han trouxera o amuleto para casa, e as vidas deles adquiriram


uma cadência diferente. A mãe tinha um novo trabalho na lavanderia no Castelo de Fellsmarch.


Era dinheiro certo, mas ela precisava sair muito antes da aurora e caminhar por toda a cidade,


cruzando várias pontes até chegar. E nunca voltava para casa antes de escurecer também;


portanto, eles estavam sozinhos na hora do jantar. Mas, pelo menos, havia jantar.


Tornara-se tarefa de Han levar e trazer Mari da escola, o que dificultava trabalhar para Lucius.


Uma ou duas vezes, ele a levara nas rondas. Hoje ele pretendia deixar Mari na escola, parar em O


Barril e a Coroa, além de algumas outras tabernas em Ponte Austral, e ir e voltar da casa de


Lucius antes que Mari terminasse suas aulas. Era um risco - os Austrinos podiam estar


esperando por ele -, mas tinha que ser feito.


Han umedeceu um trapo na bacia para esfregar o rosto da irmã, para que os oradores do


templo não pensassem que ela era negligenciada. Ele não podia fazer nada em relação às roupas


dela, mas ela não era a única que vestia trapos de segunda mão.
- Vamos.


Ainda estava escuro nas ruas estreitas e nos becos de Feira dos Trapilhos. Chovera forte

O Rei DemônioOnde histórias criam vida. Descubra agora