CAPÍTULO QUATRO

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UM BAILE DE PRETENDENTES

A tarde estava terminando quando Raisa finalmente subiu a escadaria curva de mármore que


levava à torre da rainha. Tudo nela doía; estava imunda e fedia a fumaça. Mellony já estava no


banho. Raisa ouviu a irmã cantando e espirrando água ao passar diante dos aposentos dela no


alto da escadaria. Mellony estava sempre tão terrivelmente animada.


Raisa tinha se mudado para novos aposentos depois de voltar do Campo Demonai; maiores,


mais elaborados, dignos de uma princesa-herdeira de quase 16 anos, ou seja, quase pronta para


casar. Originalmente, ela tinha sido designada a um conjunto de aposentos próximo à ala da


rainha, forrado em veludo e damasco, equipado com uma imensa cama com dossel e um


armário, todos de cerejeira. Parecia lotado mesmo quando Raisa estava sozinha.


Raisa tinha implorado à mãe a reabertura do apartamento no extremo oposto do corredor,


que tinha permanecido interditado e ignorado desde sempre. Havia muitos apartamentos


fechados no Castelo de Fellsmarch, já que a corte era menor atualmente, mas poucos com uma


localização tão privilegiada, com acesso direto à rainha.


Alguns servos veteranos diziam que o apartamento tinha sido abandonado porque sua parede


de janelas o fazia frio no inverno e quente no verão. Outros contavam que era amaldiçoado, que


tinha sido daquele exato quarto que Hanalea fora raptada pelo Rei Demônio há mil anos, o


incidente que levou à Cisão. Nessa versão, a própria Hanalea tinha ordenado que o apartamento


fosse lacrado, jurando que jamais pisaria nele novamente.


A lenda afirmava que o fantasma de Hanalea às vezes aparecia na janela em noites


tempestuosas, com mãos estendidas, os cabelos soltos serpenteando ao redor da cabeça,


chamando por Alger Waterlow.


Isso era simplesmente ridículo, pensou Raisa. Quem esperaria numa janela por um demônio,


ainda por cima chamando seu nome?


Quando a mãe de Raisa finalmente cedeu, e os carpinteiros removeram as barreiras, foi


descoberto um conjunto de aposentos congelados no tempo, como se o ocupante anterior


pretendesse voltar. Os móveis estavam reunidos sob lençóis para protegê-los do sol brilhante que


penetrava pelas janelas empoeiradas. Quando as cortinas foram removidas, os tecidos brilhavam,


surpreendentemente vibrantes após mil anos.


Os objetos da última ocupante estavam arrumados exatamente como ela os deixou. Uma


boneca com um vestido antiquado espiava de uma prateleira no canto. Tinha uma cabeça de


porcelana com olhos azuis vazios e longos cachos loiros. Havia pentes e escovas espalhados na penteadeira, com cerdas roídas por camundongos, e, arrumados sob um espelho prateado, frascos


cristalinos de perfume há muito evaporado.


Vestidos de uma era perdida estavam pendurados no armário, feitos para uma menina alta e

O Rei DemônioOnde histórias criam vida. Descubra agora