CAPÍTULO NOVE

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OLHOS E OUVIDOS

No dia seguinte ao incêndio da montanha, Raisa passou toda a manhã com o novo tutor de


idiomas e tentou enrolar a língua ao redor das vogais suaves do sul. Tamric era uma língua


confusa por causa de sua imprecisão e duplos sentidos. Feita para a política. Raisa gostava muito


mais das ênfases firmes da língua do Vale ou das nuances sutis da língua dos clãs.


Quando estavam terminando, o mensageiro da rainha trouxe um pedido para que Raisa se


juntasse à mãe ao meio-dia em seus aposentos. Isso era estranho o bastante para que Raisa se


perguntasse em que tipo de encrenca se metera.


Quando o camareiro acompanhou Raisa até os aposentos de sua mãe, ela encontrou a mesa


posta para duas pessoas. A mãe sentava-se junto ao fogo, os cabelos claros estavam soltos e um


xale reluzente de seda descia ao redor dos ombros dela. Parecia que a rainha sempre estava com


frio. Ela sofria como uma delicada flor das terras baixas transplantada para um clima inóspito.


Em contraste, Raisa sentia-se como o resistente líquen alpino, escuro, teimoso e rente ao chão.


Raisa inclinou-se para a mesura e olhou ao redor ao fazer isso.


- Mamãe? Apenas nós?


Marianna deu um tapinha na cadeira a seu lado.


- Sim, querida, mal tivemos chance de conversar desde que você voltou de Demonai.


Graças ao Criador, pensou Raisa. Ultimamente, parecia que ela nunca tinha chance de ficar a


sós com a mãe. Lorde Bayar estava sempre por perto. Esta era a chance de conversar com a


rainha sobre a questão dos mercenários. Talvez ela pudesse até persuadir a mãe a intervir e


ordenar ao capitão Byrne que enviasse Amon para a guarda pessoal de Raisa.


A garota se sentou perto da mãe, e Marianna serviu o chá de um bule pesado sobre a mesa.


- Você está bem, depois daquele susto pavoroso em Hanalea? - perguntou a rainha. - Eu


não consegui dormir na noite passada. Devo pedir a lorde Vega que a examine? - Harriman


Vega era o médico da corte.


- Estou bem, mãe - falou Raisa. - Alguns calombos e hematomas, é tudo.


- Graças aos Bayar - disse Marianna. - Temos muita sorte pelo nosso Grão Mago, e o


jovem Micah parece ter herdado o talento de lorde Bayar, não acha? E sua bela aparência -


emendou ela e deu uma risadinha afetada.


- Os Bayar são impressionantes. - Raisa tomou um longo gole de chá e recordou o


encontro com Micah no corredor, perguntando-se quando e se deveria mencioná-lo.


- Como vão os seus estudos? - indagou Marianna. - Temi que você pudesse ter se


esquecido de tudo que já tinha aprendido, depois de ficar isolada nos Campos por tanto tempo, mas recebi boas notícias dos seus professores. - Ela parecia levemente surpresa.

O Rei DemônioOnde histórias criam vida. Descubra agora