CAPÍTULO DOZE

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PÃO E ROSAS

Raisa descobriu que a lavanderia do palácio era um bom lugar para remexer e procurar disfarces.


As roupas de todas as pessoas, a não ser por aquelas enfeitadas demais para serem lavadas,


passavam por ali. E naquele momento ela não tinha necessidade de roupas enfeitadas.


Ela tinha esperança de passar por ama de alguma dama ou pela governanta de alguém, mas


não era fácil encontrar roupas que coubessem em seu corpo pequeno. Depois de remexer na


roupa recém-lavada, ela optou por uma saia comprida e blusa branca de linho com um corpete


confortável por cima. Teve que amarrar as mangas bem apertadas para evitar que descessem para


as mãos, e as saias arrastavam-se pelo chão. Mesmo depois de enrolar os cabelos compridos em


uma rede de renda, ela ainda se sentia totalmente reconhecível. Ela era a princesa-herdeira do


reino. Todos a conheciam. Como o plano poderia funcionar?


Hanalea não sentira medo, repetiu para si mesma. A rainha lendária de aparência popular


frequentemente caminhava, anônima, entre os próprios súditos. Se ela podia fazer isso, então...


Raisa treinou um passo tímido e arrastado e tentou não tropeçar nas saias compridas, fazendo


mesuras a cada passo. Ela mantinha os olhos baixos e murmurava: "Sim, senhora" e "Não,


senhor". E escondeu o disfarce na câmara secreta aos pés dos degraus do jardim.


Felizmente, Magret foi para cama no meio do dia por causa de uma de suas terríveis dores de


cabeça. Raisa considerou isso um sinal do Criador e mandou dizer à mãe que jantaria em seus


aposentos. Depois, no fim da tarde, Raisa arriscou-se na Sala do Romance.


Era esse o nome que Raisa dera. Era um pequeno closet fora do quarto em que Magret


guardava os presentes enviados pelos futuros pretendentes de Raisa depois de anotar os detalhes


em um livro de registro que Raisa chamava de O grande livro dos subornos.


Os presentes teoricamente homenageavam o 16º rebatizado de Raisa e sua entrada oficial na


vida adulta, além de sua entrada, por coincidência, no mercado matrimonial.


Joias transbordavam de um baú prateado que fora enviado por Henri Montaigne, herdeiro do


trono de Arden, que fora morto recentemente. Pelo menos, ele não esperaria um retorno pelo


investimento. Os outros irmãos Montaigne contribuíram com os próprios presentes e, sem


dúvida, cada um tinha esperança de que um casamento com a princesa-herdeira de Fells apoiasse


suas reivindicações ou oferecesse uma fonte confiável de renda para a guerra decadente.


Markus IV, rei de Tamron, enviara um conjunto de caixas de joias esmaltadas, de valor


inestimável, além de um convite para visitar o chalé à beira-mar em Porto de Areia. As caixas


tinham inscrições com as iniciais M e R entrelaçadas. Markus não parecia nem um pouco

O Rei DemônioOnde histórias criam vida. Descubra agora