CAPÍTULO QUINZE

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ESTRANHOS COMPANHEIROS

Amon Byrne não era o tipo de pessoa que pensava demais nas coisas. Normalmente, tomava


uma decisão e seguia em frente. Mas daquela vez era diferente. Ele havia repensado todas as suas


decisões, durante os dois últimos dias, mais do que fizera antes em toda a vida.


Eles só foram libertados do gabinete de Jemson na manhã seguinte ao rapto de Raisa.


Àquela altura, o rastro já tinha esfriado. Amon enviara os Lobos Gris correndo até Feira dos


Trapilhos para procurar algum vestígio de Alister Algema ou Raisa, enquanto ele ia direto até o


pai para confessar o que havia feito.


Ele encontrou o pai tomando o café da manhã, sozinho, como era seu hábito. Assim que as


primeiras palavras saíram da boca de Amon, o capitão Byrne parou de comer, recostou-se e


ouviu, com expressão severa, fazendo uma pergunta aqui e ali.


Quando Amon terminou, o pai jogou o guardanapo na mesa e enviou o ordenança para levar


os soldados de serviço para a sala da guarnição.


Amon ofereceu a espada ao pai, com o punho virado para ele.


- Lamento, senhor - falou ele rigidamente. - Nesse momento, entrego meu coman...


- Pode manter - rosnou o pai. - Provavelmente, você vai precisar.


- Senhor? - gaguejou Amon, confuso. - Mas... quando a rainha ouvir...


- As rainhas Lobo Gris são obstinadas - disse o pai. - Ninguém sabe disso melhor do que


eu. A tarefa mais difícil que um guarda enfrenta é dizer não à soberana quando sabe que isso


pode resultar em sua dispensa, prisão ou morte. - Ele fitou Amon com seu olhar aquilino. -


Mas, algumas vezes, é necessário dizer não. Você deveria ter dito para a princesa-herdeira.


- Mas como fazer isso, senhor? - Amon devolveu a espada à bainha. - Quer dizer, nós


servimos à rainha, e então...


- Servimos à linhagem das rainhas - disse o pai. - Servimos ao trono. Algumas vezes, o


indivíduo faz uma escolha ruim.


Amon fitou o pai.


- Mas isso não é... não é...


- Traição? - O capitão Byrne esboçou um sorriso. - Alguns diriam que sim. Quem somos


nós, afinal? - Ele se levantou, caminhou até a lareira e cutucou o fogo com um atiçador. O


arranjo cuidadoso das lenhas desfez-se numa fonte de centelhas.


- Nós, os Byrne, estamos aqui por causa de um pacto feito com Hanalea, a primeira desta


linhagem teimosa - disse o pai, fitando o fogo. - É um negócio arriscado, com certeza, mas todos ficaremos bem desde que nossos olhos estejam voltados para o bem da linhagem e o bem


do reino.


- Mas... nem todos na Guarda estão preocupados com o bem do reino - disse Amon e


pensou em Mac Gillen.


O pai assentiu.


- Foi-se o tempo em que o capitão escolhia cada um dos homens e mulheres que enviava

O Rei DemônioOnde histórias criam vida. Descubra agora