CAPÍTULO TRÊS

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EMBOSCADA

Por todo o caminho de volta até o Campo Pinhos Marisa, a atitude e a postura de Dançarino


desencorajaram qualquer bate-papo. Ele caminhava com os esguios ombros encolhidos, e seu


rosto, geralmente luminoso, estava obscuro. Depois de duas tentativas, Han desistiu e ficou


sozinho com as próprias perguntas.


Ele não sabia nada sobre feitiçaria além dos avisos assustadores da mãe. Os poderes


apareceriam na infância, ou só bem mais tarde? Seria necessário ter amuletos, como aquele que


pesava em sua bolsa, para fazer feitiços? Os magos precisavam ir à escola, ou já tinham um


conhecimento nato da coisa toda?


Acima de tudo, como poderia ser justo que algumas pessoas tivessem poderes capazes de


obrigar os outros a cumprir sua vontade; criar incêndios que não podiam ser apagados; ou


transformar gatos em falcões, caso as histórias fossem verdadeiras?


Capazes de destruir o mundo até quase um ponto sem volta.


Os clãs tinham mágica também, mas de um tipo diferente. A mãe de Dançarino, Willo, era a


matriarca do Campo Pinhos Marisa e uma curandeira talentosa. Ela era capaz de pegar um


graveto seco e fazê-lo brotar, de cultivar qualquer coisa nas suas plantações das colinas, de curar


pelo toque e pela voz. Os remédios dela eram desejados em terras tão distantes quanto Arden. Os


clãs eram conhecidos pelos trabalhos com couro e metal e pela tradição na criação de amuletos e


outros objetos mágicos.


Bayar tinha feito grande estardalhaço com o fato de Dançarino não ter pai conhecido. Como


ele sabia disso, e por que se importaria? Na opinião de Han, Dançarino não precisava de um pai.


Ele estava completamente imerso no clã, cercado por tios e tias que o amavam, primos com


quem caçar, um povo em que todos eram conectados por sangue e tradição. Mesmo quando


Willo viajava, sempre havia uma lareira para aquecê-lo, comida para alimentá-lo e uma cama


para acolhê-lo.


Comparado a Dançarino, Han era muito mais órfão, pois tinha apenas a mãe, a irmã e o pai


morto nas guerras Ardeninas. Os três dividiam um único aposento acima de um estábulo na


vizinhança da Feira dos Trapilhos, em Fellsmarch. Quanto mais Han pensava no assunto, mais


pena sentia de si mesmo: sem pai e sem magia. Sem perspectivas. A mãe já lhe dissera inúmeras


vezes que ele nunca seria nada na vida.


Os dois estavam a pouco menos de uma milha do campo quando Han percebeu que estavam


sendo seguidos. Não foi nada de específico que o alertou: ao se virar para inspecionar algumas


plantas queimadas pelo frio, junto à trilha, ele ouviu passos vindos de trás que pararam subitamente. Um esquilo continuou protestando de seu galho na árvore muito tempo depois de

O Rei DemônioOnde histórias criam vida. Descubra agora