Cueca - XXXII

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Depois do momento dramático e perfeitamente fofo com meu, então... finalmente!... Irmão mais velho, tirei o vestido e o-coloquei cuidadosamente na cama. Ele foi embora minutos depois e Júlia permaneceu, ou melhor, continuou comendo. Olhou para mim sentada no sofá, enquanto passava por ela para ir a cozinha, com uma cara de quem amou bisbilhotar a vida daquele vizinho melodramático... apenas sorri brevemente, disfarçando a última lágrima, e fui até a geladeira.

- Vocês são tão amáveis - Provocou, com uma voz semelhante a de um bebê.

- Não brinca. - Bebi um copo d'água.

- Não estou. - Desfez a brincadeira, e afirmou em uma voz um pouco triste. - Estou torcendo para você, amiga.

- Torcendo? 

- Sim... Não só espero que você pegue o buquê, como espero que sua vida continue assim, ou melhor, muito mais evoluída, sabe? - Levantou e foi até a bancada da cozinha, se apoiando na própria.

- Tomara. - Me apoiei no mesmo, ainda com o copo d'água na mão.

- No que está pensando?

- É uma pergunta meio óbvia, mas, agora... Eu prefiro não aceitar mais a resposta.

- Se é isso que você quer... - Parou

A brusca interrupção foi por causa do Lucas, que entrou com uma pressa imensa, provavelmente nem tinha notado a presença de nós duas, bateu a porta de seu quarto e permaneceu lá mesmo.

- O que foi isso?  - Júlia então, fez a pergunta retórica que viajou em meio ao vento.

Eu apenas fiz um gesto com os ombros e coloquei o copo em cima da pia.

- Bia! - Gritou Lucas, de seu quarto, abrindo a porta em seguida. - Beatriz! - Gritou novamente.

- O que é? - Passei por Júlia que estava com uma cara péssima e fui até a ele, o-encontrei apoiado na porta, sem a camisa. - Por que está me gritando? - Parei em frente a ele.

- Você viu minha cueca? - Perguntou, fazendo um discreto biquinho.

- Que cueca, Lucas? - Cruzei os braços

- Minha cueca da Calvin. - Se aproximou lentamente.

- Deve estar lavando, Lucas. - Bufei

-  Não está, eu não coloquei para lavar. - Encostou na parede, e ficou mais próximo de mim.

- Mas talvez eu coloquei, sei lá Lucas.

- Você quer parar de repetir meu nome com esse seu tom de impaciência?

- Ok querido. - Forcei um sorriso - Você tem milhões de cuecas da Calvin, o que custa pegar outra, amorzinho?

- Preciso daquela cueca. - Foi breve.

- Você sai que nem um doido após aquela vagabunda afirmar que está grávida e depois tem a cara de pau de dizer que precisa daquela merda de cueca? - Cheguei perto do próprio, o-encarando ainda com os braços cruzados.

- Estava tão bom daquele jeito. - Riu

- Vai se ferrar, Lucas - Bufei - Você é patético, aliás, você, e com certeza todas as prostitutas que você pegou durante a sua viagem.

- Tocou na ferida - Lamentou Júlia, passando em frente ao corredor, logo atrás de mim.

O riso dele estava se desfazendo aos poucos, dando lugar a expressão de mal que eu não via a muito tempo. Logo respirou fundo e olhou diretamente nos meus olhos - Você quer saber de uma coisa? - Chegou mais perto, abrindo e mexendo a boca devagar como se escolhesse as palavras certas a dizer. - Divirta-se - Desejou

- O que?! - Exclamei - Você está falando sério?

- Estou. Eu irei sair hoje, com ou sem aquela cueca, e não perderei isso por nada. - Virou de costas sem dar um direito de resposta e logo entrou e fechou a porta do quarto.

Voltei para a sala de boca aberta, sem acreditar na frieza de segundos do Lucas.

- I-n-a-c-r-e-d-i-t-á-v-e-l - Afirmei para Júlia, pausadamente.

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