Capítulo 1

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-Filha? - ouvi minha mãe do outro lado do telefone.

-Hum? - respondi à minha mãe um pouco sem atenção nela,  já que estava na frente do pc.

-Tem como você pegar uns papéis no meu escritório e trazer para mim? Tenho hoje um horário apertado e o senhor Parkins está aqui hoje e precisa de minha ajuda para fazer as revisões em alguns papéis e...

-Tá,tá mãe, eu levo. Onde estão? - perguntei levantando da cadeira e indo até o escritório dela que ficava de frente para o meu quarto.

-Tá numa pasta branca, escrito: Exames Recentes. - ela disse com um tom de voz do tipo: Será que está na pasta branca mesmo?

-Pronto, tá na mão. - disse voltando para o meu quarto e pegando minha mochila.

-Obrigada filha, você traz aqui pra mim até às 16:00? Tenho que mostrar isso pra ele até às 17:00h e antes tenho que ver se estão todas em ordem.

-Tá mãe, deixa eu desligar senão não passo aí.  Ainda tenho que fazer um monte de coisas em casa, me arrumar e sair pra ir ao curso. Ah, e é claro, agora terei de ir até o hospital onde a 'esquecida' da minha mãe trabalha. - falei fingindo estar brava.

-Filha, antes de desligar quero que você pegue uma coisa pra mim. Sabe,eu tô com uma fome e esqueci de trazer aquelas barras de cereais que eu costumo comer à tarde...

-Hum...e você quer que eu leve, acertei? - perguntei enquanto desligava o computador.

-Se você puder... - ahá, minha mãe sempre jogando um verde. Eu sabia...

-Mãe, agora deixa eu desligar,ok? Beijos.

Arrumei minhas coisas e logo saí de casa. Ainda teria que passar na casa de Lucy, a minha melhor amiga, para que fôssemos juntas para o curso.  Era sempre assim.  E eu pediria para ela para passar antes no hospital,  para entregar as coisas à avoada da minha mãe.

Eu e minha mãe morávamos sozinhas, meu pai era separado de minha mãe há uns 8 anos, e eu já me acostumava com isso. Ter 2 casas, 2 camas, 2 banheiros...A divisão era um pouco ruim agora porque eu já era grande e entendia muito mais as coisas.  Mas quando eu era pequena, as coisas eram muito engraçadas pra mim.  Se minha mãe dizia:'Filha, esse final de semana você vai passar com o seu pai', eu logo fazia festa.  Agora tudo mudou.  Não tenho tanta vontade de ir para onde ele mora, e quando vou, não passo mais do que 3 dias lá.

 Bom, como ia dizendo, eu moro só com minha mãe, que é médica no hospital daqui da cidade. E falando em hospitais, esse era o melhor daqui. Minha mãe era clínica geral, e trabalhava como psicóloga também, ajudando os vários pacientes que ficavam abalados com alguma descoberta de doença. Era um trabalho estranho, pelo menos pra mim. Eu não achava nada legal ir trabalhar num lugar onde você via só desgraça. Eu falo isso porque já vi minha mãe chegar de vários jeitos em casa. Ela é super temperamental.

E eu acho que isso até mexe comigo, porque estresse em casa é um estresse duplo. Até eu fico estressada.

Eu estava já no 3º ano da escola, e ano que vem faria uma faculdade. Além de Lucy, costumava sair com David, Jessica, Mike, Angela e Ben. Estudávamos juntos desde quando tínhamos uns 10 anos ,e sempre foi assim,  juntos até o fim,  que era o 3º ano. Lucy e David, Angela e Ben são namorados há algum tempo. Já o meu caso e o de Jessica é diferente. Muito diferente. Ela AMA o Mike, que é afim de mim. Tá, não entendeu?  Vou explicar: Para TODOS da escola ele é super afim de mim.  E pra TODOS a Jessica é apaixonada por ele. Ou seja, Jessica é doida por Mike que é doido por mim. Estranho,não? E porque a Jessica é minha amiga? Ah, eu falei para ela que ele não me interessava, e que ela podia continuar tentando que ele olhasse para ela. Tudo bem, ela é um pouco estranha comigo por isso tudo, mas mesmo assim vivemos juntas.  E Mike continua lá, quer dizer, aqui, atrás de mim. 

Um dia isso muda. Espera eu conhecer alguém. Mike precisa logo ver que eu não quero nada com ele, e que o faça parar de dar tanto gelo na Jessica. Sabe, é chato vê-la quando estamos numa boate, joga várias indiretas para ir dançar com ele e ele não faz nada, a não ser olhar todos os meus movimentos. Sintetizando tudo: Eu preciso de um rolo URGENTE e Mike precisa de um semancol.


-ALELUIA! - Lucy levantou as mãos para o alto quando abriu a porta e me viu. - Tava demorando hein.

-Como sempre, Lucy. Você sabe, minha mãe sempre me atrasa quando quase estou saindo de casa. - falei enquanto a acompanhava até a sala.

-Vamos logo, temos 30 min. para ir até o curso. - Lucy me apressou enquanto eu roubava um pedaço do bolo que a empregada dela tinha feito. Era sempre assim. Judy fazia as coisas mais gostosas, e eu como uma 'agregada master' comia sempre alguma coisa que ela fazia.

Saímos rapidamente da casa de Lucy (lê-se: fui arrastada da cozinha por Lucy) e andamos até o hospital.

-PAROU! - a segurei pelo ombro. - Tenho que entregar uma coisa para a minha mãe. Pode ir comigo?

-Ah, claro.Eu sempre vou lá dentro com você mesmo. Um dia a mais não me matará.

Sorri e a puxei em direção ao hospital. Saímos andando em passos largos e apressados.

-Vai pegando o que você têm que entregar logo, Anna. - Lucy disse enquanto subíamos a pequena escada, que daria nos jardins externos do hospital. - Para adiantar.

Concordei e abri minha mochila enquanto andava, olhando somente pra ela, e não prestando atenção na direção em que eu ia.

-Ai! - gritei quando senti alguém se chocando comigo, o que me fez cair sentada no chão. - Não olha por onde anda não?

Havia esbarrado em um garoto, que parecia estar nervoso, porque quando olhou pra mim só falou um 'Desculpa' e voltou a sair correndo do hospital.  Ele estava preocupado.  E era um baita de um mal-educado!

-Educação zero, nem para me ajudar a levantar! - gritei em sua direção enquanto ele se afastava mais e mais.

-Calma Anna, tá fazendo um escândalo à toa.  O garoto parecia estar mal, você não viu a cara dele? - Lucy me ajudou a levantar.

-Problema é dele. Eu não tenho nada a ver com a vida dele, não custava falar um 'Desculpa' mais convincente e me ajudar a levantar. - eu estava irritada. - Eu, hein.

-Ai Anna, que pecado. - Lucy riu fraco. - Você mal sabe o problema dele.

-Ahhhhhh,chega!  Eu já levei uma trombada com o mal-educado,  já caí,  já levantei e agora pretendo ir entregar esses troços logo. Vamos?

-Yeees.

Abri a porta da sala da minha mãe e a vi conversar com um doutor. Peguei a conversa pelo meio.

-É, é um caso muito especial, e precisa de extremos cuidados.  Amanhã teremos que... - ela parou de falar quando me viu ali e disse que depois encontrava aquele tal doutor.  Ele se virou na direção da porta e me viu.  Abriu um sorriso e saiu da sala,  deixando nós duas sozinhas.  Minha mãe escondeu o papel que antes mostrava para o doutor e sorriu em minha direção.

-Aii, filha, obrigada. - ela pegou a pasta e o pacote do que tinha pedido. - Está sozinha?

-Não, Lucy está aí fora comigo. Só que ela não quis entrar...

-Tudo bem filha. Agora acho melhor você ir, tá quase na hora do curso, né?

-Verdade. - Beijos mãe, até mais tarde.

-Vamos, Lucy. - chamei-a quando a vi no jardim.

-Mais calma agora, senhorita egoísmo? - ela disse rindo.

-Uhum...só espero que ninguém mais ache que eu sou algo parecido como um pino de boliche,ou algo do tipo. - entrei na brincadeira e disse isso, fazendo com que nós duas começássemos a gargalhar.

E mal sabia eu que a partir desse dia tudo estava mudando...

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