Capítulo 14

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"Sempre haverá ignorância,e a ignorância leva ao medo." - Bill Gates

Abri a porta e logo tirei meu casaco, o colocando em um dos suportes da porta. Me virei e vi minha mãe no alto da escada, me olhando.

- Tá, pode começar com o sermão. - falei virando os olhos e me sentando no sofá.

- Não, não será nenhum sermão. - ela descia as escadas dizendo - Eu nem sei o que te dizer...nunca pensei que isso fosse acontecer.

- Mãe, já foi. E eu estou disposta a ficar com ele.

- Filha ele tem AIDS. Você nunca vai ter uma vida tranquila,não poderá construir uma verdadeira família.

- Deixa de falar besteira. - falei mexendo em meus cabelos nervosamente - Você como médica tinha que estar com a cabeça mais aberta em relação a isso.

- Está bem, olha... - ela passou as mãos pelo rosto - Eu acho que não há mais nada que faça você mudar de ideia. Mais eu não vou mudar a respeito disso.

- Não mesmo. Não vou mudar de ideia. - respondi rapidamente com os braços cruzados.

- Então o que me resta é ver você com ele. Mesmo que isso esteja acabando com a vida da única filha que eu tenho.

- Mãe, não está acabando nada! Muito pelo contrário... Jonas me faz sentir bem do jeito que ninguém nunca me fez sentir. Eu e ele nos damos super bem, fomos feitos um para o outro. Não pense que eu não sei como me cuidar. Eu sei muito bem o quê ele tem e o que podemos e não podemos fazer...Na verdade,  Jonas é mais consciente do que eu nesse assunto. Ele não suporta nem em pensar na hipótese de passar o que ele têm pra mim.

- Eu não consigo entender a sua cabeça. - ela pegou em minha mão e falava baixinho - Eu sou médica e vejo vários casos, um pior do que o outro. E isso aparece de uma hora pra outra em nossa família...

- Eu sei, mas nada pode ser feito. Já foi. - disse com convicção - Nós estamos mais conectados a cada dia que passa e eu estou disposta a ficar com ele no momento que for.

Minha mãe me abraçou e me pediu um 'desculpe'. Acho que as coisas estavam piores do que eu pensava, mesmo com ela fazendo isso. Depois da conversa com ela subi até meu quarto, pensando na grande bagunça que meu dia tinha sido: saber da verdade ali, na frente de tantas pessoas, acabar passando mal, e...chorar. Tinha sido o que nós mais tínhamos feitos no dia. Eu e ele. Olhei para aquele anel que brilhava em meu dedo e lembrei do compromisso que tinha a partir de agora. Não compromisso de namorados, nem nada disso, mas o compromisso que eu tinha com ele e com a sua vida. O compromisso de cuidar e zelar pela saúde dele, e o compromisso de fazer tudo o que estivesse ao meu alcance pra ver ele bem.

Fui pro banheiro e me olhei no espelho, me amaldiçoando por essa vida. Vi que minha imagem no espelho era horrível, e me lembrei de quando era mais nova e dos problemas que tive. Talvez fosse o melhor jeito de esquecer os problemas.

#Flashback

Já estava naquele banheiro há uns 20 minutos, e era sempre assim. Quando me sentia mal corria pra lá e pegava a escova já tão conhecida por mim e fazia aquilo escondido: enfiava em minha garganta e forçava o vômito. Sentia o gosto amargo na minha boca e o alívio. Estranho, mas fazer aquilo diminuía minha dor interna de não ter meu pai por perto.

- Anna, o quê está fazendo? - minha mãe entrou no banheiro que por descuido meu, deixei aberto - Você está vomitando...porquê está fazendo isso? - ela pegou a escova da minha mão.

- Mãe... - eu chamei-a chorando - Eu quero morrer.

Depois daquele dia, eu tinha largado essa doença(era assim que eu chamava). Eu não fazia isso por estar de mal com meu corpo. Não, eu nunca tive neurose com isso, mas o que houve foi que, fazendo aquilo eu conseguia melhorar. Não me pergunte como. Minha mãe me levou a uns psicólogos e eu fui ajudada. Consegui largar minha ansiedade e meu hábito tão...auto-destruidor.

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