-E aí,como foi o dia mãe? - perguntei-lhe na hora do jantar.
-Tudo como sempre filha. Pacientes e mais pacientes. - ela sorriu fraco - Nada de mais, só a única novidade é que eu acho que estarei em um projeto de ajuda aos doentes.
-Mais um projeto mãe? - a repreendi - Você só vive entrando em projetos e mais projetos...e eu como fico na história?
-Ah, deixa de ser criancinha. Você já tá bem grandinha, e sabe que eu tenho que trabalhar para comprar as coisas da casa, Anna. - ops, quando ela me chamava pelo nome, é porque tava começando a mudar de humor.
-Tá bom, tá bom. - emburrei a cara - Como vai ser o projeto?
-Eu e Beth, a outra médica iremos trabalhar com os doentes. - ela tomou um gole do suco- Os doentes que mais precisam de apoio,sabe...Para eles é difícil demais aceitar a doença que têm.
-Hum, entendi. - disse me levantando - Vou dormir, amanhã sairei com as meninas. Aproveitarei que estou de férias, posso acordar tarde e vou ficar o dia todo fora.
-O dia todo? Como eu fico na história? - minha mãe usou as minhas palavras de um tempo atrás e eu ri.
-Ah, arruma um médico bem gostoso e sai para se divertir,mãe! - falei quando já estava na sala.
-Olha o que você fala, Anna... - ri com a resposta da minha mãe.
-Boa noite mãe, te amo! - Gritei das escadas.
-Boa noite, filha!
***
-Ah,caraca! - acordei na outra manhã com o celular tocando - Quem é o imbecil? - Passei a mão pelo rosto,e depois arrumando meu cabelo em um rabo de cavalo. Levantei rapidamente e corri até o celular que ainda tocava I Hate this part das PussyCat Dolls. Respirei fundo antes de atendê-lo.
-Alô? - disse com a voz sonolenta.
-Anna, sou eu. - Ahh,tinha que ser.
-Fala,Mike. - disse rolando os olhos.
-Você vai sair hoje com o pessoal? Acho que vamos para a casa da Lucy e à noite para algum lugar...nós ainda não decidimos.
-Vou sim, Mike. - disse entrando no banheiro - A Jéssica e a Ângela virão pra cá, eu vou dar carona pra elas.
-A Jéssica vai,é? - perguntou mostrando desapontamento.
-Vai,ué. - eu disse como se fosse óbvio. E ERA! - Ela é nossa amiga,e ela vai em reuniões nossas, como sempre.
-Tá bom, vou desligar Anna. - ele tinha percebido o tom usado com ele. Que Bom!
-Tchau. - falei desligando o celular logo. Ah, ele era chato às vezes. Ainda mais nas horas que me acordava. Pensando bem, até que ele tinha me acordado em uma boa hora. Já era tarde e eu não tinha sequer acordado direito. Tratei logo de ir para o banho e mandar o sono embora. Depois do relaxante banho fui me arrumar. Coloquei uma calça jeans e uma baby-look que tinha o desenho do Snoopy na frente. Presente do meu pai. Um dos poucos presentes de bom gosto que ele tinha me dado. eu amava aquela blusa. Eu amava o Snoopy. Para finalizar um tênis e o casaco porque o tempo estava mais do que frio.
-Mãe,estou indo! - desci as escadas quase 11 horas. As meninas me esperavam perto de casa, num parque na esquina.
-Não vai comer? - minha mãe e sua mania de perguntar se eu quero comer quando eu estou indo pra um lugar que vai ter...comida?!
-Não mãe, o que mais vai ter lá é comida!
-Tá, calma! - ela levantou a mão - Eu vou pro hospital hoje à tardinha...Devo voltar somente de madrugada. Não me espere.
-Mas você não tá no seu dia de folga hoje? - perguntei com a mão na porta.
-Sim, mas é por causa do projeto. Eu e Beth conseguimos um espaço, e vamos começá-lo em breve. - ela disse sorrindo
-Poxa, mãe. Legal. Parabéns!
Eu sempre tentei reagir a todos os assuntos da minha mãe com bastante entusiasmo. Mas eu acho que a cada dia que passava eu sabia esconder menos que eu não gostava da profissão dela. Não sei se era porque eu ficava muito tempo sozinha ,mas era tudo sempre assim: ela dava a notícia toda feliz e eu fingia estar feliz por ela. Era tudo mentira. E esconder esse falso entusiasmo ficava mais difícil a cada dia.
Saí de casa logo depois encontrei as meninas. As duas estavam com roupas básicas também, mas é claro que Jéssica como sempre usava roupas mais justas e decotadas, tentativa de ser notada por Mike,é claro. Só que para decepção dela aquilo tudo nem ajudava. Cara,às vezes eu tinha pena dela.
***
-Amores! - Lucy disse quando abriu a porta - Vamos,o pessoal tá lá no jardim, perto da churrasqueira.- Andamos até lá, encontrando várias pessoas nas cadeiras em volta da piscina. Ben, Mike, além de outras pessoas que eu mal conhecia. Logo depois de Lucy nos apresentar, me distanciei e fui até a cozinha. E é claro que ele estava de olho. E claro que viria atrás de mim.
-O que foi Mike? - perguntei enquanto abria a geladeira.
-Eu queria falar com você Anna. - ele foi chegando perto.
-Fala. - dei um gole em meu suco.
-Eu queria saber se você...eu...er.. - ele gaguejava demais. Tá, já tinha entendido.
-Mike, peloamordedeus! - passei a mão no cabelo,nervosa. - Desiste, entendeu? Não dá certo a gente, e você sabe disso! - ele fez uma cara nada boa. - A Jéssica fica muito mal com tudo isso você não percebe que ela é doida por você?
-Mas, eu não gosto dela. Não desse jeito. - ele gesticulou com as mãos.
-Tentou?! - perguntei com mal-humor - Não né? Pensa nela direitinho Mike. - Andei de volta até a piscina e me sentei ao lado da Ângela. Foi quando comecei a ouvir uma conversa entre elas.
-É, a Anna que é assim...ela é estouradinha às vezes, ontem ela quase matou um garoto na frente do hospital... - Lucy falou.
-Credo Anna. Você têm que se controlar. - Ângela disse.
-Ah, eu não tava muito bem. E o cara foi muito mal educado comigo. - tentei me defender.
-E que cara era esse? - Ângela perguntou.
-Sei lá. Nem me lembro da cara dele. - Mentira, eu lembrava um pouco.
-Aiai, Anna. Tô até com medo. Ângela, mantenha distância dela. - Ben disse fazendo todos da conversa rirem.
Passamos o resto da manhã e da tarde conversando, comendo e bebendo, até algumas das pessoas começarem a ir embora. Vi que agora Mike, Ben e Jéssica estavam em um canto, conversando animadamente e eu vi que estava tudo bem. A não ser por uma coisa.
-Ângela? - chamei-a baixinho.
-Hum? - ela respondeu no mesmo tom.
-O que acha de tirar o Ben dali? - fiz aceno com a cabeça na direção dos 3 - Hein?
-Ben amor, vêm aqui. - Ângela chamou-o. Ótimo, ela tinha entendido.
***
-Bem, acho que tá na hora de descobrirmos o que faremos hoje à noite, hein. - Eu voto no shopping!
-Eu também! - todas as mulheres levantaram as mãos.
-Mulheres e sua atração por shoppings! Eu não vou! - David disse. - Vamos pra sorveteria.
-Opa, desculpem meninas,mas eu prefiro sorvete! - eu levantei a mão.
-Tá, somos a maioria, e deu sorvete! - David disse sorrindo triunfante - Perdeu ô baixinha!
-Seu trapaceiro! Você sabe que a Anna ama sorvete! Foi jogo sujo! - ela deu língua.
***
Crianças quietas agora, já cada um com o seu sorvete na mão. Fomos andando até a mesa e nos sentamos.
-Cadê as pazinhas? - perguntei.
-Ué, cada um tá com a sua. Você não pegou não? - Jéssica disse.
-Aff, vou lá pegar para mim. - disse levantando e indo até a sorveteria abarrotada de gente.
-Obriga... - tentei dizer quando saía de costas da sorveteria. Mais parece que nesses dias todos queriam esbarrar em mim. Olhei para o 'ser' que tinha feito o favor de me sujar toda. Sabe, era melhor eu não ter olhado.
-De novo? - eu falei alto, ganhando a atenção de todo mundo - Não olha por onde anda garoto? Olha o que você fez com a minha roupa, seu idiota! - Lucy,David e os outros a essa altura também estavam prestando atenção no mini-barraco. Tá bom, barraco.
-Me desculpa, Barbie. - ele deu ênfase ao 'Barbie' - Não foi por mal, foi sem querer...
-Ai, minha blusa, minha blusa... - olhava pra ela e passava um guardanapo tentando melhorar a situação.
-Deixa de ser mesquinha garota. Tanta gente cheio dos problemas e você com pena de roupa. - ele cuspiu as palavras.
-Ai garoto... - fechei a mão em punho - Não se meta na minha vida. Você fez isso com minha roupa e pronto! - apontei para o meu peito que estava com uma mancha marrom.
-Tá bom Barbie. - ele passou a mão no rosto - Toma esse dinheiro e compra o que quiser tá bom? - ele pegou uma nota de 100 e deu na minha mão, virando as costas em seguida.
Fiquei ali,com vários olhares sobre mim. Senti uma raiva grande, e um nó na garganta. Eu podia matar qualquer um agora, de tanta raiva. Desejava que todos que estavam ali sumissem, desejava estar em casa. Amassei a nota e sentia tanta raiva que tive vontade de gritar.
-Hey, o que houve Anna? - Lucy e Ângela perguntaram.
-Nada. Só me sujei. - respondi secamente.
-Nada? Por deus Anna, você discutiu com um cara, todo mundo viu. O que que houve? - Lucy falou baixo.
-Aquele garoto do hospital,lembra? Ele fez com que eu jogasse o sorvete em minha blusa. Logo a que meu pai tinha me dado. Ele é o cara mais ignorante que eu já conheci.
-Acho que já deu por hoje,né? - Ângela disse - Vou pra casa.
-Na verdade,vamos! - acrescentei - Tô muito cansada.
Cansada nada! Eu estava mesmo afim de deitar em minha cama e ficar sozinha como sempre.
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Save You
RomanceA vida sempre prega uma dessas em você. Te faz querer loucamente uma pessoa,mesmo sabendo que ela esconde um segredo. Mesmo com todos os problemas, você se vê totalmente dependente daquela pessoa e não escolhe outro caminho: o acompanhará e o ajudar...