Capítulo 2

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-E aí,como foi o dia mãe? - perguntei-lhe na hora do jantar.
-Tudo como sempre filha. Pacientes e mais pacientes. - ela sorriu fraco - Nada de mais, só a única novidade é que eu acho que estarei em um projeto de ajuda aos doentes.
-Mais um projeto mãe? - a repreendi - Você só vive entrando em projetos e mais projetos...e eu como fico na história?
-Ah, deixa de ser criancinha. Você já tá bem grandinha, e sabe que eu tenho que trabalhar para comprar as coisas da casa, Anna. - ops, quando ela me chamava pelo nome, é porque tava começando a mudar de humor.
-Tá bom, tá bom. - emburrei a cara - Como vai ser o projeto?
-Eu e Beth, a outra médica iremos trabalhar com os doentes. - ela tomou um gole do suco- Os doentes que mais precisam de apoio,sabe...Para eles é difícil demais aceitar a doença que têm.
-Hum, entendi. - disse me levantando - Vou dormir, amanhã sairei com as meninas. Aproveitarei que estou de férias, posso acordar tarde e vou ficar o dia todo fora.
-O dia todo? Como eu fico na história? - minha mãe usou as minhas palavras de um tempo atrás e eu ri.
-Ah, arruma um médico bem gostoso e sai para se divertir,mãe! - falei quando já estava na sala.
-Olha o que você fala, Anna... - ri com a resposta da minha mãe.
-Boa noite mãe, te amo! - Gritei das escadas.
-Boa noite, filha!

***

-Ah,caraca! - acordei na outra manhã com o celular tocando - Quem é o imbecil? - Passei a mão pelo rosto,e depois arrumando meu cabelo em um rabo de cavalo. Levantei rapidamente e corri até o celular que ainda tocava I Hate this part das PussyCat Dolls. Respirei fundo antes de atendê-lo.
-Alô? - disse com a voz sonolenta.
-Anna, sou eu. - Ahh,tinha que ser.
-Fala,Mike. - disse rolando os olhos.
-Você vai sair hoje com o pessoal? Acho que vamos para a casa da Lucy e à noite para algum lugar...nós ainda não decidimos.
-Vou sim, Mike. - disse entrando no banheiro - A Jéssica e a Ângela virão pra cá, eu vou dar carona pra elas.
-A Jéssica vai,é? - perguntou mostrando desapontamento.
-Vai,ué. - eu disse como se fosse óbvio. E ERA! - Ela é nossa amiga,e ela vai em reuniões nossas, como sempre.
-Tá bom, vou desligar Anna. - ele tinha percebido o tom usado com ele. Que Bom!
-Tchau. - falei desligando o celular logo. Ah, ele era chato às vezes. Ainda mais nas horas que me acordava. Pensando bem, até que ele tinha me acordado em uma boa hora. Já era tarde e eu não tinha sequer acordado direito. Tratei logo de ir para o banho e mandar o sono embora. Depois do relaxante banho fui me arrumar. Coloquei uma calça jeans e uma baby-look que tinha o desenho do Snoopy na frente. Presente do meu pai. Um dos poucos presentes de bom gosto que ele tinha me dado. eu amava aquela blusa. Eu amava o Snoopy. Para finalizar um tênis e o casaco porque o tempo estava mais do que frio.
-Mãe,estou indo! - desci as escadas quase 11 horas. As meninas me esperavam perto de casa, num parque na esquina.
-Não vai comer? - minha mãe e sua mania de perguntar se eu quero comer quando eu estou indo pra um lugar que vai ter...comida?!
-Não mãe, o que mais vai ter lá é comida!
-Tá, calma! - ela levantou a mão - Eu vou pro hospital hoje à tardinha...Devo voltar somente de madrugada. Não me espere.
-Mas você não tá no seu dia de folga hoje? - perguntei com a mão na porta.
-Sim, mas é por causa do projeto. Eu e Beth conseguimos um espaço, e vamos começá-lo em breve. - ela disse sorrindo
-Poxa, mãe. Legal. Parabéns!

Eu sempre tentei reagir a todos os assuntos da minha mãe com bastante entusiasmo. Mas eu acho que a cada dia que passava eu sabia esconder menos que eu não gostava da profissão dela. Não sei se era porque eu ficava muito tempo sozinha ,mas era tudo sempre assim: ela dava a notícia toda feliz e eu fingia estar feliz por ela. Era tudo mentira. E esconder esse falso entusiasmo ficava mais difícil a cada dia.

Saí de casa logo depois encontrei as meninas. As duas estavam com roupas básicas também, mas é claro que Jéssica como sempre usava roupas mais justas e decotadas, tentativa de ser notada por Mike,é claro. Só que para decepção dela aquilo tudo nem ajudava. Cara,às vezes eu tinha pena dela.

***

-Amores! - Lucy disse quando abriu a porta - Vamos,o pessoal tá lá no jardim, perto da churrasqueira.- Andamos até lá, encontrando várias pessoas nas cadeiras em volta da piscina. Ben, Mike, além de outras pessoas que eu mal conhecia. Logo depois de Lucy nos apresentar, me distanciei e fui até a cozinha. E é claro que ele estava de olho. E claro que viria atrás de mim.
-O que foi Mike? - perguntei enquanto abria a geladeira.
-Eu queria falar com você Anna. - ele foi chegando perto.
-Fala. - dei um gole em meu suco.
-Eu queria saber se você...eu...er.. - ele gaguejava demais. Tá, já tinha entendido.
-Mike, peloamordedeus! - passei a mão no cabelo,nervosa. - Desiste, entendeu? Não dá certo a gente, e você sabe disso! - ele fez uma cara nada boa. - A Jéssica fica muito mal com tudo isso você não percebe que ela é doida por você?
-Mas, eu não gosto dela. Não desse jeito. - ele gesticulou com as mãos.
-Tentou?! - perguntei com mal-humor - Não né? Pensa nela direitinho Mike. - Andei de volta até a piscina e me sentei ao lado da Ângela. Foi quando comecei a ouvir uma conversa entre elas.
-É, a Anna que é assim...ela é estouradinha às vezes, ontem ela quase matou um garoto na frente do hospital... - Lucy falou.
-Credo Anna. Você têm que se controlar. - Ângela disse.
-Ah, eu não tava muito bem. E o cara foi muito mal educado comigo. - tentei me defender.
-E que cara era esse? - Ângela perguntou.
-Sei lá. Nem me lembro da cara dele. - Mentira, eu lembrava um pouco.
-Aiai, Anna. Tô até com medo. Ângela, mantenha distância dela. - Ben disse fazendo todos da conversa rirem.

Passamos o resto da manhã e da tarde conversando, comendo e bebendo, até algumas das pessoas começarem a ir embora. Vi que agora Mike, Ben e Jéssica estavam em um canto, conversando animadamente e eu vi que estava tudo bem. A não ser por uma coisa.

-Ângela? - chamei-a baixinho.
-Hum? - ela respondeu no mesmo tom.
-O que acha de tirar o Ben dali? - fiz aceno com a cabeça na direção dos 3 - Hein?
-Ben amor, vêm aqui. - Ângela chamou-o. Ótimo, ela tinha entendido.

***

-Bem, acho que tá na hora de descobrirmos o que faremos hoje à noite, hein. - Eu voto no shopping!
-Eu também! - todas as mulheres levantaram as mãos.
-Mulheres e sua atração por shoppings! Eu não vou! - David disse. - Vamos pra sorveteria.
-Opa, desculpem meninas,mas eu prefiro sorvete! - eu levantei a mão.
-Tá, somos a maioria, e deu sorvete! - David disse sorrindo triunfante - Perdeu ô baixinha!
-Seu trapaceiro! Você sabe que a Anna ama sorvete! Foi jogo sujo! - ela deu língua.

***

Crianças quietas agora, já cada um com o seu sorvete na mão. Fomos andando até a mesa e nos sentamos.

-Cadê as pazinhas? - perguntei.
-Ué, cada um tá com a sua. Você não pegou não? - Jéssica disse.
-Aff, vou lá pegar para mim. - disse levantando e indo até a sorveteria abarrotada de gente.
-Obriga... - tentei dizer quando saía de costas da sorveteria. Mais parece que nesses dias todos queriam esbarrar em mim. Olhei para o 'ser' que tinha feito o favor de me sujar toda. Sabe, era melhor eu não ter olhado.
-De novo? - eu falei alto, ganhando a atenção de todo mundo - Não olha por onde anda garoto? Olha o que você fez com a minha roupa, seu idiota! - Lucy,David e os outros a essa altura também estavam prestando atenção no mini-barraco. Tá bom, barraco.
-Me desculpa, Barbie. - ele deu ênfase ao 'Barbie' - Não foi por mal, foi sem querer...
-Ai, minha blusa, minha blusa... - olhava pra ela e passava um guardanapo tentando melhorar a situação.
-Deixa de ser mesquinha garota. Tanta gente cheio dos problemas e você com pena de roupa. - ele cuspiu as palavras.
-Ai garoto... - fechei a mão em punho - Não se meta na minha vida. Você fez isso com minha roupa e pronto! - apontei para o meu peito que estava com uma mancha marrom.
-Tá bom Barbie. - ele passou a mão no rosto - Toma esse dinheiro e compra o que quiser tá bom? - ele pegou uma nota de 100 e deu na minha mão, virando as costas em seguida.

Fiquei ali,com vários olhares sobre mim. Senti uma raiva grande, e um nó na garganta. Eu podia matar qualquer um agora, de tanta raiva. Desejava que todos que estavam ali sumissem, desejava estar em casa. Amassei a nota e sentia tanta raiva que tive vontade de gritar.

-Hey, o que houve Anna? - Lucy e Ângela perguntaram.
-Nada. Só me sujei. - respondi secamente.
-Nada? Por deus Anna, você discutiu com um cara, todo mundo viu. O que que houve? - Lucy falou baixo.
-Aquele garoto do hospital,lembra? Ele fez com que eu jogasse o sorvete em minha blusa. Logo a que meu pai tinha me dado. Ele é o cara mais ignorante que eu já conheci.
-Acho que já deu por hoje,né? - Ângela disse - Vou pra casa.
-Na verdade,vamos! - acrescentei - Tô muito cansada.

Cansada nada! Eu estava mesmo afim de deitar em minha cama e ficar sozinha como sempre.

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