Capítulo 24

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Jude

Assim que desliguei a chamada de Mike, eu já estava a meio caminho do hospital. Eu deixara uma verdadeira bagunça de papéis sobre a minha mesa antes de sair correndo, pular dentro do carro e dirigir a toda velocidade. Mike tinha sido estressantemente evasivo ao avisar que Kieran havia levado Aimee às pressas para o hospital. Estávamos todos indo pára lá agora. Kieran não poderia ficar sozinho num momento como esse.

De novo, não. Meu cérebro metodicamente me alertava.

Um flash daquela noite trágica foi o suficiente para reviver o mesmo sentimento de medo e incapacidade vividos quase cinco anos atrás. Entretanto, eu não poderia dar lugar a isso agora. Pelo menos até que eu soubesse o que de fato tinha acontecido.

Parei o carro numa vaga do estacionamento do hospital, sem me importar com o quão fora das faixas ele ficaria. A sensação de Déjà vu se tornava mais forte e sufocante a cada minuto. Um movimento no canto do meu olho esquerdo foi a única coisa que me impediu de entrar correndo como um louco porta a dentro.

Julia estava de pé recostada ao lado da porta do carro do Pete. Seus braços estavam cruzados protetoramente a frente do corpo. Os olhos; voltados para frente, mas sem enxergar um palmo a frente deles; estavam daquele jeito que quebrava meu coração em mil partes. Distantes e frios.

Examinando o lugar, não havia sinal de Pete e Melanie. Eu não sabia se deveria me aproximar. Afinal, não estávamos nos falando. No entanto, era impossível ignorar aquele olhar. Eu odiava quando ela se retirava para esse lugar obscuro que vez ou outra insistia em levá-la para longe de mim.

Por isso, ignorando os alertas instintivos do meu cérebro, sobre como isso seria arriscado, me aproximei dela. Eu não poderia deixá-la sozinha, quando eu sabia como aquilo a afetava. Julia não me notou a principio, continuou olhando para frente, ainda perdida em pensamentos.

— Ei. — disse eu, parando a menos de dois metros dela.

Ela ergueu a cabeça instintivamente, como se acordasse de um sonho. Quando seus olhos encontraram os meus, um sentimento ao qual eu não pude nomear passou por eles. Pareceu alivio. De qualquer modo, não deu tempo de identificar. Ela logo o mascarou, e aquele olhar que eu tentava evitar havia duas semanas tomou seu lugar.

— Oi. — respondeu secamente.

Ela ainda estava com raiva. Eu poderia culpá-la?

— O que está fazendo aqui sozinha?

— Dando um tempo.

Nesse momento ela abaixou a cabeça, e passou a encarar suas sapatilhas cor de areia. Percebi que seus dedos se mexiam nervosamente dentro delas.

— Você está bem? — perguntei.

Ela não respondeu inicialmente. Depois simplesmente deu de ombros. — Acho que sim.

Seu rosto claramente estampava o oposto. Meu peito estava apertado com a dor familiar. Ela não confiava mais em mim. Há poucas semanas tudo isso seria diferente. Eu já teria tomado Julia em meus braços, e estaria sussurrando palavras que trariam de volta. Não sei como ou por que, mas eu conseguia tirá-la de lá. Isso me deixava feliz como um louco. Mas, agora, ela tentava me manter o mais distante possível, junto com todos os outros. Em momentos assim eu queria ser capaz de me chutar por tê-la deixado escapar. O medo de que eu nunca a teria de volta, de que eu nunca mais a confortaria e cuidaria dela me atormentava a cada maldito minuto. Eu iria enlouquecer.

Julia de repente respirou fundo e ficou ereta. Puxou para baixo o cardigã rosa-bebê que usava, ajeitando-o sobre calça jeans.

— Bom, eu vou entrar. — anunciou, ainda evitando meus olhos. Ela começou a andar, mas antes que fosse mais longe, eu segurei seu braço.

Impossível Resistir - Serie Paradise City - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora