Capítulo 27

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JULIA

O portão branco rangeu ao seu abrir. Passos hesitantes me conduziam através do caminho ladrilhado cercado de grama bem aparada. As estátuas de jardim da minha mãe ainda ornamentavam o extenso e verde gramado. Eu me lembro de correr entre elas quando era criança e de fazê-las de bichos de estimação, já que meu pai nunca me deixava ter um. Eles transmitem doenças e são perigosos, ele dissera na vez que apareci na sala de estar segurando um peludo coelho marrom, que eu achara enquanto brincava atrás da casa.

Houve outras tentativas com gatos, cães e até inofensivos pássaros, mas a regra era sempre a mesma. Nada de animais dentro de casa, Julia. Já falamos sobre isso, mocinha. Era o que ele sempre dizia. Eu me lembro de ficar triste, é claro. Que garotinha não gostaria de ter um cachorro fofinho para cuidar e levar para passear?

Esse foi o maior o problema do velho Sr. Saunders – tudo bem, não tão velho assim –, achar que tudo iria me ferir; com isso me privou de muitas coisas. Por incrível que pareça, hoje eu consigo entender. Aceitar é que não é fácil.

A casa branca, estilo vitoriano, agigantava-se diante de mim. Ainda era tão linda quanto eu me lembrava. O que eu esperava? Ainda não tinha um ano desde que eu atravessara a grande porta de madeira e descera estas mesmas escadas em busca do meu algo mais. E aqui estava eu de volta, mas, muito mais perto dele do que jamais estive.

O tapete de pele estendido para dar boas vindas silenciou os meus passos. Era tão macio sob a sola dos pés que tornava quase um insulto pisá-lo. Hesitei em frente à porta sem saber se devia simplesmente entrar. Essa ainda era a minha casa, oras. Ainda assim, ergui o dedo e toquei a campainha. Poucos instantes depois zia Rita apareceu.

Zia Rita – como ela me ensinara a chamá-la – era uma espécie de segunda mãe para mim. Ela era uma velha mulher italiana. Uma senhora gorducha e distinta que trabalhava como governanta na casa desde que... bem, desde sempre. Era difícil dizer há quanto tempo ao certo ela estava lá. Não me lembro de uma única lembrança a qual ela não esteja.

Sorri assim que a vi. Um sentimento nostálgico me invadiu junto com o cheiro de familiar de café que ela carregava.

— Minha menina esta de volta. — zia Rita se pôs a secar as mãos no avental ao redor da cintura. Um segundo depois os punhos roliços estavam me puxando em um abraço apertado. As palmas suaves de suas mãos nas minhas costas me lembraram das horas que ela passava acariciando meu cabelo enquanto me contava histórias para dormir. — Eu devia te dar umas palmadas por sumir desse jeito, e ainda por cima sem se despedir.

Ela estava brincando, é claro. Zia Rita nunca levantou a mão para mim. Nenhuma vez sequer. Nem mesmo depois das minhas mais travessas aventuras.

Zia Rita. Eu estava com tanta saudade.

— Assim como eu, minha menina. Por que você saiu desse jeito?

Ela se afastou para olhar em meus olhos. Seu olhar marcado pelo tempo me estudou, procurando uma resposta que nem eu mesma sabia. Respostas. Eu fui atrás de respostas. Era isso que eu repetia. Entretanto, elas ainda formavam uma incógnita ilegível.

Liberando-me de sua avaliação, corri os olhos pela sala. — Não sei, zia Rita. Acho que eu precisava de um tempo. Fugir pareceu a melhor decisão na época.

— Fugir do seu pai?

— Também. — sorri. — Ele está em casa?

— No escritório, como sempre. Aquele homem! Vive para o trabalho. Sua mãe está lá em cima. Vou chamá-la.

Impossível Resistir - Serie Paradise City - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora