Capítulo 22

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Jude

Naquela noite, eu estava com a cabeça recostada contra a janela do meu quarto, os olhos voltados para cima, tentando encontrar estrelas em meio ao céu escurecido com nuvens de chuva. Elas não estavam lá. Meus dedos tocavam o vidro frio, salpicados de gotas de chuvas brilhantes, de todas as cores, que cintilavam iluminadas pelas luzes noturnas de Austin.

Também era interessante observar a cidade desse ponto. Ruas alagadas refletindo as luzes amarelas dos postes, carros que passavam atirando água para todos os lados, pessoas escondidas sob seus guarda-chuvas, indo e vindo da 6th Avenue. Qualquer um disposto a se aventurar; jovens que adentravam à vida noturna de Austin em busca do algo mais que suas vidas precisavam naquele momento.

O motivo da minha vigília era quase o mesmo. Eu também queria o meu algo mais. No entanto, eu não precisava buscar por ele. Eu já o tinha encontrado. 

Horas rolando sobre o colchão. Coração apertado e contrariamente acelerado. Pensamentos voltados àquela ida inútil ao bar esta noite. Inocentemente acreditando que só por que uma parte da minha vida estava resolvida, as outras se encaixariam como as peças de um lego. Tudo estava uma bagunça. Indo lá eu consegui deixar uma bagunça ainda pior.

Julia.

Tempo. Será que isso o que ela precisa agora?

Isso acaba aqui.

Tempo. Parece que tudo em minha vida gira em torna da duração relativa dos acontecimentos. Como um teste. E olha que eu já estava sendo testado há muito tempo. Eu estava cansado.

Na manhã seguinte, eu dirigi até minha cidade natal. Só havia um lugar onde eu me sentia seguro o bastante para ter uma conversa de homem para homem comigo mesmo. Depois de deixar o carro no acostamento da rodovia pouco movimentada, segui através da mata, até chegar ao meu pequeno paraíso. Fora assim que meu avô me ensinou a chamá-lo. E ainda hoje ele espelha o mesmo significado.

Não tinha certeza se era uma boa idéia voltar a esse lugar tão cedo. A última vez fora diferente. Julia estava comigo. Eu quase podia ouvir sua risada fácil reverberando pelo ar, como uma música fluida e sem barreiras. Ou vê-la correr pelo deque e se atirar nas águas turvas do lago. Tinha sido um dia agradável e feliz, eu me arriscava a pensar.

Nada disso parecia real agora. Tudo soava como um sonho inventado pelo meu inconsciente auspicioso há anos luz de distância da realidade.

Sentado sob a sombra do grande e velho Sobreiro, raízes grossas se estendiam para além das minhas pernas esticadas. Toquei a casca fria e áspera do tronco ao qual eu estava aninhado, e imaginei quantos anos aquela árvore estava ali. Tem algum sábio conselho para mim, velho Sobreiro?

Só que eu não precisava de conselho nenhum. O peso da culpa sobrecarregava meus ombros. Isso é tudo o que eu podia pensar. Se eu tivesse feito as coisas de maneira diferente, eu não estaria sentado aqui sozinho. Meu coração se acelera sempre que penso nos últimos acontecimentos. O medo cresce a mesma velocidade. A frente dos meus olhos eu via um quando se transformar num se. E tive medo.

Não posso perder Julia. Não agora em que não há mais nada entre nós. Nenhum impedimento. Nada que pudesse me separar dela.

Exceto eu mesmo. Eu e meus erros estúpidos. Se ela ao menos me ouvisse. Ainda assim, não sei se seria suficiente. Eu fui um idiota. Um babaca sem coração. Egoísta a ponto de pensar em meus próprios problemas, e desprezar os sentimentos de Julia, como ela mesma apontou. Egoísta suficiente para querê-la de volta mesmo tendo quebrado seu coração. Eu não a merecia, eu sabia disso, mas eu precisava dela. Mais do que eu precisava respirar.

Impossível Resistir - Serie Paradise City - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora