Chapter Eleven

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Estado de Iowa, 27 de abril de 2016

Tris

19:04 P.M.

- ESSA PORRA DE FLORESTA NÃO ACABA NUNCA! - Grito pro nada. Estamos a horas andando nessa floresta nojenta e nada de pessoas, nada de algum lugar seguro, nada de nada. Estou vendo que vamos ter que passar a noite aqui. Estremeço com o pensamento.
- Tris, se acalma, por favor - diz Tobias. Ele já me falou isso umas mil vezes desde que estamos aqui.
- Deus do céu, Tobias! Será que dá pra você pirar comigo pelo menos um pouquinho? Essa sua calmaria está me dando nos nervos.
- Me desculpe se eu quero ser o único a manter minha sanidade - diz ele, comendo uma barrinha de cereal. Ele a estende para mim. - Quer?
- Eu não gosto...
- É de chocolate - ele revira os olhos. - Você acha que eu sou burro pra te oferecer uma barrinha de cereal comum sabendo que você nem gosta?
Pego a maldita barrinha de cereal, dou uma mordida e devolvo para ele.
- E como você sabe que eu gosto só da barrinha de chocolate?
Tobias dá de ombros.
- Eu sei de muitas coisas.
- Tipo?
- Da sua briga com aquela garota metida ano passado, da sua pagação de mico na festa do Zeke semana passada, e de que vamos ter que dormir por aqui.
Choramingo. Meu pesadelo se tornou realidade.
- Não dá pra gente... tipo sei lá... voltar pra estrada? - pergunto, na maior "inocência".
- E se estiver cheia de zumbis? Não vamos correr esse risco. Vamos dormir por aqui mesmo.
- Aonde? Nas árvores? - dou uma risadinha, mas Tobias está me olhando sério. Bato os pés no chão. - Maldita hora que disse para corrermos.
- Temos que achar uma árvore bastante alta - diz ele, mas percebo que não ficou muito feliz com isso.
- O Rei Da Escola, Tobias Eaton, tem medo de altura? - pergunto, com um sorrisinho nos lábios.
- Isso não é muito atraente - responde ele, olhando para cima.
- Eu acho fofo.
Tobias me encara por alguns segundos, e diz:
- Então, você é a primeira.
- Que honra.
Ele dá uma risada e começa a procurar por uma árvore alta. Após um tempo, achamos uma.
- Achar é a parte fácil - diz ele. - Agora escalar...
- É fácil - digo, começando a escalar. Sou a campeã em escalar árvores desde pequena. Escolho um galho largo e grosso e me sento. Estou a vários metros do chão. - Vem!
Vejo Tobias resmungar alguma coisa, e então começa a subir. Ele demora uns 10 minutos para subir. Quando se senta ao meu lado, está todo suado e ofegante.
- Meu Deus, Tris! - diz ele, se apoiando em meu ombro. - Como você conseguiu?
Dou uma risada.
- Não sei se o senhor Sabe-Tudo sabe disso, mas eu escala a árvore do seu quintal só para brincarmos de Power Rangers.
- Você era sempre a Ranger rosa.
- E você era o vermelho.
E de repente, depois de anos, estamos dando risada juntos. Mas não uma risada comum, está mais para uma gargalhada daquelas gostosas, que não sai som nenhum e você fica batendo as mãos como uma foca retardada. Mas é muito boa.
- Eu me lembro... daquela vez que você foi escalar a minha casa... e acabou caindo e levando a calha e parte do telhado junto... - diz Tobias, rindo.
- Seus pais ficaram putos da cara comigo... e ainda machuquei minha perna...
- Você parecia... um macaco manco andando daquele jeito...
E mais risadas. Minha barriga dói, e estou chorando de tanto rir. Tobias está do mesmo jeito.
- Ai ai, meu Senhor, me ajude - digo, limpando minhas lágrimas.
- Acho que nunca ri tanto na minha vida - diz ele, retomando o fôlego.
- Nem eu.
- Espera - diz ele. - Escutou isso?
Ficamos em silêncio. Escuto passos vindo da direita. E então, vozes.
- Tris! Tobias!
Olho para Tobias. São Peter e Zeke.
- Peter! Zeke! - grita Tobias. - Olhem para cima!
Vejo os dois vindo em nossa direção. Eles olham para cima, e nos acham.
- Graças a Deus! - exclama Zeke. - Estamos procurando vocês faz horas!
- Vocês? - pergunto.
- Nós conseguimos nos reagrupar, e montamos um acampamento, não muito longe daqui. Desçam logo daí.
Tobias desce primeiro. Quando pisa em terra firme, parece que vai desmaiar de alívio. Quando já estou no chão, partimos.
- Esse acampamento não fica na floresta, não é? - pergunto.
- Na verdade, o termo "acampamento" está errado - diz Peter. - Achamos uma chácara. A casa é bem grande, tem bastante quartos com roupas, na cozinha te bastante comida, tem piscina, é tudo de bom.
- E quanto tempo vamos ficar por lá? - pergunta Tobias.
- Alguns dias. Hec torceu o pé, então vamos ficar até que ele fique bem e possa andar.
Alguns dias. Em alguns dias, meus pais podem morrer. Em alguns dias, eu posso morrer. Acabo afastando o pensamento. Hec não tem culpa, é só uma criança.
Algum tempo andando, finalmente vislumbro a estrada. Começo a correr como uma criancinha corre em uma loja de brinquedos. Quando chego na estrada, me ajoelho no chão e ergo as mãos.
- OBRIGADO SENHOR! MUITO OBRIGADO! ADEUS FLORESTA NOJENTA! ADEUS INSETOS E BICHOS ESQUISITOS! ATÉ NUNCA MAIS COBRAS E ARANHAS NOJENTAS!
- O que deu nela? - pergunta Zeke.
- A floresta mexeu com a cabeça dela - diz Tobias.
- Ah, calem a boca! - digo, me levantando. - Me deixem ser feliz.

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