"Arrependimento"

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Mattheo Riddle

De longe, eu a observava. Brianna estava sentada à mesa do Grande Salão, iluminada pela chama dourada dos candelabros, como se nada pudesse tocá-la. Ela sorria para algo que Luna Lovegood dizia, e aquele sorriso me queimava mais do que qualquer feitiço proibido. Nada me irritava mais do que o silêncio mortal com que ela me castigava.

Brianna não me olhava, não me buscava, não me reconhecia. Era como se eu fosse invisível para ela — ou pior, como se já estivesse morto. E, no fundo, talvez estivesse mesmo. Filho de quem sou, marcado pela escuridão que carrego, não me surpreende que ela tenha escolhido se afastar.

Não me arrependo de muitas coisas. Carrego as cicatrizes das minhas escolhas como um brasão, mas, em algum canto esquecido de mim, existe um arrependimento que me devora: ter brincado com os sentimentos dela. Brianna acreditou em mim, e eu a deixei sangrar por dentro.

A voz dela ainda ecoava em minha mente, cortante, desde aquele encontro rápido no corredor. As palavras dela foram poucas, mas a ausência delas depois foi ainda pior. Droga... como isso me corrói. Como se cada segundo longe dela fosse uma sentença escrita pelo próprio destino, que insiste em me lembrar de quem sou: filho da escuridão.

Eu ainda a observava, imóvel, quando uma voz irônica me arrancou do transe.

— Vai continuar encarando desse jeito, Riddle? Daqui a pouco até a Lovegood vai perceber. — Theo Nott se jogou no banco ao meu lado, servindo-se de uma maçã.

— Cala a boca, Nott. — Desviei o olhar rápido, irritado.

Ele riu, mordendo a fruta.
— Não é como se fosse segredo. Todo mundo já percebeu. Você parece um dementador faminto cada vez que olha pra Brianna.

Meu maxilar travou.
— E o que você quer que eu faça? Que vá até lá e peça desculpas?

— Bom, já seria um começo. — Theo arqueou a sobrancelha.

— Você sabe tão bem quanto eu que não funciona assim.

— É... talvez. — Ele me encarou, sério por um instante.

Inclinei-me para frente, os olhos fixos nos dela lá do outro lado do salão.
— Eu a magoei. E agora... é como se eu não existisse.

— Talvez seja exatamente isso o que você merece. — Theo suspirou, largando a maçã sobre a mesa.

— Cuidado com o que diz, Nott.

Mas ele não recuou.
— Estou sendo realista. Você quer Brianna de volta, mas não está disposto a mostrar nada além dessa frieza. Como espera que ela acredite em você?

Fiquei em silêncio, a respiração pesada. Por dentro, eu queria socar ele. Mas apenas voltei a encarar o sorriso dela à distância, aquele que me despedaçava e, ao mesmo tempo, era a única coisa que me mantinha ali.

— Eu não sei... — murmurei, mais para mim do que para ele. — Talvez eu só não saiba como não ser meu pai.

Theo jogou a maçã de um lado para o outro na mão, me observando em silêncio por alguns segundos antes de soltar uma risada seca.
— Patético.

Franzi o cenho.
— O quê?

— Você. — Ele mordeu a maçã, mastigando devagar. — O grande Mattheo Riddle, filho do Lorde das Trevas, sentado aqui, queimando os olhos numa garota que mal se dá ao trabalho de olhar na sua cara.

Meu sangue ferveu.
— Cuidado, Nott.

— Relaxa — ele levantou as mãos, zombando. — Só estou dizendo o óbvio. Todo mundo já percebeu. Você parece um cachorro abandonado sempre que ela entra no Salão.

I lie for two - Mattheo Riddle Onde histórias criam vida. Descubra agora