"O nosso natal"

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O dia seguinte amanheceu nublado, com o vento frio atravessando as janelas da torre da Corvinal. Eu estava sentada perto da janela, observando as nuvens pesadas se acumularem sobre o lago. Havia algo diferente no ar — uma mistura de calma e expectativa.

Desde a noite em que Mattheo me levou àquela sala, algo dentro de mim havia mudado. Não era apenas o que havíamos compartilhado, mas a maneira como ele me olhava agora — como se me enxergasse por completo.

O som suave de passos interrompeu meus pensamentos. Reconheci aquele ritmo antes mesmo de olhar.

— Você sempre foge para esse canto — disse Mattheo, parando atrás de mim. Sua voz era baixa, quase rouca, mas havia um sorriso contido nela.

— Não fujo. Só penso melhor aqui. — respondi, sem virar o rosto.

Ele se aproximou, devagar, até que senti o calor de sua presença atrás de mim. Suas mãos tocaram levemente meus ombros, e um arrepio subiu pela minha pele.

— Pensando em mim? — perguntou, com aquela provocação familiar.

— Nem sempre. — menti, e ele riu, baixo, encostando a testa na parte de trás da minha cabeça.

Ficamos em silêncio por alguns instantes, apenas respirando o mesmo ar. Lá fora, uma rajada de vento fez as cortinas dançarem, e eu me dei conta de que era fácil demais me perder naquele tipo de momento — calmo, quase doméstico, tão diferente de tudo que esperava de alguém como ele.

— Você está diferente — disse ele, por fim.

— E isso é bom ou ruim?

— É real. — respondeu, simples, mas com uma sinceridade que me desarmou completamente.

Virei-me, finalmente, e encontrei o olhar dele — intenso como sempre, mas mais sereno. Ele parecia menos... em guerra consigo mesmo.

— Acho que a gente está aprendendo — murmurei. — A ser dois, sem perder o que somos sozinhos.

Mattheo assentiu, e um pequeno sorriso curvou seus lábios.
— Nunca fui bom nisso. Mas quero tentar. Por você.

Meu coração apertou, e por um instante tudo pareceu parar. Ele raramente dizia esse tipo de coisa — não porque não sentisse, mas porque, para Mattheo, palavras eram compromissos.

— Então tenta. — disse, com um meio sorriso. — Eu vou estar aqui.

Ele se aproximou, e dessa vez o beijo foi leve, calmo, cheio de promessa. Não havia urgência, nem medo de perder o tempo. Havia presença.

Quando nos afastamos, ele encostou o nariz no meu, respirando fundo.
— Você tem ideia do que faz comigo? — perguntou, com um tom misto de carinho e rendição.

— Tenho. — respondi, rindo baixinho. — E acho que você também sabe o que faz comigo.

Ele sorriu, aquele sorriso raro e verdadeiro, e se sentou ao meu lado, olhando o céu cinza comigo. Ficamos assim, sem pressa, apenas deixando o tempo passar, como se o mundo inteiro coubesse naquele silêncio confortável.

— Brianna — ele disse, depois de um tempo — você acha que a gente consegue... ser algo bom, mesmo sendo tão diferentes?

Pensei um pouco antes de responder.
— Acho que é justamente por isso que a gente funciona. Você me puxa pra fora das minhas certezas. E eu... tento te lembrar que você pode ser luz, mesmo vindo das sombras.

Ele ficou quieto, absorvendo minhas palavras. Então, com um suspiro leve, entrelaçou os dedos nos meus.

— Luz e sombra... parece coisa que a gente aprenderia em Feitiços, não em Transfiguração.

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⏰ Última atualização: Nov 20 ⏰

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