Amnésia

345 18 0
                                    

O pessoal da sala começou a me olhar com cara de arrependidos... Alguns me pediram desculpas, enquanto isso outros apenas abaixaram a cabeça com cara de envergonhados e sentaram em seus respectivos lugares, e a sala ficou um breu durante a manhã inteira.

Tocou o sinal da saída, e parecia que eu tinha ficado pelo menos dois dias naquela sala, porque hoje o dia passou bem mais que devagar. Matt e eu saímos juntos, ele ligou para seus pais e avisou que estaríamos no hospital, então pegamos o ônibus e fomos. Chegando lá minha mãe estava sentada cochilando no mesmo lugar que ela estava ontem.

- Mãe?

- Filha, oi nossa, mas já está aqui que horas são?

- Tarde. Ela acordou? Como passou a noite? Você realmente não voltou para casa?

- Não filha, até liguei para o trabalho. Eu vou voltar para casa, comer alguma coisa e trocar de roupa liguei para o trabalho e eles me deram uma folga de quatro dias. Vocês vão ficar bem?

- Sim, vá descansar ficaremos bem.

Ela deixou a bolsa com as coisas para Maria conosco e saiu. O enfermeiro então veio falar conosco.

- Olá Mia, como está? E você Matt?

- Como sabe nossos nomes?

- A sua mãe me disse. A Maria acordou agora pouco, vocês podem fazer uma visita rápida.

- E como ela está?

- Ela se recuperou bem... Mas parece que ela não se lembra muito bem o que aconteceu.

- Mia, vamos lá vê-la talvez ela se lembre de algo.

Peguei a bolsa com as coisas para Maria e fomos até um corredor e descemos uma escada a nossa direita, que levava para um corredor bem espaçoso e grande com mais ou menos duzentos quartos ou quase isso. Entramos no quarto com uma placa dizendo "Quarto 134 Ala Cisne Negro". Até hoje não entendo essas alas que eles separam, e muito menos os nomes que eles dão. Uma vez minha tia ficou internada no "Quarto 89 Ala das Borboletas Avermelhadas". Quando eu era pequena achava que era porque ela era ruiva então a colocaram nessa ala, mas realmente não tinha nada haver.

Entramos no quarto e Maria estava com uma cara de assustada e de preocupada, parecia que ela não estava entendo o que estava acontecendo.

- Maria você tem visitas. Vou deixa-la à vontade.

O enfermeiro saiu.

- Maria? Quem é Maria? Quem são vocês?

- Não se lembra de nós? Somos seus colegas de classe, eu sou Matheus e essa é a Mia.

- Desculpe... Realmente não me lembro. O que aconteceu, como vim parar aqui?

- Você foi atropelada, eu te avisei, mas você não escutou. Este é seu segundo dia no hospital... Você não se lembra de nada mesmo? Como o nome dos seus pais, ou algo assim?

- Não sei... Desculpem-me, e obrigada por tentar me avisar! Seria pior se você não estivesse feito nada. O que aconteceu comigo aqui?

- A Mia, fez uma doação de sangue para você enquanto estava em falta aqui no hospital, você perdeu um litro e meio de sangue, ela doou 500 ml.

- Puxa Mia, obrigada mesmo! Devemos ser grandes amigas para você ter doado a quantia máxima para mim. Não é qualquer um que faria isso.

- Não foi nada.

Sorrimos, e o enfermeiro chegou.

- Desculpem, mas a visita acabou.

- Mas já? Poxa, eu queria tanto saber mais coisas para tentar me lembrar de algo.

- Você vai fazer um exame agora.

Ela mandou um beijo e acenamos de volta. Depois eu e Matt subimos e fomos até a lanchonete que comemos ontem. Pedimos dessa vez um almoço, dois pratos de espaguete com molho e almôndegas, ou porpetas como dizem.

- Mia, uma hora ela terá que saber o que aconteceu.

- Mas você viu como ela ficou feliz em saber que duas pessoas foram visita-la!

- É Mia, mas eu acho que isso é errado, ela perdeu a memória.

- Então Matt, essa é a nossa chance de tentar mudar. Podemos a fazer acreditar em outra história.

- Mas e na escola?

- Ela só irá voltar para escola quando os pais dela voltarem, ou seja, no domingo.

- E se ela se lembrar de tudo?

- E se ela não lembrar? Não quero ficar brigada com ela. Vamos inventar alguma outra coisa, conversar com o pessoal da escola para colaborar. Eles não vão querer vê-la triste.

- Isso você tem razão.

- Viu, não precisa se preocupar.

Meu telefone tocou.

- Oi mãe!

- Filha como vocês estão? Já estão almoçando?

- Sim mãe já estamos almoçando, e Maria acordou.

- Que ótimo filha, e como ela está?

- Sem memória.

- Como assim?

- Ela não se lembra de nada, nem o próprio nome ela lembrava. Visemos uma visita rápida, pois ela terá que fazer uma bateria de exames ainda, ela perguntou quem nós éramos, o que aconteceu com ela...

- Tomara que ela se recupere. Eu liguei para avisar que consegui me comunicar com os pais dela.

- Como você conseguiu falar com os pais dela?

- Eu dou meus pulos filha, não conhece a mamãe não? Eles voltaram na quinta.

- Daqui dois dias.

- Exatamente. Mais tarde eu vou aí, enquanto isso quando vocês acabarem o almoço voltem para o hospital.

- Tudo bem mãe, beijos.

- Beijos.

Desliguei e coloquei o telefone no bolso.

- O que sua mãe disse?

- Que os pais dela voltaram na quinta.

- Na quinta? O que vamos fazer?

- Como assim o que vamos fazer?

- Ué, o que vamos falar para eles? Eles vão querer saber a história, detalhadamente quem somos nós porque ajudamos, porque as amigas dela se é que são amigas mesmo, não vieram para cá.

- Contamos a verdade horas. Ela foi atropelada, as amigas dela não puderam vir, nós vimos o atropelamento de perto e por isso viemos. E também teremos que falar que gostamos muito dela, porque não vamos chegar aos pais dela e dizer que odiamos a filha deles.

- Eu acho que essa história ainda vai dar merda.

Como conquistar o CrushOnde histórias criam vida. Descubra agora