I -Perda de um Amor

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Meu nome é Live, eu tenho 16 anos. Sou uma órfã, mas isso é normal em minha cidade. Se eu pensasse como as pessoas daqui eu acharia que teria tido sorte em ser a primeira da minha geração a perder os pais. Aqui todos são assassinados após completarem 30 anos de idade, pois a cidade não permite idosos nela.
O único idoso com 64 anos é o prefeito, que depois de tantas cirurgias plásticas parece mais um boneco deformado.
Agora resta apenas eu e minha irmã Mags de 14 anos , ela é a única pessoa que tenho que cuidar ,sem esquecer que também tem o Arthur, ele é um menino da minha classe. Eu gosto dele, mas ele é popular e bonito demais para mim .
Ele é loiro com um corpo estruturado e definido, tem olhos azuis, pesa 65 quilos e tem exatamente 1,65 de altura, eu sei por causa da pesagem que o governo nos força a fazer todo ano.
Droga! Preciso parar com esses devaneios.
Estou atrasada para o Colégio.

_ Mags...Mags...- começo a gritar-Vamos , estamos atrasadas.

Meu Colégio não é muito longe da minha casa, são aproximadamente dois mil metros em linha reta. Chegando em meu colégio eu me despeço de minha irmã .

Tchau Mags, boa aula, - beijo sua testa- se cuida.

_ Tchau Live você também. -ela me da um curto abraço e parte .


Estou sentada em meu lugar na sala de aula e até feliz por hoje ser a minha matéria preferida, História. Na aula anterior o professor Claudius estava nos contado alguns acontecimentos de um livro que ele leu sobre nossos antepassados, antes de haver a guerra no mundo, há 247 anos. Segundo o nosso prefeito o senhor Bubble, que é o cidadão mais antigo da nossa cidade, a guerra aconteceu por conta da pouca água no mundo e nossa cidade foi a única que sobreviveu de todo o resto. Nesse dia ele veio dar uma palestra no Colégio. Eu não sei porque, mas ele tem algo de misterioso em seu olhar, me assusta um pouco .Hoje o professor não pode vim, ele ficou doente .

Olho no meu relógio e me admiro do dia ter passado tão rápido. Não tenho amigos, então sempre quando um professor falta eu fico sozinha num canto da sala, enquanto os outros conversam.
Finalmente o sino toca indicando que é hora de ir embora e eu mais que depressa vou a caminho da sala de minha irmã Mags para esperá- la.
Quando vou passando pela porta da sala Arthur esbarra em mim, eu bato com o ombro na parede- coloco a mão sobre meu ombro- .
_ Desculpe-me, eu realmente não te vi.
_Tudo bem, -meu coração começa a bater decididamente mais forte- acontece...
_É Live né?
_É sim-começo a sentir um frio estranho no ventre.
_Eu sou Arthur-ele sorri .
_É , eu sei- começo a sorrir sem motivo, não conseguindo me conter.
_Arthur- alguém grita- Oi estranha .
_ O nome dela é Live. -ele olha franzindo o cenho- Ela tem nome Carine.
_Tudo bem, acho que vou indo- saio sem esperar resposta.
Ainda consigo escutar ele dizendo tchau ou algo assim.
Carine é a namorada do Arthur, a menina mais arrogante e incrivelmente bonita que já vi.
Com cabelos loiros e aproximadamente a minha altura 1 metro e 60
e considerando o fato de que eu não chamo a atenção como Carine, nem tenho cabelos loiros e sim cobres e muito menos tenho olhos azuis , só meros olhos cinzas é impossível que seja correspondida por ele .

Quando me dou conta já estou fora do Colégio com minha irmã me puxando.
_Live por que demorou? Com tanta demora decidi esperar aqui fora e fiz certo pelo jeito. -ela cruza os braços e para impedindo minha passagem.
_Eu. ..eu...-tento responder ainda saindo dos meus devaneios, mas sem sucesso.
_Não importa, vamos para casa- ela me pega pela mão e começamos a caminhar .
Chegando em casa eu não tenho muito o que fazer, Mags já vai logo saindo com uns cabos que tem cabelos na ponta e uma espécie de água colorida em suas mãos. Um dia ela me disse o nome, se não me engano se tratam de tintas e pincéis. Toda Quinta- feira ela sai para fazer uns desenhos com suas amigas, ela fala que são pinturas, mas não entendo e não é como se eu me importasse muito.
Mags é uma menina muito doce, generosa e gentil. Ela com certeza puxou a nossa mãe Wallery, que era tão meiga quanto a filha.
Voltando a pensar no Arthur logo já me vem a lembrança de tudo que aconteceu hoje . Ele foi gentil, não é como se passa-se a maior parte do tempo com Carine. De algum modo não foi o que eu esperava, eu fiquei nervosa e espero que não tenha sido evidente, mas parece que faltou algo, talvez faltou a Carine não ter aparecido.
Ainda sou nova . Mamãe sempre me falava que demorava um tempo para entender os sentimentos e que precisava de maturidade para isso, mas que é estranho é .
Cansada de viajar nesses pensamentos eu decido procurar o livro que o professor Claudius tinha lido algumas citações, o peguei emprestado na biblioteca do colégio. O nome do livro é "Antes do Caus " , nesse livro conta como as pessoas viviam, até morrer naturalmente ou de doença que em NULLUM SENSUM (sem sentimentos) é conhecido como praga da terra. Aqui em Nullum ninguém tem essa tal doença, nenhum tipo dos quais eu pesquisei. Realmente o planeta terra já foi muito diferente.
O livro contém quatrocentas e sessenta e quatro páginas, considerado um enorme livro, é raro um livro grande assim aqui, nem na biblioteca da prefeitura é tão comum.
A biblioteca é um dos lugares que mais amo, nele tem múltiplas informações, apesar de que muitos livros são proibidos de ler e outros até mesmo de tocar, falam que são de conhecimentos privados do governo , o que é claro só me deixa mais curiosa e mais tentada a desobedecer as leis.
Depois de ler uma parte desse livro eu pude perceber como os humanos eram complexos, e até me identifiquei. Acho que não pertenço a NULLUM SENSUM, mas sim a terra antes da guerra, exatamente aquela terra, onde tudo parece se encaixar da forma mais louca e bonita, onde as pessoas demonstram seus sentimentos, onde todos tem liberdade. Os cidadãos daqui nem mesmo parecem humanos, todos acham errado ter liberdade de expressão, mas eu não, porém, nunca pude contar isso a ninguém.
Mamãe me disse uma vez que ser inteligente não era expor tudo que sabia ou sentia, as vezes era só se manter calado.
Eu sempre fui diferente, desde muito pequena já me isolava de tudo e de todos, minha mãe até tentava mudar isso,mas ela sabia que se me forçasse seria pior.
Mamãe acreditava que eu passava a maior parte do tempo lendo, e era o que eu tentava fazer, mas sempre caia em devaneios contínuos e demorados, as vezes até pegar no sono .
Eu sinto saudade,ela sempre foi muito atenciosa apesar de eu não precisar muito de tal coisa. Quem sente mais falta é Mags, a pobre tinha apenas 10 anos quando mamãe se foi, e 8 quando nosso pai sumiu.
Eu não gosto de falar muito sobre esse assunto. O meu pensamento e que Paul esqueceu que algum dia teve duas filhas no momento em que partiu, sem se importar com ninguém.
Cretino imprestável, deixou mamãe sozinha para assumir a responsabilidade. Ela tinha 28 anos quando Paul se foi, sabia que iria durar apenas 2 anos, mas fez de tudo para que não parecesse. Sempre dissera que iria cuidar para sempre de nós, assim como nosso pai. Eu sabia que era mentira, ainda mais a parte de meu pai, mas conseguia compreender porque ela falava aquilo,afinal Mags só tinha 8 anos.
Mamãe não tinha raiva de meu pai, disse uma vez para si mesma sem perceber - Sei que fez porque era preciso, oh Paul - Eu fingi que não escutei, depois ela percebeu ,se assustou, levantou da poltrona e foi para o quarto.
Eu nunca esqueci aquela frase, sempre quis acreditar nisso, mas depois de um tempo percebi que não valia a pena, afinal eu sabia que teria que cuidar de Mags, e não poderia ficar me distraindo com tal coisa. Paro meu raciocinio devido a uma voz que escuto em minha mente, que diz Vá para as barreiras . Sempre só me fala isso, mas acho que é delírio meu, talvez seja porque dizem que meu pai atravessou as barreiras, pode ser só meu cérebro me pregando uma peça. Você estar se perguntando o que são as barreiras : barreiras são muros com uma altura de 15 metros, elas foram feitas para separar a nossa cidade.Voltando a lembrar da voz, uma coisa que me deixa na dúvida se é ou não meu cérebro com essa voz sussurrante é que muitas vezes já adormeci e acordei deitada ao lado das barreiras.

Obscurecidos pelo Inferno ( EM REVISÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora