Capítulo 7

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M⃣I⃣C⃣A⃣E⃣L⃣L⃣A⃣

A volta para o apartamento foi silenciosa e não fiz questão de mudar isso. Sentia que minha relação com Edgar estava à beira de um precipício e não fazia nem vinte quatro horas que nos conhecíamos. Se já nas nossas primeiras horas de convívio ele se mostrou um homem intolerante e extremamente desagradável, me pergunto como será nossa convivência daqui a alguns dias. Iríamos nos entender e conviver em harmonia? Iríamos ignorar a existência um do outro e seguir com nossa vidas? Ou iríamos nos estapear e ver quem conseguiria estrangular o outro primeiro? Confesso que a segunda opção é a que mais me agrada. Não sei se saberei lidar com o jeito de Edgar e todos os seus defeitos. Antes de vir para cá, eu já tinha consciência de que para ter um bom convívio com uma pessoa desconhecida, precisaria quebrar algumas barreiras e fazer pequenos sacrifícios, mas alguma coisa me diz que não conseguirei abaixar a guarda para Edgar.

Assim que chego no meu novo lar vou imediatamente para o meu quarto. Depois de trancar a porta, tiro toda tensão dos meus músculos com um banho relaxante. Ao cair na cama um milhão de pensamentos bombardeiam minha mente e um deles é Bryan, rejeito-os e trato de tentar dormir. Porém falho. Só consigo pensar na intensidade com que aqueles olhos pretos me fitaram a noite inteira. Me recuso a sentir qualquer coisa por aquele paspalho, principalmente porque não o conheço. Coloco em minha cabeça que só fiquei atraída por sua beleza e que todos esses pensamentos relacionados a ele não passam de um mero capricho do meu subconsciente.

Respiro fundo. Solto o ar. Respiro fundo. Solto o ar. Respiro fundo novamente e solto o ar. Pisco o máximo de vezes que consigo por um minuto. E assim o sono logo vem.

~*~

Acordo assustada com meu celular tocando, pego o mesmo e atendo sem ver quem é.

— Hello — digo sonolenta.

— Nossa, está aí há um dia e já está falando como um deles? — diz a pessoa do outro lado da linha que logo reconheço a voz. Sorrio.

— Meu Deus! Me despedi de você ontem, mas já estou com saudades. Credo, o que aconteceu comigo? — digo fingindo desgosto e ouço sua risada do outro lado.

— Também estou com saudades, Mica. E devo dizer que estou muito decepcionado com sua falta de compaixão — diz com a voz manhosa. — Pensei que eu significava alguma coisa para você.

— Quanto drama, Gabriel! — digo rindo. — Não te liguei ontem à noite porque tive que sair e cheguei tarde.

— Ah, que bonito! Enquanto eu estava aqui, preocupado, esperando um telefonema seu, a gatinha estava na gandaia! — diz Gabe me fazendo rir de novo. Ah, como eu amo o linguajar brasileiro!

— Eu não estava na gandaia, fui meio que obrigada a ir jantar fora — digo calmamente. — E se faz você se sentir melhor, saiba que odiei a noite de ontem.

— Deixa eu adivinhar... a comida não te agradou e você comeu pouco?

— Incrível como você me conhece tão bem! — digo, mas a verdade bem era outra.

— Não é muito difícil de adivinhar o motivo pra  você não ter gostado de ir a algum lugar. Você é uma passa-fome de carteirinha! — sua voz soa estridente.

— Isso me ofendeu profundamente, como castigo irei desligar educadamente o celular na sua face — uso um tom pomposo.

— Não se eu desligar primeiro — dito isso o infeliz encerrou a chamada.

— Miserável — sussurro olhando para o celular.

Gabe é meu melhor amigo, na verdade é mais que isso, é como meu irmão mais velho e o amo como tal. Nos conhecemos desde os meus oito anos de idade e meu primeiro beijo foi com ele, aos doze. Um pouco cedo, mas como qualquer outra criança eu era curiosa — continuo sendo — e pedi para Gabe, que na época tinha catorze anos, me mostrar o que era um beijo. O coitado ficou em pânico, mas quando ameacei que pediria para o primo dele, na época os dois se odiavam, Gabe se recompôs e me beijou. Tinha achado muito nojento e disse para ele que nunca mais beijaria alguém de novo, e isso quase se tornou verdade já que consigo contar nos dedos quantas vezes beijei outros garotos.

Atração FatalOnde histórias criam vida. Descubra agora