A fila continuava agora para a segunda oferenda. Nessa ela recebeu um punhado de folhas variadas. Algumas frescas e outras secas, mas o gosto era igualmente amargo. Tinha que ser levado à boca assim que fosse recebido para ser mastigado e mastigado enquanto a fila seguia para a próxima serva.
Nessa se cuspia aquele bolo de saliva e fibras em um imenso tambor de latão, então a terceira serva entregava um chumaço grande de fibras entrelaçadas e secas. Panda sempre olhava de torto para aquele chumaço, tinha certeza que aquilo era o bolo de ervas que alguém tinha mastigado na cerimônia passada, e que era apenas deixada para secar.
A última serva era a mais aguardada. Essa era a que entregava uma túnica, não nova, mas limpa, e essa túnica sempre cinza, seria usada por dois turnos diretos. Demorava várias dormidas para que começasse a pinicar no corpo e também endurecer de tanta sujeira, mas enquanto não acontecia, era agradável a sensação de leveza que ela trazia.
Depois de pegar tudo o que era preciso, todos os coloniados tinham que ficar em volta da cratera rasa. O salão era uma imensa caverna iluminado pelas sancas que vinham de todos os lados dos corredores e ali volteavam toda a cúpula de pedra indo novamente passear por um corredor qualquer.
Alguns archotes nas paredes ajudavam a iluminar ainda mais o lugar, mas o fogo do archote era o fogo menor, não o fogo branco, não o fogo mágico, mas sim o fogo comum usado pelos comuns como eles.
Mas esse fogo menor era mais bem quisto por eles, pois a iluminação do fogo branco era suficiente somente para não se ficar cego, mas era tão pouco que não se podia dizer que cor tinha o cabelo de cada ou mesmo os olhos. Tudo era visto como acinzentado o tempo todo, e aquela luz do fogo menor era bem vinda, pois dava uma cor amarelada a tudo, sem contar que era quente e agradável enquanto o fogo branco era frio e causava uma sensação estranha de cansaço.
Mas isso não se podia falar em voz alta, pois o fogo branco era poderoso segundo os Piromantos, por isso tinha que ser venerado.
Panda nunca entendeu isso, pois o fogo menor iluminava melhor e aquecia seus corpos muito mais depois da purificação. Ela amava o fogo menor mais que o fogo mágico, mas nunca ousou dizer isso nem mesmo aos anciões que sempre lhe confidenciavam segredos e histórias do mundo ermo.
Logo o barulho começou a aumentar e a ansiedade de Panda se agitou junto. Não demorou muito para a ilustre e esperada visita dar sinal que estava chegando.
Panda correu para ficar perto dos colegas. Mir era um dos mais velhos do reduzido grupo de cinco crianças na colônia, ele era duas voltas mais velho que Panda, não era o mais forte, porém era o mediador de tudo. Era o que sempre fazia o tão irritante "xiu" para os outros quando se empolgavam e começavam a falar na altura de dois ecos.
Todas as crianças recebiam uma vela a cada volta, e Panda já tinha onze tocos guardados e uma vela quase inteira.
Cisco era a menor de todos, era uma volta mais nova que Davi que era uma volta mais novo que Panda. Tinha também o mais velho dos cinco que sempre andava com eles quando eram liberados de suas tarefas.
Ele se chamava Ézio, era ainda uma volta mais velho que Mir e muito mais forte que ele, porém Panda achava que a força de Ézio não servia para nada já que sempre o vencia na caça aos tesouros no dia da Purificação.
Em todas as poucas vezes que eles se reuniam, a participação dele na conversa era apenas um torcer de lábios em forma de sorriso, ou um movimento de cabeça ao concordar, mas seus olhos eram serenos, como se ali nada se abatesse além de uma preocupação sem justificativa. Ainda assim ele estava sempre os esperando quando se reuniam apesar de quase nunca abrir a boca.
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Sanoar 1- Crianças Herdeiras-(DEGUSTAÇÃO)
FantastikResgatados de colônias subterrâneas não conheciam nada. Nunca tinham visto a luz do sol. Não sabiam o que ia acontecer com eles, apenas descobriram que foram enganados o tempo todo. O elementais deram a eles uma chance de resgatar suas vidas per...