Caça ao tesouro

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Por duas vezes teve que emergir para pegar ar, em uma delas viu Mir fazendo o mesmo. Na terceira vez, vislumbrou rapidamente o povo da colônia se esfregando e outros já vestindo a túnica limpa.

Sentiu pena desses coloniados, tão apressados para fazer o mesmo de cada dia. Descansar e descansar e esperar seu turno, curar suas feridas do turno passado e recuperar suas forças sugadas no turno que participaram.

Mas Panda e seus colegas não tinham que se preocupar com isso, ainda não. Eram novos demais e de certa forma protegidos. Suas tarefas eram simples, mesmo que diárias não era tão cansativo, e sempre sobrava um tempo para se encontrarem e conversarem mesmo que o mínimo possível.

Depois de emergir mais uma vez, já não estava tão certa de ter sorte dessa vez, não havia encontrado nada além de uma bolsa velha de couro, ainda assim, tinha deixado junto com as oferendas, mas vendo as coisas que os outros tinham encontrado, seu achado era apenas um infortúnio sem valor.

Mir havia ostentado uma coisa escura, Panda sabia que era semente, ela tinha encontrado uma parecida quando tinha apenas dez velas consigo, não ajudaria os anciões a lembrar de nada, mas era melhor que uma bolsa velha.

Davi havia encontrado uma colher de madeira toda carcomida, isso ela conhecia porque eram colheres assim que usavam para comer, e também os idosos poderiam encontrar assunto para contar sobre aquele objeto. Ele teve sorte.

Novamente ia tentar, quem sabe dessa vez também tivesse sorte. Era a última tentativa, depois ela ia se esfregar até doer sua pele, então ia gastar todo o pedacinho de sabão que sobrasse na bola emaranhada que era seu cabelo, continuaria uma bola, sempre foi assim, mas pelo menos sua cabeça não coçaria tanto por um bom tempo.

Panda sentiu um roçar em suas pernas e riu com o toque, imaginou que fosse um dos seus colegas tentando vasculhar o mesmo lugar que ela. Novamente sentiu o contato e seu sorriso morreu ao perceber que era um toque diferente.

Era como se algo menor que a mão de Cisco estivesse ali... Muito menor. Medo não era uma palavra certa para distinguir o que sentiu, era mais parecido com "vontade de saber o que era".

Com a curiosidade aguçada, tentou segurar um pouco mais o ar em seus pulmões para conseguir ficar mais tempo no fundo, levou a mão devagar na direção do toque e sentiu uma bolinha macia se achegar a sua mão.

Sua primeira vontade foi de sair nadando o mais depressa possível em outra direção, mas não podia ser tão terrível... Se aquela coisinha que se mexia quisesse lhe fazer mal, já a teria machucado, mas ao contrário disso, parecia querer a aproximação, era como se quisesse ser encontrado.

Aquilo ficou parado perto de sua palma, o movimento mostrava que ele nadava parado no lugar apenas esperando alguma atitude. Mas que atitude seria?

Panda se deixou vencer pelo primeiro impulso e fechou a mão devagar, não podia esperar muito, já sentia o ar acabando.

O que quer que fosse que estava ali era vivo, ela sentia isso pelo toque em seu pequeno corpo, precisava subir à tona pegar ar e ver o que era, segurou com um pouco de força para não machucar e subiu.

Nadou até a beira olhando sorrateira para os lados. Nem mesmo quando deixou o achado em suas coisas se permitiu ficar observando o que era, apenas viu uma minúscula sombra se enfiando embaixo da túnica e ali ficando.

Panda agiu normalmente, não queria levantar suspeitas sobre isso para os colegas, também não queria se vangloriar que seu achado era algo totalmente diferente de tudo que tinham visto, claro que se pudesse o faria aos gritos, mas não dessa vez.

Era um tesouro tão valioso que seria arrancado dela, pois tinha vida, não era como os homens da colônia, mas tinha vida e sendo assim, aquilo pertencia as terras ermas. E esse era o problema de seu achado, era algo proibido na colônia e poderia por seus amigos em perigo.

Esfregou a maior quantidade de pele que conseguiu com toda a força de seus braços economizando o sabão para a parte mais difícil, os cabelos.

A espuma em sua cabeça era algo estranho, e ela tinha cuidado para não deixar cair nos olhos, lembrava muito bem da última vez que tinha feito isso com os olhos abertos, havia doído muito e depois eles ficaram inchados e lacrimejando por várias viradas do tubo, e seu sofrimento passado a fazia sempre se lembrar de apertar os olhos com força.

Cisco chegou respirando rapidamente, com a voz que demonstrava sua alegria. — Não quer mais caçar?

Sim ela queria, por ela não sairia mais daquelas águas, mas a vida... Ela queria saber o que era e logo...

— Quero terminar de me limpar, não tem nada no fundo dessa vez, apenas o de sempre.

Ézio estava ali quando ela abriu os olhos depois de afundar várias vezes para tirar a espuma e abriu os olhos e ele continuava a encarando com um meio sorriso e um olhar de quem tinha algo valioso para mostrar.

— Você não teve muita sorte então olha o que achei. —Ele mostrou um objeto brilhante e prateado. — Ele corta, olha.

Ele havia mostrado a ela o dedão do pé, com um corte não muito fundo e Panda revirou os olhos com desdém.

— Então você não encontrou, na verdade você pisou nele sem querer.

Ézio levantou uma sobrancelha. — Mas não deixa de ser um achado.

Panda não respondeu, sentiu inveja daquele achado de Ézio, nunca iria servir para nada, mas era algo diferente do comum. Assim como o achado dela...

Ela olhou com cobiça para o objeto brilhante na mão de Ézio, seria bom se tivesse encontrado também esse. Duas coisas inusitadas na mesma cerimônia, talvez até ganhasse o nome. "Panda, a melhor caçadora de tesouros".

Seus colegas a olhariam com receio na próxima purificação e isso seria muito legal, sentiu vontade de procurar novamente no fundo e reverter sua sorte, quem sabe mais um pouquinho...

Ouviram o som do primeiro toque que indicava que o tempo da purificação estava quase se esgotando, não dava mais para caçar tesouros. 

 

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Sanoar 1- Crianças Herdeiras-(DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora