Lisse, Inara e Ana

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— Venha. — Disse Delia para a menina no outro cômodo. — Logo ela veio de mão dada com a menina. — Como você se chama?

A menina pareceu acordar de um transe ao ver que a pergunta era para ela. — Panda. — Disse ela baixo e olhando para os pés.

Délia parecia já saber a resposta, mas aquilo pegou Panda de surpresa.

— Não pode, eu me chamo Panda desde que sei falar.

— Eu também.

Délia a ajudou a tirar a roupa. — Entre na água antes que esfrie.

Panda acabou deixando de lado a chateação de a menina ter pegado seu nome, ficou um pouco com pena ao ver o corpo esquelético da menina. Não que o seu fosse menos parecido com o dela, mas de certa forma ela sabia que aquela menina estava mais muito mais magra que ela, e muito mais doente.

Seu corpo estava todo ferido, algumas partes estavam inflamadas, em suas costas, suas nádegas tinham escoriações por todo lado.

A parte interna de sua coxa estava com cores misturadas, desde o roxo de uma batida nova quanto esverdeado e negro de uma batida antiga.

A única coisa que ela tinha de bom eram os dentes, extremamente brancos e inteiros, obra das ervas dos Piromantos.

Délia começou pelo cabelo dando a Panda uma esponja de lã macia para esfregasse o corpo, ela começou a falar depois de um tempo enquanto esfregava os cabelos da menina.

— Os Piromantos tem uma maneira estranha de distribuir as crianças.

Sempre são três meninos e duas meninas, os grupos de crianças é que determinam a criação de novas colônias.

Os nomes dos meninos são escolhidos pelas madres, enquanto que os das meninas são escolhidos pelos próprios Piromantos, ou seja, eles determinam pela idade, mais velha Panda e mais nova Cisco.

As madres por necessidade materna tem a tendência a por os nomes nos meninos de acordo com seu semiconsciente, dai colocam os nomes que lhe são agradáveis aos ouvidos, e mal sabe elas que são nome de seus filhos, marido, irmão, pai avô, elas tem uma lembrança boa desses nomes, apesar de não saberem o porque.

— Mas então as madres já tiveram família?

— Sim, mas elas são levadas, não se sabe como e de onde, mas são levadas, e viram madres sem lembrar seu passado. Só sabem a obrigação de cuidar da criança que lhes foi indicado pelo Piromantos.

Elas não sabem disso, é algo instintivo por isso que os meninos têm nomes diferentes enquanto que as meninas têm nomes iguais, então, creio que vão precisar pensar em um nome para vocês. Como foi dito, aqui vocês tem o direito de escolha.

A Panda que tomava banho não disse uma palavra ao ouvir a história, uma lágrima somente escorreu de seus olhos, mas Panda não conseguia esconder sua raiva.

Estava com os olhos molhados também, mas não ia se entregar ao choro assim, nunca tinha chorado e não seria aquela a vez que faria, não disse nada, continuou esfregando a menina, por vezes com cuidado onde via que a ferida estava exposta.

Sentia um frio no estômago enquanto passava o sabão. Tinha evitado esfregar, mas Délia a tinha repreendido, pois a parte ferida é que precisava ser limpa.

Então ela passou a forçar mais a esponja nas partes machucadas e imaginava a dor que a menina estava sentindo, e só de imaginar sua barriga se torcia de pena ainda mais.

— Serei Inara. — Disse a menina dentro da tina, não precisava dizer mais nada, ou foi o que ela pensou porque se fechou como uma concha se mantendo silenciosa novamente.

Sanoar 1- Crianças Herdeiras-(DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora