Panda continuava segurando o ratinho que falava e falava a deixando cada vez mais confusa.
— Mas... Tarde para quê?
— Para que eles descubram algum sinal, eu já disse.
— Mas quão ruim seria ter esse sinal? Afinal os Piromantos são estranhos, mas não fazem mal algum a ninguém da colônia.
— O mal que fazem você não precisa saber agora. Todos saberão e entenderão estando fora daqui. Quando tiverem suas vidas de volta então poderão comparar como era vida aqui com a que terão bem longe. Levará tempo, mas vocês saberão dizer o quanto mal lhes foi causado e o quanto de suas vidas estaria roubada se continuassem aqui. Mas para isso, eu preciso tirar vocês dessa colônia você confiando em mim ou não.
Apesar de toda vontade de dizer não, Panda não podia deixar de se sentir seduzida pelo mundo lá fora. Poderia ser uma grande oportunidade ver se era verdade tudo o que os idosos haviam comentado, também descobrir mais sobre essas outras colônias que até então, ela nunca tinha imaginado existir.
Pensando nisso e na oportunidade à sua frente, um plano se formou em sua cabeça em segundos.
Iria sim com aquele rato e faria o que ele dissesse, mas somente por hora, quando conseguisse sair dali iria seguir seu próprio caminho com seus amigos.
— Está bem, vamos então que já está na hora, eles me esperam no lago. Vou pegar minhas coisas.
— Que coisas? Você não tem nada aqui além de um local para dormir, nem mesmo essa roupa que usa é sua. Logo que a tirar ela será levada para ser usada por outro da colônia que nem mesmo um laço com você tem. É somente levantar e caminhar minha cara, nada aqui te pertence, nem mesmo a sua vida enquanto estiver aqui dentro. Você pertence aos Piromantos, enquanto estiver na colônia, é propriedade deles assim como esse fogo imundo que cerca tudo aqui. Não há nada para você pegar garota.
Ofendida não era bem a palavra para o sentimento de Panda, talvez a sensação de ser um nada sem nada. Naquele momento sentiu tristeza e algo mais forte que isso, se sentiu um objeto inútil, sentia indignação por ser tudo verdade e não ter argumentos para aquilo.
Seguiu com o rato na mão sem emitir um som sequer, foram palavras duras demais para que ela conseguisse responder, até mesmo a vela que estava ali, depois de ouvir aquilo já não podia dizer que pertencia a ela como antes.
Também não se despediu de ninguém. Não tinha ninguém que a interessasse para dar um adeus.
Apenas pelos idosos que ela nutria alguma simpatia, mas não o suficiente para se arriscar se despedindo deles.
O rato parecendo saber que havia atingido fundo seu orgulho também não emitiu som algum, mesmo quando ela parou por algum tempo para ouvir com atenção e garantir que não seriam pegos. Nem mesmo quando ela deslizou devagar corredor a corredor, curva a curva, andando sorrateiramente avançando devagar para o salão da purificação.
Quando chegou à cratera encontrou uma fogueira fumarenta e os seus amigos a cercando com as mãos esticadas para sentir o calor. Sempre pareciam fascinados com aquilo, com aquela dança do fogo, que ali era tão vivo e cheio de energia, muito diferente do fogo da sanca.
Ela se aproximou devagar, apesar de terem notado sua chegada, continuaram conversando baixo e animadamente, pois ela já era esperada então não havia necessidade de um cumprimento. Em silêncio Panda se abaixou perto do fogo, ainda estava sentida pelas palavras duras e verdadeiras do rato.
— O que há com você? — Perguntou Cisco.
Panda nem se deu ao trabalho de responder, estando ali com um rato e com aquela noticia que iriam embora. Isso parecia ser mais urgente.
— Gente, eu tenho uma coisa para mostrar, uma coisa que achei na água quando mergulhava.
Não precisou que os amigos ficassem curiosos, o rato como sempre intrometido além da conta, saiu de dentro da manga da túnica e ficou parado olhando para eles perto do fogo.
A surpresa era geral, não houve comentários, apenas alguns sons monocórdicos de surpresa e susto, e antes que o rato começasse com sua ladainha Panda começou primeiro. Estava destemida a liderar aquilo e não deixá-lo bancar o esperto, apesar de saber que precisava dele para achar a saída, ela também tinha consciência que sem eles quererem o rato não poderia fazer nada além de ir embora de mãos vazias.
— Precisamos sair daqui, esse ai é um rato e veio nos tirar desse lugar, estamos correndo perigo. Então temos que ir para não sermos pegos depois que o sinal aparecer.
Esperou alguma pergunta, mas eles estavam abismados demais com suas palavras então ela explicou assim mesmo antes que o rato o fizesse.
— O sinal é algo na saliva que deixamos nas folhas que mastigamos todos os dias. São várias ervas para vários fins, mas uma delas é para captar o sinal que precisam para nos levarem de nossas tocas.
Estavam todos olhando para ela paralisados, parecia que nem mesmo respiravam. Panda estava determinada a vomitar tudo de uma vez antes que sua coragem falhasse ou o rato intrometido tomasse a frente, mas ele a deixou falar tudo o que precisava para a surpresa de Panda não a cortando nenhuma vez, e no fim de tudo ela não se conteve.
— Me deixou falar tudo rato sem nem mesmo me cortar.
Ele soltou um muxoxo. — Era o que eu esperava que você fizesse, por isso te escolhi e te achei. Tinha certeza que você saberia como e o quê fazer na hora certa para sairmos daqui.
Usada, era a palavra mais certa para seu sentimento naquele momento, ainda mataria aquele rato quando não mais precisasse dele.
— Está me dizendo que me deixou falar porque era isso o que queria que eu fizesse?
— Não, estou dizendo que era isso que eu sabia que faria, você é uma líder nata. Ainda não sabe disso, e se saiu muito bem, fez da forma que eu esperava que fizesse.
O terror nos olhos dos seus amigos era ainda maior O ratinho se manteve quieto, mas Panda sabia que se a luz fosse mais forte teria o visto revirando os olhos com desdém.
— Sim falo, se alguém for gritar já aviso que isso estragará tudo. Podem desmaiar se quiserem, mas se recuperem logo e façam isso em silêncio. — Voltando sua cabeça para Panda ele falou com impaciência. — Além disso, você prestou atenção?
— Não fala assim com ela! — Disse Mir já um pouco mais perto do rato.
Ézio tocou seu braço sem nem mesmo olhar para ele, estava olhando fixamente para o rato.
— Não Mir, deixe que ele termine de falar, ele tem razão. Foi dito muito e escutado o insuficiente.
— Sábias palavras rapaz. Realmente precisam escutar muita coisa, mas não agora. Precisamos mesmo sair daqui, quanto mais demorarmos mais fácil será de nos pegarem quando descobrirem a falta de vocês.
Davi que até então era o que mais prestava atenção, decidiu abrir finalmente a boca.
— Mas vai nos levar para onde?
— Saberão quando a hora chegar. Só afirmo que estou aqui para ajudar vocês e não para lhes fazer mal. Precisam vir comigo mesmo às cegas de informação. Agora só terão minha palavra que é para o bem de vocês. Ou se não quiserem acreditar, fiquem ai e amarguem a curiosidade de saber como são as coisas lá fora e qual o verdadeiro papel dos Piromantos, e também porque que seria o fim para vocês se tiverem o tão esperado sinal que eles tanto procuram.
Nada mais precisou ser dito, o silêncio era a indicação que estavam de acordo em seguir aquele rato.
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Sanoar 1- Crianças Herdeiras-(DEGUSTAÇÃO)
FantasyResgatados de colônias subterrâneas não conheciam nada. Nunca tinham visto a luz do sol. Não sabiam o que ia acontecer com eles, apenas descobriram que foram enganados o tempo todo. O elementais deram a eles uma chance de resgatar suas vidas per...