24 Days - H.S - AU - A REESCREVER

Happy Birthday, Jane - 19

Deixei soltar um suspiro pesado, á espera de conseguir processar todos os acontecimentos anteriores.

"-Eu olhava para ti todos os dias, quando chegava a casa. Deitava-me na minha cama a olhar para a tua varanda á espera que aparecesses, a mexer no cabelo desajeitadamente e a falar ao telemóvel, como fazias todos os dias. Já viste onde estamos agora? Já viste o que aconteceu num espaço de pouco meses? Era como se tu fosses uma espécie de ídolo, achava-te interessante, bonito, misterioso. E eu nunca tinha falado contigo. Depois mostravas-te tão frio e arrogante que eu comecei a achar que estava certa. Talvez fosses uma merda de pessoa. Mas eu ainda te queria conhecer melhor. Não me perguntes o porquê de sentir isto nem o porquê de te estar a explicar agora. É simplesmente embaraçoso mas eu sinto-me no dever de te dizer tudo isto. Ainda é tão díficil para mim encarar a situação. Então eu basicamente fui raptada. Por ti. Mas tu não o fizeste por tua vontade, fizeste-o porque foste obrigado. Fui raptada pelo homem que matou o meu pai. Porque raio matou ele o meu pai? E o que é que ele quer de mim? O que são estas pessoas á minha volta, hãn? O que é isto, Harry? O que é isto?!" - Queria desaparecer, queria dormir e nunca mais acordar, queria que tudo aquilo acabasse. "Aquilo" que eu não tinha a certeza o que era. Estava ali ainda não faziam 24 horas e eu estava prestes a enlouquecer.

Harry manteve-se em silêncio durante uns minutos até que suspirou novamente e olhou para mim.

"-Eu conheço-te melhor do que tu pensas, Jane. Mas não te posso responder a essas perguntas. Não sei porque razão mataram o teu pai, nem sequer sei o porquê de te quererem aqui. Eles não me contam nada disso, toda essa informação é confidencial. É como se eu fosse um empregado. Faço o meu trabalho. Só isso."

"-Então o teu trabalho é raptar pessoas? É isso que me estás a querer dizer?" - Perguntei agressivamente, aborrecida com a sua escolha de palavras.

"-Porra, Jane! Eu não te posso responder, está bem? Senão acabamos ambos mortos e nenhum de nós quer isso." - Aquele Harry que estava comigo no quarto, parecia ser um Harry completamente diferente daquele que eu julgava ter conhecido. Não que este fosse muito mais simpático, mas era mais relaxado, não tinha um olhar cruel nem o sorriso malicioso no rosto, como se em poucos minutos pudesse mudar de personalidade. Talvez fosse essa a razão por não saber ao certo quem era.

"-Vamos morrer de qualquer das formas." - Afirmei, com ar de desdém.

"-Sim, de certo que vamos mas podemos viver durante mais algum tempo."

"-Não é isso." - Retorqui, brincando com os dedos dos pés, doridos. - "Vamos todos morrer, um dia. Quer seja amanhã, daqui a trinta, dez, dois anos. Portanto mais vale acabar com o sofrimento, não achas?" - A minha voz soava mais melancólica do que aquilo que desejava, mas naquele momento, já não me sentia capaz de ordenar o meu corpo a reagir fosse como fosse.

"-És uma rapariga com pensamentos muito obscuros." - Afirmara, esboçando um sorriso curvado num dos lados.

"-Já devias saber isso já que me conheces assim tão bem." - Disse, sarcasticamente. Vi-o revirar os olhos num ato de impaciência e surpreendentemente, senti uma estranha vontade de rir. "- Eu não sei nada sobre ti. Fala-me de ti." - O rapaz pareceu admirado com o meu pedido e sentou-se novamente ao meu lado.

"-Já te disse que não posso." - Respondeu, ajeitando o cabelo, encarando algo incerto.

"-Não me refiro ao teu trabalho, refiro-me a ti." - Dei por mim já sem forças, demasiado cansada, então encostei-me para trás, deitando-me por completo. Estava completamente desconfortável, e Harry pareceu notar nisso, porque rapidamente se levantou para arranjar uma almofada que se encontrava dentro de um armário, que só naquele momento eu reparara que existia, e colocou-a debaixo do meu pescoço, sentando-se novamente.