Guns - 31

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"-Enlouqueceste?" - Harry finalmente falou, depois de alguns minutos em silêncio. "-Não, Jane, nem pensar. Eu trouxe-te para aqui para te salvar, para ficares longe daqueles problemas, do meu problema. Não, não e não."

"-Não és tu que decides, Harry. Lamento." - Persisti, pois sabia que era o melhor que tinha a fazer.

"-Sabes que vais morrer, certo?" - Ele olhava para mim seriamente, querendo que eu mudasse de ideias.

"-Não tenho medo da Morte, Harry." - Disse, com um sorriso vitorioso no rosto. Harry abanou a cabeça e fechou os olhos por meros segundos.

"-Está bem, tu andaste a drogar-te, Jane Hudson? Tens sequer consciência do que estás a dizer?" - Ele gesticulava, irritado com a minha persistência.

"-Sim, tenho e quero fazer os tratamentos, quer tu concordes, quer não." - Ele virou costas e, zangado, atirou com uma moldura que estava em cima de um móvel para o chão, respirando fortemente a seguir. Por sorte esta não se tinha partido, mas Harry não voltou a pegá-la. "-Harry, por favor." - Implorei. Queria que ele me deixasse realizar os tratamentos, pois sabia que isso o iria ajudar, mesmo sabendo que poderia por um fim á minha vida.

"-Tens noção de quantas pessoas já morreram por minha causa? E em vão?" - Harry falava mais calmamente, magoado com as minhas palavras embora eu estivesse apenas a tentar ajudar. "-Não percebes que não vale a pena? Que provavelmente vais morrer e esta cura é apenas uma estupidez que Charles inventou? Não quero que sofras por mim, Jane." - Ele insistia em recusar a minha oferta e era nestes momentos que eu agradecia aos meus pais por me terem feito ser uma filha bastante teimosa.

"-Mesmo que não o faça por ti, tu próprio me disseste que haviam mais pessoas com esse problema. Se o facto de eu morrer significa que vai melhorar a vida de tanta gente, então porque não?" - Harry abanava a cabeça negativamente de forma repetitiva, achando aquilo que eu dizia completamente idiota.

"-És a única pessoa que tenho, Jane. Não me faças ter de perder-te." - Pedia, olhando para mim.

"-Desculpa, Harry." - Aproximei-me de si e deixei-lhe um leve beijo na bochecha, afastando-me logo de seguida. "- Mas a decisão está feita."

(...)

Harry andava de um lado para o outro, com as mãos atrás das costas e a encarar o chão, caminhando nervosamente enquanto eu estava á procura da minha mala que não encontrava em lado nenhum.

"-Harry, vais gastar o chão." - Ri-me, levantando as almofadas do sofá, á espera que a minha mala estivesse algures por ali. "-Por acaso não viste a minha ma-" - Um som vindo detrás de mim soou, e eu olhei para trás, encarando Charles e outros dois homens que agarravam Harry pelo pescoço. Soltei um grito quando vi o seu olhar de pânico, e senti as minhas pernas começarem a tremer.

"-Ora, ora, quem é ela?" - Comentou Charles, dando um passo na minha direção. Recuei, com medo que ele me tocasse e tive vontade de vomitar só de olhar para a sua cara.

"-O que é que vocês querem?" - A minha voz tremia, falhava constantemente e não podia evitar olhar para Harry, encostado contra a parede por dois homens desconhecidos.

"-Minha querida, tu sabes bem o que quero." - Charles falava como se cuspisse as palavras, com uma pequena bengala na mão para o ajudar a caminhar enquanto se aproximava de mim. Não me podia afastar mais pois tinha batido com as costas na parede. Porém, Charles continuava a andar na minha direção. Harry grunhiu, ainda segurado pelos dois homens, quando viu Charles tocar-me no cabelo, passando as suas mãos pelo meu rosto até aos meus ombros. Não havia maneira de me manifestar, pois estava enojada, petrificada a olhar para o que acontecia sem saber como reagir e com medo do que ele me pudesse fazer. Não evitei cuspir-lhe quando a sua mão se enfiou por debaixo da minha camisola, e ofendido, Charles moveu rapidamente a sua mão até ao bolso das calças e retirou, de forma rápida e eficaz, uma pistola, a qual ele apontou para a minha cabeça, com uma expressão zangada no rosto. Harry grunhia, lutava contra os homens que o agarravam, muito mais fortes do que ele.

"-Não vais fazer isso, Charles." - Garanti, com a minha voz a falhar em certas alturas e o meu coração quase a explodir.

"-Ai não? E como é que tens tanta certeza?" - Perguntou ele, carregando a arma, pronto para premir o gatilho. "-O teu pai também tentou acabar comigo, deu luta, e olha o que ganhou com isso." - Era impossível controlar-me com o que dissera, então, pegando em toda a coragem e firmeza que me restava, dei-lhe um pontapé no meio das pernas, o que o fez arquejar de dor e largar a bengala, a qual eu apanhei e lhe acertei em cheio na cabeça, fazendo-o desiquilibrar-se. Peguei na pistola, e quando um dos homens que outrora agarrara Harry começou a correr até mim, apontei-a para a sua cabeça. Com a minha mão a estremecer nervosamente e uma vontade de gritar a surgir na minha garganta, apontei a pistola para o lado lateral da minha cabeça, ao contrário do que todos pensavam, ameaçando premir o gatilho.

"-Vocês precisam de mim, certo?" - Só me dei conta das lágrimas que escorriam dos meus olhos quando estas pingaram a minha camisola, escorrendo pelas minhas bochechas. "-Vocês precisam de mim para realizar os tratamentos." - O homem estava agora imóvel, a olhar atentamente para cada gesto que eu realizava. "-Precisam de mim para vos salvar a todos. Eu sou a vossa cura." - Harry olhava-me, perplexo com o que estava a acontecer e sussurrava "Desculpa" para que eu lesse os seus lábios. "-Então para quê matar-me?" - Continuei, reparando na expressão incrédula de Charles. Ouviu-se um estrondo, a porta abriu-se e as atenções centraram-se na pessoa que ali entrara. De fato e gravata, o homem segurava uma arma entre as mãos e tinha um sorriso curvado esboçado no rosto. O seu cabelo era castanho, os seus olhos azuis-claro e caminhava pela sala, olhando para tudo á sua volta. Toda a gente estava em silêncio e percebi que nenhum de nós o conhecia, devido aos olhares surpresos e curiosos.

"-Ora, vamos lá parar com esta brincadeira." - Finalmente falou, ainda com a arma na mão. Charles grunhia debaixo da sua respiração, com a boca a formar um "O", não acreditanto naquilo que via.

"-Mas como é que...Como é possível? Tu estavas morto, eu matei-te.." - Charles resmungava, com os olhos esbugalhados. Não percebia o que estava a acontecer, nem quem era aquela pessoa, e Harry continuava a olhar-me, fazendo perguntas com os olhos. O homem despiu o casaco e arregaçou a manga da camisola até cima, mostrando uma cicatriz na parte interior do seu braço esquerdo.

"-Devias melhorar a pontaria, velhote." - Esboçou um sorriso brincalhão e recompôs as suas roupas. Num gesto rápido e sem perceber o que estava a acontecer, Harry escapou dos braços do homem que se distraira e colocara-se á minha frente, num gesto de proteção.

"-Quem és tu?" - Perguntei eu, olhando para o homem que ainda não havia parado de sorrir.

"-Eu, Jane?" - Estremeci quando chamou o meu nome. Como é que ele o sabia? "-Sou o teu pai."

E um tiro soou.

24 Days - H.S - AU - A REESCREVEROnde histórias criam vida. Descubra agora