Home Sweet Home - 7

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[Jane's POV]

Parecia ter sido propositado, ou até mesmo, no doce atrevimento da palavra: destinado. A luz que entrava pela janela naquele dia quente de inverno assemelhava-se àquela que nascera nos olhos da minha mãe após eu lhe ter contado a novidade. Não estava a pedir-lhe autorização, por muito estranho que parecesse. Ela agarrara nos meus ombros com as curvas genuínas de um sorriso que eu não via há algum tempo e abraçara-me como se lhe tivesse dito que o meu casamento estava próximo. A sensibilidade da minha mãe tornara-a vulnerável o suficiente para que quando eu dissesse que íamos partir para outro continente ela nem sequer vacilasse. Eu sabia que ela se queria ir embora, por muitas memórias que restassem naquele cubículo a que eu chamara de casa. Talvez fossem por essas tais lembranças que a minha progenitora não se importasse totalmente de deixar para trás aquilo que era o seu lar.

Deixar o meu emprego tinha sido bastante fácil. Nunca gostara da minha patroa mas eu sabia que ela reconhecia o meu esforço apesar de não o demonstrar, e que ia ser difícil tanto para ela como para o estabelecimento, ficar sem uma empregada habituada àquele local e aos seus respetivos clientes. O meu último dia de trabalho tinha sido triste, mas não demasiado. A senhora Adams chorara, dissera algumas metáforas cujas eu não entendi e despedira-se de mim com um beijo rechonchudo.

Depois de alguns dias a tratar da papelada e a arrumar tudo aquilo que íamos levar, chegou finalmente a altura de começar um novo capítulo.

Louis esperava-nos juntamente com a sua irmã. Ela recebera-nos de uma forma inesperadamente entusiasmada enquanto Louis colocava as nossas malas na bagageira do táxi que nos levaria ao aeroporto.

-Já está tudo arrumado? – Questionou, sacudindo as mãos. Vestia uma camisola da banda Pink Floyd, uns jeans e calçava os seus Vans prediletos.

-Penso que sim. – Disse eu, esboçando um grande sorriso. Louis retribuiu e ajudou a minha mãe a entrar no carro. - Dás-me só um minuto? – Ele assentiu, virando costas e fechando o porta-bagagens.

Entrei de novo em casa. As paredes estavam despidas, unicamente brancas, sem quaisquer fotografias ou traços de presença. Os móveis, algo estragados, que enchiam a casa deixavam uma vaga sensação de perda. O canto da sala onde eu costumava fazer a árvore de Natal, tinha ficado somente com pó. Subi até ao meu quarto, onde a porta tinha sido deixada apenas com riscos de caneta e sem qualquer rasto de infância. O meu lar estava cheio de memórias, completadas com a minha mãe, no entanto estava vazio de algo que comprovasse a minha longa presença.

Lacrimejei, chorei, limpei o rosto e desci.

(...)

Despertei, assustada, com um abanão no ombro, percebendo mais tarde que já havíamos chegado ao nosso destino.

-Jane, acorda. - Ouvi os sussurros – demasiado barulhentos para serem considerados sussurros - de Louis no meu ouvido. Soltei um pequeno grunhido recostando-me de novo no assento do avião. Suspirou e agarrou-me fortemente, abanando-me. – Jane, acorda, o avião vai cair e vamos todos morrer! - Gritou. Sobressaltada, abri os olhos rapidamente e encarei Louis com uma expressão bastante aflita no rosto.

-Hãn? Rápido, dá-me aquele objeto estranho que as hospedeiras mostraram ao início da viagem. Ó meu Deus, ó meu Deus, ó meu Deus. - Gritei também, apertando mais o cinto contra mim. Ainda meio atordoada, procurei pela minha mãe, olhando para trás. Não estava qualquer passageiro no avião, apenas algumas hospedeiras a rirem-se ás gargalhadas e Louis a abanar a cabeça.

-Onde é que está toda a gente? - Perguntei, desapertando o cinto.

-Morreu toda a gente. As hospedeiras estão agora a retirar os restantes corpos do avião para depois poderem comê-los ao jantar. Legalizaram o canibalismo. Em Los Angeles é tudo muito estranho. - Louis riu, e, depois de lhe ter chamado uns valentes nomes e de ter soltado alguns palavrões, dei-lhe uma forte cacetada no braço, acabando assim por sair do avião e ignorar os olhares trocistas e humilhantes das hospedeiras de bordo.

24 Days - H.S - AU - A REESCREVEROnde histórias criam vida. Descubra agora